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Immolation: resenha do show em São Paulo

Resenha - Immolation (Fabrique, São Paulo, 29/04/2018)

Por Leonardo Daniel Tavares da Silva
Postado em 03 de maio de 2018

O domingo teve bons shows de rock para todos os gostos na capital paulista. Num canto estava o supergrupo ME FIRST AND THE GIMME GIMMES, que insere um sotaque punk nas covers que faz (com abertura da cearense ROCCA), no outro, o prog metal da PAIN OF SALVATION (cuja vinda ao país foi adiada no início do ano, mas não demorou a acontecer). Na Barra Funda, mais especificamente no Fabrique Club, um encontro imperdível de bandas do metal pesado representando o death metal norte-americano, o metal nordestino "y lo que nuestros hermanos de Bolívia hacen muy bien". Assim, optamos por ver a "disgracera" do IMMOLATION, MYSTIFIER e CORPORAL JIGSORE, uma produção da Tumba (que felizmente voltou à ativa). Confira abaixo como foram os shows.

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CORPORAL JIGSORE

Num primeiro momento você pode até pensar que a boliviana CORPORAL JIGSORE vai te surpreender por ser uma banda de um país hermano ou porque a baterista é uma garota, mas logo isso não se confirma, nem para o bem nem para o mal. Embora entre a terceira e quarta música a banda, cujo nome vem de uma canção do CARCASS, até insira uma batucada andina pré-gravada, o Death Metal que eles fazem não fica devendo em nada às boas bandas brasileiras ou às da Florida. E se você achava que a baterista Adriana Pinaya amaciasse alguma coisa, ledo engano. Engano de quem, talvez, não conheça bandas como a brasileira CRUCIFIXION BR (cujos tambores são também castigados com valentia por uma garota). Adriana é uma verdadeira britadeira evocando espíritos imundos com um ritmo matador e viradas violentíssimas. Rotten, o vocalista (nome verdadeiro: Luis Alpire) fez questão de dizer estar honrado por estar ali. E reconheceu fazermos todos parte da América do Sul unida pelo metal. "Unleashing The Pestilence" casa bem com "Manufacturing Apocalypse", com empolgante trabalho de bateria e solos muito bem feitos na guitarra. "La Via dei Serpenti" também cria um excelente clima antes de começar, com introdução gravada de violões. E os dois solos de guitarra fazem valer o show que, curto e baseado apenas no álbum "Unleashing The Pestilence", termina com a porrada "Dark Supremacy". É, sem dúvida, uma banda que será muito bem-vinda sempre que voltar ao Brasil. Vizinhos eles já são.

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MYSTIFIER

Os próximos da noite foram os blasfemos baianos do MYSTIFIER. A banda formada por Beelzeebubth (guitarra) Do'Urden (vocal, baixo e teclados) e WarMonger (bateria) é uma dos mais icónicos representantes do Black Metal brasileiro e não poderia entregar menos que um show arrasador (que até o João Gordo, dos RATOS DE PORÃO foi especialmente para ver). Sem nada a dever, nem ao menos parecer com os gélidos black metallers nórdicos, o trio mandou uma pequena coleção de clássicos, além de canções novas, que devem fazer parte de um trabalho vindouro. É impressionante como Do'Urden alterna do baixo para o teclado, chegando mesmo a tocar ambos ao mesmo tempo (em raros momentos, claro). Se as construções de teclado não são assim tão complexas, ainda temos que ressaltar que ele está fazendo tudo isso AO MESMO TEMPO. Seria preciso dois cérebros e quatro mãos para conseguir o mesmo que o vocalista, dono também de uma característica voz cavernosa, é capaz de fazer.

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Beelzeebubth, líder e fundador da banda, também faz papel de frontman, não só se movimentando por todo o palco como também se comunicando com o público. Antes do fim do show rolou até benzedeira, "Amém Satanás" e até ensaio de roda de pogo na platéia quando resolveram tocar uma mais rápida.

IMMOLATION

Mas a principal atração da noite ainda estava para chegar. O público não arredaria o pé do Fabrique sem ver a banda americana formada no final da década de 80 por Ross Dolan e Robert Vigna (hoje complementada por Steve Shalaty e por Alex Bouks). E como os caras lançaram no ano passado o potente "Atonement", já chegaram arregaçando com duas desse play, "The Distorting Light" e "When the Jackals Come", seguidas do primeiro clássico, que já quase chega na maioridade, "Father, You're Not a Father".

