Rolling Stones: Coxinha não atrapalhou o espetáculo em Sampa
Resenha - Rolling Stones (Morumbi, São Paulo, 27/02/2016)
Por Durr Campos
Postado em 01 de março de 2016
Fotos: Fernando Yokota
Eis que fui a um show dos Stones. Primeiro uma pequena estória ao caro leitor. Este que vos escreve cresceu em um ambiente onde ouvia-se muito esta banda, mas também The Beatles, os quais capturaram um pouco mais os ouvidos de um pirralho nascido no final dos anos 70, naqueles dias já colecionando alguns LPs de pop europeu. Dentre eles havia um solo do próprio Mick Jagger, "She's the Boss" [1985], cujo single 'Just Another Night' tocava diariamente em casa, mas - sei lá porquê - perdi o interesse no grupo principal dele. Minto, eu até ouvia de quando em vez o "Tattoo You" [1981], muito por conta de 'Start Me Up', porém havia ali ainda algo para mim. Enfim, passei bons anos naquele papo chato de que os 'rapazes' de Liverpool eram melhores, nada neste planeta poderia superar a dupla Lennon/ McCartney e quem amava um não poderia dedicar-se ao outro grupo. Felizmente me curei e pude estar ali para ver e ouvir aquilo tudo.
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Assim como no evento ocorrido dias antes, os Titãs abriram a noite, espertos, empunhando um repertório 'the greatest hits'. Resultado: plateia nas mãos do primeiro ao último acorde. Sente o drama: 'Lugar Nenhum', 'AA UU', 'Diversão', 'Flores', 'Sonífera Ilha', 'Comida' e 'Cabeça Dinossauro', assim, nesta ordem. Teve mais. À exceção da chata 'Marvin', tudo deu certo com 'Desordem', apontada por seu intérprete Sérgio Britto como uma canção tão atual que poderia ter sido composta semana passada [Nota do redator: Ela está no álbum "Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas", lançado em 1987]. Na real não só ela, porque 'Homem Primata', a sintomática 'Polícia' [Outra nota do redator: Encontrei o Andreas Kisser do Sepultura no backstage e bem que poderiam tê-lo chamado, ora bolas] e 'Bichos Escrotos' são igualmente contemporâneas liricamente e, temo, sempre serão. Encerraram com 'Aluga-se', versão bem legal de um dos tantos hinos de Raul Seixas, porém fiquei também com a lembrança de outra, mas do Ultraje a Rigor, e me odiei por isto. Culpa minha, não de Branco Mello, Paulo Miklos, Tony Bellotto e Britto. Os caras mandaram ver!
Por volta das 21h os telões laterais do imenso palco foram ligados para alertar o motivo de todos estarem ali. Era hora dos The Rolling Stones. 'Jumpin' Jack Flash' cuidou de garantir que estávamos mesmo diante de Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ronnie Wood. Olhei ao meu redor e não acreditava na imensidão de gente no Morumbi. Praticamente em cada cantinho do estádio havia um sorriso. Não tinha o número oficial de público até o fechado deste texto, mas chuto algo em torno de 60 mil. 'It's Only Rock 'n' Roll (Bur I Like It)', do homônimo lançado originalmente em 1974, foi uma boa escolha por sua pegada mais rock and roll, assim como 'Tumbling Dice', ali mais voltada ao estilo do gospel estadunidense. Aliás, que 'groove' sensacional ela apresenta. "Hoje é sábado. Vamos quebrar tudo! Cante um pouco comigo", disse Jagger em claríssimo português brasileiro. O filho Lucas deve ter ajudado :)
Em 'Out of Control' tivemos o vocalista aprontando das dele e dançado, literalmente, fora de controle. Esta foi inspirada em 'Papa Was a Rolling Stone', dos Temptations e faz parte de "Bridges To Babylon" [1997], tendo sido um dos singles retirados de lá. E lá veio mais falas na língua local: "Quem torce pro São Paulo? E Corinthians? Palmeiras? E Santos? Esta é a primeira vez que os 4 times estão juntos no Morumbi..." tudo em nosso idioma, sério! Interessante o setlist. Primeiro porque não repetiu o de quarta-feira, 24, mas também por ter sido montado visando o bem-estar dos integrantes dos Stones. Sei que é difícil aceitar, mas os caras já entraram na terceira idade faz algum tempo, são todos setentões, portanto necessitam de atenção especial e uma dinâmica em cena que os mantenha animados e dispostos o tempo todo. Tanto é que as três seguintes, isto é, 'All Down the Line', 'She's a Rainbow' (escolhida sob votação pelo público) e a belíssima 'Wild Horses' baixaram a euforia inicial e deu ao concerto uma 'vibe' mais intimista e, digamos, romântica.
