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Kiss: um espetáculo único em São Paulo

Resenha - Kiss (Arena Anhembi, São Paulo, 17/11/2012)

Por Fernando Araújo Del Lama
Postado em 29 de novembro de 2012

Após uma sequência de dias chuvosos em São Paulo, rezava-se aos "deuses do rock" para que, ao menos naquela noite, não chovesse. Basta lembrar o que aconteceu no show do Ozzy no ano passado! Crianças – algumas bastante pequenas –, jovens, homens, mulheres, tiozões podiam ser vistos na plateia, com uma parte considerável da galera com máscaras, semelhantes às utilizadas pelos músicos, pintadas nos rostos – algumas, de nível profissional, outras, com guache mesmo. Fico imaginando o quanto estas últimas máscaras devem ter coçado ao longo do show! Porém, tenho certeza que, comparada a ver o Kiss em ação, essa coceira provavelmente não significava muita coisa. A atmosfera daquele "estacionamento onde montam um palco e vendem ingressos" estava repleta de expectativa para ver a banda capitaneada por Paul "The Starchild" Stanley e por Gene "The Demon" Simmons – diga-se de passagem, os sexagenários mais garotões do Rock!

Kiss - Mais Novidades

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VIPER

E ficou sob a responsabilidade de uma das bandas pioneiras no metal tupiniquim, Viper, aquecer os ouvidos da galera. O anúncio do Viper como banda de abertura, feito apenas no meio da semana, me deixou bastante contente, uma vez que não pude vê-los – e provavelmente também não consigo vê-los no último show – em sua turnê comemorativa aos 25 anos de seu primeiro álbum, "Soldiers of Sunrise".

Como o tempo era curto, a banda fez uma espécie de "apanhadão" de seus principais sucessos. O som estava bom e os músicos extremamente felizes por estarem abrindo para o Kiss – em especial Pit Passarell! Com seu "metal moleque", a música que abriu o show foi "Knights of Destruction", a única do primeiro álbum da banda; as quatro seguintes, a saber, "To Live Again", "Prelude to Oblivion", "A Cry from the Edge" e a pseudobalada "Living for the Night" – minha favorita! – pertencem ao segundo álbum da banda "Theatre of Fate". Destaque, nas duas últimas, para a interpretação de André Matos – a grande e eterna voz do metal nacional – que se aperfeiçoa a cada dia que passa. Para finalizar, eles tocaram "Rebel Maniac", de "Evolution", única música da fase posterior à saída de André Matos da banda, porém indispensável num set mais livre dos shows da banda graças a seu grudento "everybody, everybody" no refrão, além de uma releitura tendendo para o metal "We Will Rock You", do Queen.

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Uma bela apresentação do Viper! Mas, ainda sim, eu preferiria que o Dr. Sin – em minha opinião, a melhor banda brasileira, além de se aproximar mais do Kiss em termos musicais –, de modo semelhante a 2009, tivesse aberto o show; pena que eles estavam no sul do país, inclusive com show marcado neste mesmo dia.

KISS

Para o Kiss – ou seria melhor Ki$$? –, a música é tratada como negócio; para não decepcionar seus "clientes", pontualmente às 21h30, as luzes se abaixaram e a música ambiente parou de soar. Nos telões, foram exibidas imagens dos músicos no backstage; alguns segundos de silêncio – e muita expectativa – antes do já tradicional locutor poder anunciar a grande atração da noite: e com o slogan: "You wanted the best, you got the best! The hottest band in the world: Kiss!", deu-se início ao espetáculo. Ao cair da bandeira que separava o público do palco, as primeiras notas do riff de "Detroit Rock City" são tocadas por Paul, Gene e Tommy, que descem em uma plataforma até o centro do palco. A partir da primeira música, já foi possível vislumbrar a grandiosidade do espetáculo de luzes e efeitos especiais: destaque para as viradas da bateria de Eric, que estavam sincronizadas com uma série de labaredas de fogo ao fundo do palco.