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Em show de Death Metal nunca há muito falatório. A comunicação entre público e banda é só baseada na violência. Na violência das canções e no quebra-quebra organizado das rodas de pogo. Em uma das poucas vezes em que falou diretamente ao público, antes de "Swarm of Terror", Ross Dolan, ironizou que o domingo era uma noite perfeita pra estar ali, mas pareceu sincero ao declarar que era muito bom estar de volta. Todo mundo acompanhou a canção com seus chifrinhos pra cima.

E algo que jamais pode deixar de ser mencionado quando se fala de IMMOLATION é da postura de palco do guitarrista Robert Vigna. Ora o sujeito, com cara e roupa de mafioso, balança a guitarra de forma muito particular, ora soca as cordas, ora incentiva os heys, heys, heys do público. Ele faz um show a parte. Seu colega de seis cordas, entretanto, toca de forma burocrática fazendo um contraponto à teatralidade de Vigna. Calma, o cara é novato ainda.

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Em meio aos clássicos de praticamente todos os discos o quarteto sempre insiria alguma do álbum mais recente, mas, em momento algum se via diminuição na empolgação do público, mesmo nas novas. O único ponto negativo foi não terem trazido nenhum merchandise. Com certeza haveriam fãs que gostariam de levá-lo pra casa.

E a principal pedrada da banda, obviamente a que lhe dá nome, fechou o show de forma absolutamente brutal. Longa para os padrões do Death, a canção do álbum de estreia não deixou pedra sobre pedra. E até mesmo com uma canção a mais do que o que eles tem tocado nos últimos shows, a apresentação passou rápida por ter sido tão boa.

É preciso também elogiar a organização da casa, a produção (tudo foi pontual e estava perfeito) e até a limpeza dos banheiros mesmo já com a noite terminando. Também é uma excelente notícia que a Tumba tenha voltado a produzir shows underground, satisfazendo a ânsia dos headbangers por atrações de peso. Esta noite de domingo, enfim, foi uma boa mostra do que nos espera no Setembro Negro. Que venha.

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Agradecimentos:

Tumba Produções, Luciano Piantonni e especialmente Alcides Burn, pela atenção e convite.

Setlists

CORPORAL JIGSORE

1. Infernal Domain
2. Salve Muerte
3. Bleeding Earth
4. Unleashing The Pestilence
5. Manufactured Apocalypse
6. La Via Dei Serpenti
7. Dark Supremacy

MYSTIFIER

1. Unspeakable Dementia (Utter Nonsense)
2. Give the Human Devil His Due
3. Osculum Obscenum
4. An Elizabethan Devil-Worshipper's Prayer Book
5. Aleister Crowley
6. The Realm of Antichristus
7. The True Story About the Doctor Faust's Pact With Mephistopheles
8. (nova canção)
9. Beelzebub

IMMOLATION

1. The Distorting Light
2. When the Jackals Come
3. Father, You're Not a Father
4. Swarm of Terror
5. Majesty and Decay
6. Once Ordained
7. Thrown to the Fire
8. Kingdom of Conspiracy
9. Destructive Currents
10. Into Everlasting Fire
11. Den of Thieves
12. Fostering the Divide
13. Immolation

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Sobre Leonardo Daniel Tavares da Silva

Daniel Tavares nasceu quando as melhores bandas estavam sobre a Terra (os anos 70), não sabe tocar nenhum instrumento (com exceção de batucar os dedos na mesa do computador ou os pés no chão) e nem sabe que a próxima nota depois do Dó é o Ré, mas é consumidor voraz de música desde quando o cão era menino. Quando adolescente, voltava a pé da escola, economizando o dinheiro para comprar fitas e gravar nelas os seus discos favoritos de metal. Aprendeu a falar inglês pra saber o que o Axl Rose dizia quando sua banda era boa. Gosta de falar dos discos que escuta e procura em seus textos apoiar a cena musical de Fortaleza, cidade onde mora. É apaixonado pela Sílvia Amora (com quem casou após levar fora dela por 13 anos) e pai do João Daniel, de 1 ano (que gosta de dormir ouvindo Iron Maiden).
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