The Town 2025: Dia do Rock trouxe clássicos da música e ativismo político
Resenha - Bruce Dickinson, Green Day, Bad Religion, Iggy Pop (The Town, São Paulo, 07/09/2025)
Por Bianca Matz
Postado em 12 de setembro de 2025
Mais uma vez, o Autódromo de Interlagos sedia o The Town, reunindo grandes nomes da música nos dias 6, 7, 12, 13 e 14. E neste último domingo (7), conhecido como o "Dia do Rock", o lineup do festival consegue chamar a atenção desde as gerações mais novas às mais velhas, estando repleto de atrações muito esperadas pelo público em geral.
Fotos: Fernando Yokota
O evento possui divisão de palcos, em que os nomes permaneceram da edição anterior, porém a localização de alguns foi alterada. Começando pelos principais: Skyline com The Flight, Capital Inicial, Bruce Dickinson, Bad Religion e Green Day. E The One com Inocentes & Supla, CPM 22, PItty e Iggy Pop.
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Seguido dos outros dois palcos muito almejados, voltados aos talentos nacionais, sendo eles: Quebrada com Batalha da Aldeia – Superliga The Town, Punho de Mahin & MC Taya e Black Pantera. E Factory com The Mönic convida Raidol, Ready to be Hated, Karina Buhr e Tihuana.
Por volta das 13h no palco Factory, diferente do que podia esperar da banda The Mönic, a convidada Raidol entrou primeiro no palco e foi trazendo as suas letras, transmitindo feminilidade, referências locais, por tratar-se de uma banda pop amazônica do Pará; e citações às religiões de matriz africana, que frequentou durante sua vida.
Apesar do público tímido, isso não foi motivo para Raidol não entregar uma apresentação maravilhosa. Com ritmo dançante, sotaque nortista, tom melódico e sensualidade, a artista trouxe em seu setlist "Abre Caminhos", "Imensidão" e "Sereia".

Momentos mais tarde, o quarteto The Mönic sobe ao palco e presenteia o público com mais uma dose feminina de rock. Elas dançavam, interagiam com o público e performaram sucessos da banda como "Sabotagem", "Antes Tarde" e "Kamikaze". E ainda contou com a participação da artista não-binária Juvi em "TDA".
Assim como a proposta do gênero, a apresentação dos Inocentes & Supla foi intensamente ativista. Eles abriram o show com "Rotina" com o vocalista Clemente Nascimento disparando: "É do car**** estar com vocês!". Rapidamente o espaço foi tomado pelo público que sentava-se no chão, dançava e gritava de felicidade com a banda. Enquanto o solo é tocado, o vocalista pede aplausos ritmados aos fãs e grita novamente: "Chega de escala 6x1! Eu quero ouvir quem tem raiva!".

É dado a sequência de "Expresso do Oriente" e em "Garotos do Subúrbio", o vocalista questiona o motivo da ausência de mosh entre o público, que logo passa a surgir.Inclusive, ele comenta sobre a presença de um fã na multidão com uma bandeira da Palestina, clama pela liberdade da população e o reconhecimento do Estado.
Em seguida, em "Pátria Amada", o vocalista lembra o fato do dia do festival ser realizado durante o Dia da Independência e exclama: "Acho que os verdadeiros patriotas estão aqui!".
Já com a participação do Supla, o que já estava intenso, ficou mais evidente ainda com o decorrer da performance. Trajado com um sobretudo branco, ele traz ao seu repertório "São Paulo", "O charada brasileiro" e "Garota de Berlim". Além da guitarra, Supla toca trompete durante as suas canções, impressionando mais uma vez aos fãs.