Observe. Vieram então duas bem agitadas e queridas: 'Paint It Black', uma das coisas mais lindas já feitas pelos britânicos e outra bem legal, 'Honky Tonk Women', apesar de o melhor ter vindo logo após, quando Mick disse estar meio devagar por ter comido "um monte de coxinhas" naquela tarde, logicamente em português. Aproveitou e apresentou todos os integrantes, dando a cada um dos principais apelidos hilários. Ronnie foi chamado de 'Rogério Ceni do Rock' e Charlie de 'Rainha da Bossa Nova'. Eis que Keith Richards, último a ser chamado, chega junto, manda duas cantando e esbanja simpatia. Tanto 'Slipping Away' quanto 'Before They Make Me Run', apesar da distância de uma década entre elas, são composições que poderiam estar num mesmo álbum. Talvez o caro leitor não se lembre delas, mas posso garantir que o homem também faz bonito no microfone.
Vem 'Midnight Rambler', a fantástica 'Miss You' e me pego indagando sobre a tarefa realmente complicada para os Stones: Montar um repertório após tantos itens essenciais em sua discografia. Olha aí a trinca a seguir, 'Gimme Shelter' [dueto incrível entre Jagger e sua backing vocal Sasha Allen sob chuva], 'Start Me Up' [fogos de artifício anunciaram sua chegada] e 'Sympathy for the Devil' [nos telões pentagramas e cruzes invertidos, cramunhão e pegada mais 'from hell' que muita 'horda' do black metal]. Fala sério, não sei como conseguem chegar a um veredito. Ops! E ainda teve 'Brown Sugar' para ratificar minha suspeita.
Após uma retirada rápida, o 'encore'. A classuda 'You Can't Always Get What You Want' contou com a participação de um coral de São Paulo, salvo engano, de nome Sampa. Ficou bonito o conjunto da obra, mas era ela, '(I Can't Get No) Satisfaction', que a galera esperava antes de voltar para casa. Sim, eu sei, já a ouvimos tocar inúmeras vezes, mas ali era outra pegada. Estávamos na companhia deles. Não quero parecer pessimista, mas sabe-se lá quando [e se!] os veremos novamente no país, portanto a chance era aquela de dançar como se ninguém estivesse olhando. É provável que a gente mude um pouco quando vai a um show dos The Rolling Stones. Para melhor.
Agradecimento especial à T4F pelo credenciamento e atenção.
Set-list
Jumpin' Jack Flash
It's Only Rock 'n' Roll (But I Like It)
Tumbling Dice
Out of Control
All Down the Line
She's a Rainbow (by request)
Wild Horses
Paint It Black
Honky Tonk Women (followed by band introductions)
Slipping Away*
Before They Make Me Run*
(*Keith Richards on lead vocals)
Midnight Rambler
Miss You
Gimme Shelter
Start Me Up
Sympathy for the Devil
Brown Sugar
Encore:
You Can't Always Get What You Want
(with Sampa Coral)
(I Can't Get No) Satisfaction
Banda de apoio
Chuck Leavell – teclados/ vocais de apoio
Bernard Fowler – vocais de apoio/ percussão
Darryl Jones – vocais de apoio/ baixo
Tim Ries – sax e teclados
Matt Clifford – teclados e trumpete francês
Karl Denson – sax
Sasha Allen – vocais de apoio [arrasou em 'Gimme Shelter']
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