Kiss: eles ainda entregam muito, apesar do tempo passando
Resenha - Kiss (Arena Anhembi, São Paulo, 17/11/2012)
Por Eduardo dutecnic
Postado em 25 de novembro de 2012
O Viper fez um set curto, praticamente um "Greatest Hits" de Soldiers of Sunrise e Theatre Of Fate, ainda como parte da "To Live Again Tour" e aproveitando pra promover o seu derradeiro show com esta formação com Andre Matos, dia 2 de dezembro no Via Marquês.
O show começou com Knights Of Destruction, faixa que abre o Soldiers Of Sunrise e o que veio em seguida foram só clássicos atrás de clássicos com To Live Again, Prelude To Oblivion e a Cry From The Edge. Living For The Night, em uma versão menor do que vimos nos shows "solo" do Viper nesta tour, veio para fechar a dobradinha Soldier/Theatre, com grande participação da galera, principalmente dos que se encontravam mais próximos ao palco. Rebel Maniac, com a plateia caprichando no "everybody, everybody…" e novamente o cover acelerado de ‘We Will Rock You’ do Queen encerraram esta rápida porém eficiente apresentação da banda em sua cidade-natal.
Muito legal o Viper ter tido a oportunidade de abrir para o Kiss em São Paulo (e no Rio também, no dia seguinte). Os desgastes da tour ficaram mais claros nesta noite, com a voz do Andre dando algumas falhadas com o passar da meia hora de show mas, mesmo assim, uma apresentação legal, com o som bem alto e com ótima aceitação dos presentes desta banda que é um dos ícones do metal nacional.
Kiss
Há basicamente duas linhas de eu escrever sobre o show. Uma delas é considerando apenas a questão geral da diversão, por uma ótica que normalmente quem vê a banda pela primeira vez ao-vivo fica (e fica deslumbrado mesmo, não tem jeito – ainda mais que grande parte do público presente era jovem), falar das explosões e toda a pirotecnia que poucas bandas trazem ao país, de como vale assistir a um show deles em relação ao dinheiro pago (porque a banda realmente entrega valor), a mágica que é ver esta banda ao-vivo e tudo mais. A outra linha é a musical apenas e, tentando ter o cuidado de manter em vista a idade avançada dos músicos em consideração, é ver também que a coisa anda ladeira abaixo e está previsível como nunca. Tentarei fazer um mix destas linhas pois, pelo menos para mim, a música é sempre prioridade ao-vivo.
O Kiss entrou pontualmente no palco, as 21h30, com sua triunfal abertura para cerca de 25.000 presentes. A abertura de um show deles é de deixar até artistas que prezam mais pelo visual e fazem playback no palco, muitos deles encontrados no estilo pop, comendo poeira mesmo. As músicas são setentistas, com Detroit Rock City, com aquele tempinho a mais em seu início para a banda poder "pousar" no solo do palco, seguida de Shout It Out Load, ambas do Destroyer. Infelizmente, o volume do som caiu e muito em relação ao Viper e assim ficou por todo o show.
E vou logo aqui, para tentar não ser muito repetitivo também, falar como é triste ver a situação do vocal de Stanley. Creio que não conheço UMA pessoa que curta rock and roll que não goste da voz deste cara que encantou por décadas a todos nós. Todos nós amamos! E, infelizmente, a voz dele realmente acabou ao-vivo. Tem a questão da idade que DEVE ser considerada SEMPRE, tem a questão da cirurgia e tudo mais… mas é impossível não citar esta questão. É mais triste ainda porque ele tenta, por muitas vezes, ser o Stanley que todos nos acostumamos a ver, mas é nítido como ele mal chega perto e agora se segura, com a banda estrategicamente o suportando cada vez mais. Que fique claro aqui que isso é um adendo estritamente musical, pois com essa "deficiência", é claro que as músicas da banda perdem muito. E, nesta noite, até Gene estava um pouquinho rouco.
Voltando ao show, Stanley cumprimenta o público, pergunta sobre termos uma "rock and roll party", fala que foram para Argentina e Chile mas que nós somos "number 1? (com aquela vaia tradicional para os países da América do Sul) e a banda segue com Calling Dr. Love, para Gene assumir também o microfone e mostrar ainda mais sua incrível presença de palco. Após os clássicos, a banda então traz uma dobradinha do recém-lançado álbum Monster: Hell Or Hallelujah, que funciona muito bem ao-vivo – é uma boa música, bem encaixadinha, uma ótima opção de single, inclusive (e quem não conhecia a música, logo já aprendeu ali mesmo o grudento refrão para cantar) e Wall Of Sound que, apesar de não ter virado single do disco, segue as mesmas características da primeira, em minha opinião.
Hora de voltar aos anos 70 com Hotter Than Hell – e a banda, que tirou Firehouse do set, aproveitou para usar a tradicional sirene para apagar o fogo nesta hora mesmo, com Gene fazendo seu número de cuspir fogo. Stanley então anuncia que era hora de fazer algo do Creatures Of The Night, meu predileto, e a banda emenda o clássico I Love It Loud e seu "WHIPLASH, HEAVY METAL ACCIDENT…". Uma delícia.