Supla realizou uma porção de covers, com uma pitada especial de punk, trazendo clássicos da música internacional, assim como, teve o auxílio do vocal dos Inocentes. Dentre as faixas, foram cantadas: "As It Was", do Harry Styles; "Imagine", do John Lennon; "I Fought the Law", dos The Crickets; e Blitzkrieg Bop, dos Ramones.
Às 17h, no palco The One, o CPM 22 subiu aos palcos e reuniu um mar de fãs no local. A banda estava comemorando os 30 anos de legado, e como há de se esperar, impossível não serem responsáveis por fazer um verdadeiro karaokê ao ar livre, em que cantaram um hit atrás do outro, abrindo o setlist com "Regina Let’s Go" e "Garota da TV".
Durante sua apresentação, assim como outros artistas em diferentes momentos do dia, o vocalista Badauí mostrou que a voz do público tem força, e além de criticar a "PEC da Impunidade", todos os espectadores gritavam incessantemente por "sem anistia", devido ao episódio do julgamento contra o ex-presidente Bolsonaro. Outras músicas como "O mundo dá voltas", "Estranho no espelho" e "Um minuto para o fim do mundo" compuseram o setlist da banda.

Após muitas canções cantadas em uníssono, foi incluído um cover de "Meu Erro", de Os Paralamas do Sucesso; e após "Apostas & certezas", novamente o CPM 22 questiona a democracia encerrando seu repertório com "Desconfio".
No palco Skyline, o grupo Bad Religion acabou tendo que sair das suas férias antecipadamente para atender aos pedidos do festival que procurava um headline, já que Steve Jones, guitarrista dos Sex Pistols, não poderia comparecer devido a uma fratura em seu pulso. Logo, os californianos tomaram esse desafio e vieram ao Brasil, trazendo canções na primeira parte do show, como: "Recipe for Hate", "You Are (the Government)" e "New Dark Ages".


A banda não impressiona apenas com suas letras que são cantadas por todas as gerações presentes, desde a mais velha até a mais nova, como reflete o que performa com a realidade nacional, como se a banda previsse o que estava por vir nos anos seguintes. "Modern Man", "I Want to Conquer the World" e "Fuck Armageddon… This Is Hell" são provas de que o show foi um verdadeiro espetáculo, entregando uma curadoria feita a dedo da banda ao Brasil, por mais que foram pegos de surpresa.


O vocalista Greg Graffin esclarece sobre ter aceitado o convite e sobre o seu amor pelo nosso país: "É férias, mas um tipo diferente de férias!". Além disso, assim como visto anteriormente no festival, a banda percorreu o repertório inteiro, deixando claro sobre seus ideais políticos, cumprindo como uma verdadeira banda de punk rock, encerrando com "Infected", "Cease" e "American Jesus", com um pequeno trecho de "Hello There", do Cheap Trick.


Quando eram quase 22h, o público foi agraciado pela presença de Iggy Pop. Ele que não apenas impressionava pela sua desenvoltura e pela energia no palco, como também não sentia frio. Além de São Paulo ser atingido por uma frente fria repentina, tiveram alguns momentos de garoa fina, mas isso esteve longe de ser motivo para afugentar o "padrinho do punk" do festival.

No primeiro terço do show, ele trouxe clássicos como "T.V. Eye", "The Passenger" e "Lust for Life".


Não demorou muito para ele arrancar o colete do corpo, permanecendo o resto de sua apresentação sem camisa. Como parte de seu setlist, não podia faltar as canções de quando Iggy fez parte dos The Stooges, banda punk formada no final dos anos 60, podendo destacar "Death Trip", "I Wanna Be Your Dog", em que ele se jogou no chão; e "1970".


Ao todo, a performance durou uma hora e meia de puro punk, vindo diretamente da fonte, de um dos artistas mais influentes do gênero. Em que trouxe Nick Zinner, dos Yeah Yeah Yeahs, para compor a banda de apoio como guitarrista.

O show foi finalizado com "Some Weird Sun", "Funtime", canção feita com David Bowie, um dos seus maiores companheiros dentro da música; e "Louie Louie", um cover de Richard Berry & The Pharaohs, em que Iggy batia no peito enquanto performava.


