The Who: uma espera de 50 anos que valeu cada centavo
Resenha - Who (São Paulo Trip, São Paulo, 21/09/2017)
Por Daniel Takata Gomes
Postado em 22 de setembro de 2017
Alguns dos poucos atos clássicos da história do rock que os brasileiros sentiam por ainda não terem presenciado eram Roger Daltrey girando seu microfone pelo cabo de forma alucinada e o braço giratório feito um moinho de Pete Townshend na guitarra que influenciou gerações.
Bem, agora os brazucas não precisam mais se lamentar. Se a espera foi longa por um show do The Who, a opinião é unâmine: a banda fez valer cada centavo em sua primeira apresentação por aqui, na primeira noite do São Paulo Trip, no Allianz Parque.
Após grandes performances de Alter Bridge e The Cult - o líder Ian Astbury fez questão de ressaltar o orgulho em tocar na mesma noite de seus ídolos de infância -, as luzes se apagaram e o The Who adentrou ao palco exatamente às 21:30, nem um minuto a mais nem a menos. Para a abertura do show, escolheram a abertura da carreira da banda, por assim dizer: I Can't Explain, do primeiro single sob o nome de The Who, de 1965.
A partir daí, uma sequência inigualável de petardos, de um nível que pouquíssimas bandas no mundo podem se gabar: The Seeker, Who Are You (que eventualmente é utilizada para abrir os shows), The Kids Are Alright, I Can See For Miles, My Generation... Pete Townshend, um setentão com o vigor de um garotão, reproduzia fielmente as frases clássicas de sua guitarra, ajudado por seu irmão Simon Townshend, e também assumia o papel de interlocutor da banda nas intervenções verbais com a plateia.
Behind Blue Eyes foi cantada em uníssono. You Better You Bet é uma espécie de Start Me Up do The Who: um hit da década de 80 que tirou todos do chão no estádio, que, apesar de não totalmente lotado - a pista estava cheia, mas havia clarões nas arquibancadas -, respondia exatamente como uma plateia que esperou uma vida inteira por aquele show. Uma catarse.
As famosas óperas rock não poderiam ficar de fora. De Quadrophenia, foram tocadas em sequência I'm One, The Rock e a belíssima balada Love, Reign O'er Me, com Roger Daltrey mostrando uma voz potente e sem ficar nada a dever para a gravação original de 1973. De Tommy, primeiro vieram Amazing Journey e o petardo instrumental Starks.
Falando em instrumental, não se pode deixar de louvar o papel de Zak Starkey na bateria. Sua herança é privilegiada: é filho de Ringo Starr e afilhado de Keith Moon, o antigo baterista da banda, a quem hoje ele substitiui. Starkey não deixa o nível cair em nenhum instante: é como se solasse o show inteiro em meio às canções em um ritmo alucinante. Moon, uma das lendas da história do instrumento, certamente estaria orgulhoso.
Seguiu-se a indefectível Pinball Wizard, um dos grandes momentos da noite, com See Me, Feel Me encerrando o medley de Tommy. Arrepios percorreram a massa em Baba O'Riley e no hino Won't Get Fooled Again, que geralmente são executadas no bis e encerram o show.
Mas não houve somente um bis, e sim dois: aos insistentes pedidos da plateia a banda voltou duas vezes, a primeira para tocar 5:15 e a segunda para Substitute. Ao ver que ninguém arredava pé, Pete Townshend implorou: "vão para casa, por favor!"
E acabou. Aqueles que estiveram presentes no Allianz Parque na história noite do dia 21 de setembro de 2017 tiveram a certeza que presenciaram um dos maiores espetáculos que já passaram pelos palcos brasileiros. A espera de mais de 50 anos foi plenamente compensada. Como já mencionou certa vez Pete Townshend, suas plateias hoje são formadas em parte por espectadores cujos pais sequer tinham nascido quando a banda iniciou as atividades.
E isso diz muito.
Setlist:
1. I Can't Explain
2. The Seeker
3. Who Are You
4. The Kids Are Alright
5. I Can See for Miles
6. My Generation
7. Bargain
8. Behind Blue Eyes
9. Join Together
10. You Better You Bet
11. I'm One
12. The Rock
13. Love, Reign O'er Me
14. Eminence Front
15. Amazing Journey
16. Sparks
17. Pinball Wizard
18. See Me, Feel Me
19. Baba O'Riley
20. Won't Get Fooled Again
Bis 1:
21. 5:15
Bis 2:
22. Substitute
Outras resenhas de Who (São Paulo Trip, São Paulo, 21/09/2017)
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps



Festival Sonic Temple anuncia 140 shows em 5 palcos para 2026
O primeiro tecladista estrela do rock nacional: "A Gloria Pires ficou encantada"
Axl Rose ouviu pedido de faixa "esquecida" no show de Floripa e contou história no microfone
O único guitarrista que, para Lindsey Buckingham, "ninguém sequer chega perto"
Nicko McBrain revela se vai tocar bateria no próximo álbum do Iron Maiden
O álbum "esquecido" do Iron Maiden nascido de um período sombrio de Steve Harris
Fabio Lione e Luca Turilli anunciam reunião no Rhapsody with Choir & Orchestra
Documentário de Paul McCartney, "Man on the Run" estreia no streaming em breve
Guns N' Roses homenageia seleção brasileira de 1970 em cartaz do show de São Paulo
O álbum do Rush que Geddy Lee disse ser "impossível de gostar"
A banda de rock clássico que mudou a vida de Eddie Vedder de vez; "alma, rebeldia, agressão"
A pior música do pior disco do Kiss, segundo o Heavy Consequence
Os 11 melhores discos de rock progressivo dos anos 1970, segundo a Loudwire
O disco de prog que Ian Anderson disse que ninguém igualou; "único e original"
Johnny Ramone: "Não era bom abrir o show do Black Sabbath"
O poderoso riff do Led escrito por John Paul Jones e que mudou a vida de Charles Gavin
B. B. King e o álbum de Rock que o saudoso bluesman considerava ter "mudado o mundo"

The Who: mais de 50 anos, um show que vai entrar para a história
Pete Townshend conta como (e por que) começou a quebrar guitarras no palco com o The Who
O baixista lendário que Paul McCartney nunca quis ser; correr por correr envelhece rápido
Geddy Lee elege o maior álbum de todos os tempos; "Grandes composições, grandes performances"
A maior banda ao vivo de todos os tempos, segundo Eddie Vedder do Pearl Jam
O dia em que John Bonham se escondeu de Keith Moon para não passar vergonha
Elton John escolhe os três maiores frontmen da história do rock
A banda que tocava música pesada antes do Purple, Sabbath e Zeppelin, conforme Ian Paice
Deicide e Kataklysm: invocando o próprio Satã no meio da pista



