W.A.S.P.: inspiração em Mad Max 2 e Conan, o Bárbaro
Por Willba Dissidente
Fonte: Site oficial da banda
Postado em 26 de outubro de 2011
Em comemoração ao vindouro 30° aniversário do W.A.S.P., Blackie Lawless esta escrevendo mensalmente, no site oficial do grupo, estórias que juntas visam dar um panorama pormenorizado da trajetória da banda. Assim como a primeira parte, o texto a seguir foi traduzido por Willba Dissidente.
Confira abaixo a primeira parte:
W.A.S.P. "30 anos de trovão" - Parte 02.
"A aproximação Guerreiro da Estrada(*)"
O primeiro show no dia 21 foi OK, mas um pouco menos memorável do que nos gostaríamos. Ainda que Ace (Frehley) e Bill Aucoin tivessem sido convidados ao primeiro show e estivessem planejando vir a Los Angeles, eu os havia chamado duas semanas antes e os pedi para virem ao show do dia 28. Essa decisão foi acertada, pois não estávamos prontos. A banda tinha química, mas precisávamos de mais tempo juntos. Nós aprendemos muito com aquele primeiro show. Musicalmente nós não éramos ruins, mas para impressionar Ace e Bill seria necessário mais do que apresentamos naquele primeiro show. Faltava um gancho visual, algo que realmente ESPANTASSE as pessoas! Lembrem-se, nós estavamos tentando "atordoar" duas das pessoas que reinventaram o gênero "Além do limite/Shock Rock". Isso não era coisa pouca. Tentar mostrar algo morno, uma versão pobre do que eles já haviam feito, seria um desastre.
Havia um tipo experimental de teatro que eu ouvi dizer que foi tentando na Universidade da California de Los Angeles (UCLA) nos anos sessenta chamado "psychodrama". Ao vivo, o grupo de teatro progredia do palco para a audiência, por meio da improvisação. Muito disso era baseada em qual era a reação da audiência perante as performances. Supostamente dizem que Jim Morrison (THE DOORS) foi parte deste conjunto. Eu havia assistido o ALICE COOPER GROUP no começo de carreira, na turnê do "Love it to Death", em 1971 e aquilo me afetou pesado.
Enquanto uma banda, todos nós fomos tremendamente influenciados por dois novos filmes, que acabavam de estreiar: "Conan, o bárbaro" e "Mad Max 2: A Caçada Continua...". A idéia do Chris e eu usarmos calças sem o botão (com as nádegas de fora) veio do "Mad Max 2". Esse foi um filme impactante para mim. Você deve lembrar, muito do meu passado muscial (THE NEW YORK DOLLS, KILLER KANE) foi mais tarde chamado de Punk Rock. Pra mim, aquele ERA um filme punk rock! A imaginação visual do "Mad Max" foi espetacularmente capturada por um maravilhoso cinegrafista chamado Dean Semler. Eu amo seu trabalho. Mais tarde ele seria o diretor de fotografia em dois vídeos do W.A.S.P., "The Real Me" e "Forever Free". No dia seguinte as filmagens deste último clipe, ele foi fazer um "filminho" chamado "Dança com Lobos"; pelo qual ele ganhou um Oscar.
Já tinha uma cota que pensava no que aconteceria se uma banda colocasse o Heavy Metal junto ao Punk Rock. Realmente não me parecia muito a estender. Eu via muitas similaridades entre os dois, mais visualmente que musicalmente, não obstante a linha divisória musical ser embaçada por outros grupos posteriormente. Outra vez, muito de nossos primeiros sons tinham conotações punk. Sei que essa descrição toda que faço pode te parecer uma divagação sem sentido, mas isso é importante para você entender tudo que acontecia com a gente em período curtíssimo de tempo. Até a garota pelada no cabide de tortura, que viria a aparecer alguns shows para frente, era uma influência direta do filme "Mad Max 2". A cena de perseguição ao final do filme, em que duas pessoas encapuzadas são amarradas na frente do caminhão (**). A imagem daqueles dois seres humanos, completamente apavorados e indefesos, também me deixou uma impressão forte. Isso é terror de verdade para mim. Até hoje eu nunca assisti a um filme do "Jason" ou do "Freddie Kruger". Nunca me interessou por não ser realista. Eu sempre fui mais fascinado pelos funcionamentos internos da mente humana e aquela cena me bateu com força. Era uma imagem tão digna de pena e patética. O que fez toda idéia da "garota no cabide" funcionar a idéia que tinhamos uma mulher pelada no palco. Era o total desamparo (da moça molestada) na situação. Dava para você ver isso na cara das pessoas quando fazíamos o número no palco. Elas ficavam ESPANTADAS! Isso foi criado para ser mais psicológico que chocante e eis a razão de funcionar. Simplesmente chocar apelativamente me entediava e ainda acho chato.
