Em 16/01/1993: o Nirvana fazia um show catastrófico no Brasil
Resenha - Nirvana (Hollywood Rock, São Paulo, 16/01/1993)
Por Crysthian Gonçalves
Fonte: Guitar Talks
Postado em 16 de janeiro de 2013
"A primeira vez realmente a gente nunca esquece." Frase clichê, porém resume todo o sentimento e expectativa que geraram quando foi anunciado em novembro de 1992 que o Nirvana viria ao Brasil pela primeira vez para tocar no extinto festival Hollywood Rock, no dia 16 de janeiro de 1993 em São Paulo, e uma semana depois no Rio de Janeiro, vinte anos atrás.
O Nirvana estava no seu auge com o disco "Nevermind" e, consequentemente, Kurt Cobain já não batia muito bem das ideias. O Festival reuniu a nata da música alternativa naquele momento, com o Alice in Chains e Red Hot Chili Peppers na primeira noite, Nirvana e a banda feminina L7, que até então era uma surpresa para o público, e o Simply Red na terceira e última noite. Os fãs do Nirvana estavam na expectativa de um show apoteótico e inesquecível, e de fato, de certa forma receberam isso.
A apresentação, que por muitos é retratada como um show de horrores e a pior da banda, ficou marcada pelo descontentamento do grupo e a impressão de que passavam ao público de que não queriam estar ali. Um Kurt Cobain, mais alterado que o normal, abriu o show sem nenhum momento de simpatia com a plateia que aguardou intensamente pela apresentação no Morumbi. O vocalista começou o espetáculo da pior forma possível, já alertando que o que viria por vir naquela noite poderia não agradar a todos.
A forma lenta com que foi tocada a faixa "School" e as outras seguintes alertou que seria uma apresentação imprevisível. Dentre as decepções; instrumentos desafinados, surtos de Cobain, improvisações sem nexo vistas pelo público e covers mal executados. E nem a participação de Flea em "Smell Like Teen’s Spirit", substituindo o aclamado solo de guitarra por um solo de trompete serviu para impressionar. O descontentamento com o show era visível e antes que terminasse o público já ensaiava algumas vaias e se dirigia para os portões de saída rumo a suas casas.
Segundo João Gordo, vocalista do Ratos de Porão, que anunciou a banda como "A melhor banda underground do mundo", antes que subissem ao palco, a culpa por aquela noite catastrófica foi dele. "Eles estavam de saco cheio da vida, dos 20 milhões de dólares que tinham ganhado, estavam odiando tudo, aquele auê e a bajulação em cima deles. E aí falamos para eles que aquele era um festival capitalista, de uma marca de cigarro, e aí eles começaram a zoeira. Se o show foi uma bosta, foi por minha culpa e dos meus amigos", disse ao portal UOL.
No show seguinte, no Sambódromo do Rio de Janeiro, a banda pareceu soar um pouco mais coesa quanto à execução das músicas. Mas Kurt agiu de forma depravada ao cuspir nas câmeras da TV Globo que transmitia o evento ao vivo, simular masturbação e tentou destruir os equipamentos do palco. Algumas cenas da apresentação podem ser vistas no documentário "Live! Tonight! Sold Out!!"
Para muitos, a vinda do Nirvana ao Brasil foi uma decepção. Para outros, foi o retrato mais real que se podia esperar do trio ao vivo. Afinal, é disso que o rock é feito. Rebeldia, irreverência. Foram noites imprevisíveis que ficaram para a história.
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