Diferente do que alguns fãs acreditam, chego a duvidar que essa seja a última vez de Iggy no Brasil, pois é admirável a forma como ele é inquieto no palco, ainda é muito apaixonado pelo que faz.
Como o Iggy Pop foi um nome para representar as gerações mais maduras que estavam presentes no festival, o Green Day chega ao palco para simbolizar os fãs mais novos, demonstrando que os jovens não perderam o jeito para criticarem a política local.


Para homenagear bandas e grupos que deixaram seu legado, o trio estadunidense trouxe uma introdução com "Bohemian Rhapsody", do Queen; "Blitzkrieg Bop", do Ramones; em que o personagem Drunk Bunny surgiu no palco, transformando mais ainda em um momento nostálgico. E por último, uma faixa de abertura que continha elementos de "The Beautiful People", do Marilyn Manson; "A Marcha Imperial" e "We Will Rock You", novamente do grupo britânico Queen.


Em seu setlist, teve combos de canções que foram hits mundiais da banda pelo mundo, sendo um momento extremamente eletrizante, um verdadeiro turbilhão de emoções com: "Boulevard of Broken Dreams", "Basket Case", "21 Guns", que não foi cantada por inteiro, porém teve um solo. E claro, a atemporal "American Idiot" tanto pelo tema pertinente da letra, como também por ser uma música em que muitos fãs conheceram a banda.


Nesta última execução, a letra foi mudada, em que ora Billie Joe critica o lema da América, citando o "Make America Great Again" que Trump ainda se esforça para deixar o lema se popularizar. E ainda, o vocalista declarou um "Feliz Dia da Independência, Brasil", mostrando que ele está bem afiado em questões políticas do Brasil também.


E para quem achou que o trio parava por aí, estava muito enganado, pois houveram outros períodos com letras significativas. "Nós já estamos cheios desses bastardos fascistas!", grita Armstrong. E vimos esse ódio ser instaurado em "Holiday", em que o vocalista trocou "California" por "São Paulo". Houve críticas afiadas, tanto pelo governo do Estado, como pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

Em seguida, em "Know Your Enemy", uma fã sobe ao palco para cantar junto dos integrantes da banda e ainda teve a oportunidade de abraçar e beijar o rosto de Joe Armstrong, que demonstrou carinho pelo momento. E não podemos esquecer de "Hitchin’ a Ride", com um trecho de "Iron Man", do Black Sabbath.


A apresentação foi aquecendo ao público e, em nenhum momento, apagava aquele sentimento, o trio conseguiu subir um degrau por vez, conforme o tempo ia passando no festival. Em seu grand finale, como não podia faltar, "Wake Me Up When September Ends" começa. Com os fãs cantando alto, a canção resgata um momento memorável, principalmente ao Billie e ainda faz jus ao mês em que estamos.


Já em "Jesus of Suburbia", por ter um fã na plateia erguendo a bandeira da Palestina, aquele foi o instante perfeito em que o trio deixa claro que a canção fazia referência aos ocorridos desde a Ucrânia até o Oriente Médio.

O repertório da banda teve ainda "Bobby Sox", com direito a confetes verdes, sendo considerado um hino bissexual, trazendo uma pauta LGBTQIAP+ para o Dia do Rock. E foi finalizado com "Good Riddance (Time of Your Life)", em que os fãs gritavam "Olé".


O show de quase duas horas fechou com chave de ouro, deixando claro que o gênero punk está longe de morrer. Em que o ativismo permanece com sua bandeira viva e erguida, mesmo nos dias de hoje, em que temos lampejos de um passado que já vivemos. O Green Day, assim como os outros artistas presentes no dia, é relevante e suas letras precisam permanecer perpetuadas no imaginário coletivo.

O Dia do Rock, no festival The Town, foi certeiro na escolha dos nomes para o line up. Foi um evento que agradou a todos, reproduzindo muitas horas de músicas dos artistas preferidos das últimas gerações. O único ponto ruim é que o público criará altas expectativas para as próximas edições que estão por vir.
É praticamente injusto ter que se despedir do dia do festival e retornar à vida normal, em que nos contentamos com os fones de ouvido.









































The Town 2025
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