A banda então traz a última do Monster na noite, Outta This World, com Stanley apresentando Tommy e este assumindo os vocais com bastante competência. Eric também tem seu momento de diversão visual com um "bazuca". O momento para os 2 não-originais da banda continua, com um solo meio estranho e sem sentido, calcado em blues, de Tommy com Eric acompanhando na batera e o guitarrista suspenso na plataforma atirando com sua guitarra ao final. E aí é hora do clássico cuspir fogo de Simmons para que ele pudesse também ser suspenso e o Destroyer voltasse com a excepcional e pesada God Of Thunder, com uma animação bem legal nos telões.
Paul chama a "Kiss Army" e anuncia que trariam uma música de um disco de 1998 e traz a faixa-título Psycho Circus, para minha enorme alegria de poder voltar àquela noite de 1999, com o show deles em Interlagos (e todo o frio que passei na saída do show). Deu para notar também que o público delirou com a inclusão da faixa, já que muitos ali presentes cresceram nesta época e tiveram este disco do Kiss como algo marcante. Só não entendi se Stanley errou a letra do início da música ou se foi algo proposital – ele inverteu o "Here I am! Here we are! We are one", cantando "Here we are! Here I am! We are one!". De resto, a música foi uma ótima pedida mesmo, um momento legal do show, apesar da roquidão de Stanley estar cada vez mais evidente.
Aí veio o grande momento do show para mim e para o Rolf, que foi o retorno do Creatures Of The Night, mas com War Machine. Infelizmente a galera próxima mal conhecia a música – e fica a dica para a galera ir atrás deste maravilhoso som. Para mim, o ponto mais alto do show, até pela questão de não ser uma música sempre tocada pela banda e, mesmo assim, ser uma das minha prediletas de lendária discografia. E alguns vão lembrar dos shows de 1983 da banda pelo país (aqui e aqui).
A partir daí, o Kiss liberou de vez clássico após clássico. Era hora de Paul voar para Love Gun e a gente viajar para 1977, em outro momento sempre muito especial, ainda que ele tenha se poupado bastante no vocal da música. Mesmo sendo algo repetido há tantas décadas, é de se admirar o sincronismo de tudo nesta música, com as esperadas explosões ao final.
Paul então repete a brincadeira que vimos no show de 2009 e toca o início de Black Diamond, música do fantástico primeiro disco da banda, com um globo dando um clima bem legal, e colocando a intro de Stairway To Heaven e fazendo a brincadeira de sempre, se a galera queria ouvir uma música do Kiss e tudo mais. O vocal então é assumido por Eric e sua "elevada" bateria para uma ótima performance geral do quarteto antes do retorno para o bis.
A banda volta ao palco com Stanley dizendo que é uma honra estar tocando para a gente e pergunta se gostaríamos de ver a banda no futuro, para então trazer Lick It Up, música do período que ficou marcado pelo Kiss removendo as maquiagens em uma forte tentativa que a banda tinha para recuperar o sucesso do início de carreira. A música é acompanhada por todos, principalmente em seu refrão, ainda que a galera tenha demorado a bater palmas, algo muito tradicional neste música. Ela ainda teve um rápido trechinho de Won’t Get Fooled Again, do The Who.
A banda vai se despedindo com I Was Made For Lovin’ You, com Stanley achando uma das câmeras que transmitia ao-vivo o show e se esforçando bastante na parte do "can’t get enough", não comprometendo. Por fim, Rock And Roll All Nite em clima total de festa, claro, com Gene assumindo os vocais pela última vez na noite com a tradicional chuva de papéis picados pela pista e palco. Sempre um grande momento para se celebrar o rock and roll e a mágica da banda após um pouco mais de 1h30 de show. Uma linda queima de fogos finaliza a noite seguida do playback de God Gave Rock ‘N’ Roll To You II para o público poder continuar a cantoria enquanto deixava o estacionamento do Anhembi.
É de se tirar o chapéu para o repertório da banda, pois eles trouxeram clássicos após clássicos e estrategicamente colocaram músicas do novo disco em momentos oportunos. Foi estranho não ver a banda tocando Deuce, ou Strutter, mas compreensível. A maior lamentação musical fica por conta mesmo do vocal de Stanley, mas há de se dar todos os descontos do mundo. Dói falar, mas infelizmente temos que nos acostumar com a realidade que o tempo está passando. Mas que eles ainda entregam – e muito.
Valeu, Kiss. É o de sempre – e o de sempre que tanto amamos. Não é?
Para conferir o vídeo completo do show do Kiss, algumas fotos (inclusive do ingresso), os setlists e links permeando toda a discografia da banda, acesse a matéria original no Minuto HM.
http://minutohm.com/2012/11/18/cobertura-minuto-hm-kiss-e-viper-em-sp-parte-2-resenha/
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