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Em seguida, emendaram com "Shout It Out Loud", com o refrão cantado em uníssono pelos presentes. Após esta, Paul conversou um pouco conosco, e cativou-nos ao dizer que eles estiveram na Argentina, no Chile, mas São Paulo é a número um. A voz do Starchild, é verdade, não é mais a mesma; ora, depois de quase quatro décadas de "esgoelação", não há voz que aguente. Todavia, ele é um cara engraçado: sua voz falhou em vários momentos, porém não tanto durante a execução das músicas – enquanto sua voz é mais exigida – quanto nos momentos em que conversava com o público! Se bem que Paul é daqueles que "falam cantando"... Talvez a causa desse esforço todo em evitar que o nível do espetáculo caia remonte à preocupação do Kiss com seus fãs e com o espetáculo a ser proporcionado a eles. Mas que o tempo, de fato, não foi amistoso com a voz de Paul, isso ele não foi!

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Paul anunciou e Gene assumiu, então, o centro do palco para cantar "Calling Dr. Love". Enquanto Paul dançava de costas para nós, o carismático Gene cantava com uma voz em certa medida cômica e repleta de malícia; é brilhante como ele, empunhando seu baixo, com um simples apontar de dedo para um de nós e a língua para fora, exerce uma autoridade inquestionável sobre os fãs presentes. Ele é, com efeito, um dos maiores "entertainers" da atualidade! Após esta, um "obrigado" e o anuncio da próxima, aquela que talvez seja a melhor música do Kiss nos últimos anos, o "recém-clássico" e primeiro single de "Monster", o mais recente disco, "Hell or Hallelujah", com o fundo "em chamas" durante toda a execução, seguida de "Wall of Sound", também do novo disco, com Gene nos vocais. Sem intervalo, já emendaram com "Hotter Than Hell", com o palco novamente "em chamas" e com o refrão "afiado" por parte do público. Ao fim desta, ao som de sirenes iguais as dos bombeiros e com a luz mais baixa, Gene pega uma espada em chamas e "cospe fogo", levando todos ao delírio!

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Paul anuncia, então, uma de "Creatures of the Night" – e uma de minhas favorita do Kiss –, "I Love It Loud", com seu coro inicial sendo puxado por toda a banda, com Paul se jogando no chão durante a execução da música e com atuação inspirada de Eric. Depois desta, Paul diz que Tommy quer cantar uma e pergunta se pode ouvir um pequeno "Tommy", respondida não com um pequeno mas com um enorme coro clamando por Tommy. Após algumas brincadeiras, Paul anuncia a próxima "Outta This World", a terceira de "Monster". É verdade que a voz de Tommy não é tão marcante como as de Paul ou de Gene, mas essa música casa perfeitamente com o timbre de sua voz. O fundo do palco, desta vez, foi tomado por imagens de astros vagando pelo espaço.

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Depois do lança-chamas do Demon, era a hora de Tommy e Eric fazerem suas graças individuas. Após uma animada "jam", com Tommy lançando mão de toda a extensão do braço da guitarra e Eric usando e abusando de viradas, o segundo Spaceman disparou alguns fogos com seu instrumento; plataformas elevaram os músicos para a pirotecnia continuar em grande estilo. O segundo Catman interagiu um pouco conosco e empunhou uma bazuca de fogos e atirou. Minha namorada disse-me que Eric estava meio ruim de pontaria naquela noite, já que acertou um dos jogos de luzes, que segundo ela, ficou pendurado e caiu em seguida; dado o estado de frenesi do público, não consegui ver essa cena. Continuando com as "kissclusividades" de um show dos mascarados, Gene assumiu o centro para a já tradicional "babada de sangue", acompanhada de um solo com seu baixo em forma de machado. Cabos presos em suas costas o ergueram até uma plataforma suspensa no centro do palco; o irreverente Gene brincou um pouco com o público, entoando um "olêolêolêolê" e perguntando – em bom português – se estava tudo bem, antes de a banda executar "God of Thunder". Com Gene de volta ao palco, Paul anuncia "Psycho Circus", em bela execução e com o refrão cantado em uníssono por todos. "War Machine", a próxima do repertório, foi acompanhada de uma bonita animação com soldadinhos com máscaras iguais às dos músicos e com um dragão, com a máscara de Gene, que incendiava tudo cuspindo fogo.