Voltemos ao show do dia 28. A idéia do "psychodrama" me levou ao arremeço de "carne crua (na platéia)". Era hediondo, era grosseiro, era tosco e era perfeito. Mais tarde eu disse que era como "se a ir a uma partida de baseball, você tivesse que prestar atenção para não ser acertado por uma bola emporcalhada". Era pegar o que havia no palco e jogar na platéia. Ainda que alguém tenha dito que via dessa forma, era incrivelmente juvenil. Enfim, se você estivesse lá e visse a cena, era apavorante. Primeiro de tudo, quando você vai a um show ao vivo há uma barreira invisível entre o público e banda. Se você esta no lado da platéia, você esta a salvo, nada pode te acontecer, você é basicamente invisível. NÃO NESTE SHOW! A carne crua DESTRUIA aquela barreira invisível! Banda de rock alguma havia quebrado aquela linha imaginária desse jeito. Agora, ninguém estava a salvo, ninguém sabia o que podia te atingir a seguir. Alguns shows depois as platéias ficaram muito grandes e isso era como atirar em peixes num barril; já que era muitas pessoas ninguém podia se mexer. Eu ia acertar uma pessoa e não havia nada fazer para fugir. Eu os olhava nos olhos e eles começavam a balançar a cabeça gritando frenéticamente "NÃO, POR FAVOR, NÃO!!". Agora isso criava mentalmente para todos na platéia um "desastre da batida de carro ao lado da estrada". Vocês assistiam isso em mórbida curiosidade ainda que não o desejassem fazer. Nunca houve machucados, pois eu acertava as pessoas com menos força do que fazia parecer, mas o espetáculo era intenso. Dai que eventualmente veio o "Beber Sangue". Nós colocávamos a carne crua na "Caixa de Carne Pobre" e uma noite durante um dos shows eu olhei embaixo da caixa após ter acertado a carne na audiência e reparei que havia sangue de verdade no fundo dela. Eu sempre amei improvisar no palco e me pareceu tão óbvio, então... garganta abaixo!! Nada melhor que um bom pequeno engano!! Outra marca registrada do W.A.S.P. nascia. Não por preparo, mas total improviso. Eis como um monte das mordaças de palco surgiam, algumas eram definitivamente planejadas, outras não. Sempre me surpreendeu que ninguém tenha notado a conexão da gente com os filmes "Conan, o Bárbaro" e "Mad Max 2". Foi uma dessas coisas que ficavámos esperando alguém nos prender por, mas que nunca aconteceu.
Ainda aquela noite do dia 28, após o show, tanto Ace quanto Bill vieram ao camarim e tudo foi ótimo. Nunca acabamos por trabalhar juntos por várias razões, mas sempre nos mantivemos amigos. Frequentemente eu imagino o que teria acontecido se nós tivessemos sido parceiros. Ambos possuiam entradas que nos seriam extremamente valiosas, mas nós tinhamos ainda muito o que progredir e avançar... e cara, nós crescemos... até virar um Monstro!!!!!
Mais mês que vêm!!!
B. L.
Notas do Tradutor:
(*) Ainda que conhecido no Brasil por "Mad Max 2 - A Caçada Continua...", o título original do segundo filme da trilogia Mad Max, do diretor australiano George Miller, é Road Warrior; que pode ser traduzido como "Guerreiro da Estrada".
(**) As pessoas com as cabeças cobertas com capuz, amarradas em frente ao carro, a que Lawless faz referência, podem ser vistas ao um minuto do vídeo a seguir:
W.A.S.P.: 30 anos de trovão
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