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Paul, então, se declara para o público de São Paulo, dizendo que ali se sente em casa e que, embora ame outros locais, seu coração está em São Paulo. Ao som da introdução de "Love Gun", Paul sobrevoa o público em direção a uma plataforma localizada em meio ao público; após cantá-la de forma inspirada, ele retorna ao palco, para uma queima de fogos. Em meio a um breve solo, Paul ela começou a dedilhar a introdução de "Stairway to Heaven", do Led Zeppelin; após interrompê-la, ele pergunta se queremos ouvir uma música do Kiss. Após um sonoro "yes", ele anuncia "Black Diamond", que é cantada por Eric Singer – que canta impressionantemente bem e de forma visceral! – e acompanhada, do início ao fim, pelo público. Quatro músicos, quatro vocalistas! Ao fim desta, a bateria é elevada e uma série de fogos são disparados; os músicos ficam todos imóveis durante alguns segundos e Paul anunciam o fim do set regular. Fim do primeiro ato!

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Após o retorno ao palco, eles tiram uma foto. Depois disso, Paul diz que está muito honrado em es-tar ali e pergunta se eles poderão voltar a tocar ali novamente – como não? Paul entoa, então, o inicio de "Lick It Up", cantada por todos os presentes novamente e por Paul em grande forma, incre-mentada por trechos de "Won’t Get Fooled Again", do The Who.

Em seguida, tem inicio "I Was Made for Lovin’ You", com Gene e Tommy tocando de forma sincronizada e com o coro e o refrão cantados de forma potente pelo incansável público presente. E para encerrar de maneira apoteótica o segundo ato deste espetáculo único – uma mistura de show de rock, peça teatral e festa de réveillon, com elementos de circo inclusos –, como não poderia ser diferente, foi executado o hino do Rock N’ Roll, "Rock and Roll All Nite", com o auxílio de muita pirotecnia e papel picado. Em meio a uma infinidade de efeitos especiais e com Gene e Tommy elevados em plataformas, Paul, como de costume, quebra sua guitarra. E antes de sairmos, ao som de "God Gave Rock And Roll To You II", ficamos alguns minutos em silêncio olhando para a queima de fogos que tomou conta do céu, para celebrar mais um show do Kiss que se acabava.

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Só não entendi o sentido da declaração de Gene a respeito de tocarem mais clássicos em São Paulo, já que o setlist foi bastante parecido com o de Porto Alegre; certamente, não cheguei a ficar decepcionado, mas que eu esperava ouvir canções como "Strutter" e "Deuce", eu esperava.

Na caminhada de volta ao metrô, lembrei-me do que me disse certa vez um velho amigo meu, com quem não tenho mais contato. Em 2009, recém-chegado em São Paulo para estudar, expressei, numa conversa bastante casual, minha vontade de ir ao show do Kiss, que acontecera em abril daquele ano; repentinamente, este meu amigo se mostrou bastante indignado e me disse: "Show? As outras bandas fazem shows... O Kiss faz espetáculo!". E hoje, quase quatro anos depois, venho confirmar que meu amigo, de fato, estava muito correto em sua colocação...

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Viper

André Matos – Vocais
Hugo Mariutti – Guitarra Solo
Felipe Machado – Guitarra
Pit Passarell – Baixo
Guilherme Martin – Bateria

Setlist:

Knights of Destruction
To Live Again
Prelude to Oblivion
A Cry from the Edge
Living for the Night
Rebel Maniac
We Will Rock You (Queen)

Kiss

Paul Stanley – Vocais/Guitarra
Gene Simmons – Baixo/Vocais
Tommy Thayer – Guitarra
Eric Singer – Bateria

Setlist:

Detroit Rock City
Shout It Out Loud
Calling Dr. Love
Hell or Hallelujah
Wall of Sound
Hotter Than Hell
I Love It Loud
Outta This World
Tommy and Eric Jam
Bass Solo
God of Thunder
Psycho Circus
War Machine
Love Gun
Black Diamond

Encore:

Lick It Up
I Was Made for Lovin' You
Rock and Roll All Nite

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Sobre Fernando Araújo Del Lama

Estudante de filosofia e fã de boa música. Resenha os shows que assiste, a fim de partilhar suas impressões com outros leitores do Whiplash.Net através de um texto com visão bastante pessoal, sem pretensão de qualquer imparcialidade.
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