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Tribuzy: Fãs no palco, Bruce na bateria, e clássicos no show de BH

Resenha - Tribuzy (Chevrolet Hall, Belo Horizonte, 13/11/2005)

Por Maurício Gomes Angelo
Postado em 22 de novembro de 2005

Renato Tribuzy é um cara esperto, muito esperto. Sua estratégia publicitária é pensada e certeira.

Todos já haviam se impressionado com o time de feras do metal mundial que o brasileiro conseguiu agrupar para gravar o excelente álbum "Execution". Kiko Loureiro, Roland Grapow, Mat Sinner, Ralf Scheepers, Chris Dale, Roy Z, Dennis Ward, Michael Kiske e (pasmem!) Bruce Dickinson. O resultado foi uma das obras mais aclamadas pela crítica musical (inclusive por este escriba) do ano de 2005. O que teve de gente se roendo de inveja por aí...

Fotos: Maurício Gomes Ângelo e Thiago Sarkis

Como ele conseguiu tanta moral? De onde veio tanto crédito? Por que tantos músicos de renome o apoiaram? Essas são perguntas que intrigaram e continuam intrigando a muita gente. Duas palavras que podem começar a responder isto são trabalho e competência. Ninguém se arriscaria a dar suporte ao sujeito se seu projeto fosse ruim. Ele provou em "Execution" que é um ótimo compositor e também vocalista. Ao vivo ele assegura seu posto como o novo candidato a melhor lead singer do país, devendo incomodar André Matos e Eduardo Falaschi (geralmente apontados como tal) nas próximas listas de "melhores do ano".

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Ainda com tudo isso, acho que ninguém esperava que o mesmo time (com exceção de Michael Kiske) que gravou o álbum em estúdio, viesse acompanhá-lo em sua turnê brasileira. Até Mr. Air Raid Siren. E aí reside a GRANDE jogada da coisa toda, o trunfo, o coringa infalível que lhe garantiria o sucesso. O cartaz já anunciava em letras garrafais: "IMPERDÍVEL! – Bruce cantará clássicos do Maiden!". Não é novidade para ninguém dizer que o lendário vocalista da Donzela de Ferro foi o principal chamariz de público. Assim como não seria exagero afirmar que, no mínimo, 75% dos presentes estavam lá por causa dele. E que ele foi, igualmente, o responsável pelo bom número de pagantes mesmo com o preço dos ingressos acima da média belo-horizontina. Bem, para cariocas e paulistas, a quantia de 50 reais para ver um show de metal soa corriqueira e até atraente, mas, para uma cidade como Belo Horizonte, onde os valores giram entre 20 e 30 reais, 50 paus acaba sendo bem além do esperado, deixando este show como o mais caro do ano até agora (em termos de metal). Apenas como comparação, o último concerto de música pesada neste valor foi o do mainstream Nightwish, em 2004. Todavia, acho que nenhum dos – aproximadamente – 1.400 pagantes, saiu insatisfeito após 1 hora e meia de espetáculo.

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De uma pontualidade assustadora, na verdade até cinco minutos antes do horário previsto, Tribuzy sobe ao palco trazendo abrindo com "Agressive", simplesmente a faixa mais pesada de "Execution", funcionando tremendamente bem como forma de impressionar o público, em especial àqueles que achavam que Dickinson seria o único destaque da noite. E os desavisados se renderam de vez perante "Divine Disgrace", uma música que representa com propriedade os elementos thrash, heavy e prog utilizados na concepção do álbum, enaltecendo a ótima banda de apoio, com Gustavo Silveira e Frank Shieber nas guitarras, Ivan Guilhon no baixo e Flávio Pascarillo na bateria, sem esquecer da participação constante do guitar-hero tupiniquim Kiko Loureiro. Algo a se destacar é a intensa presença de palco de todos os integrantes. Poucas vezes vi tanta empolgação, suor e interação como o apresentado aqui, intensificando a eficiência do fator "ao vivo" com que as composições foram criadas. "Forgotten Time" nos permite observar o desempenho satisfatório do sistema de som do Chevrolet Hall. Embora os microfones tenham falhado constantemente, ele se comportou bem melhor que em outras vezes. Méritos para a produção.

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Aí começaram as participações especiais. Mat Sinner adentra a arena para dividir os vocais com Tribuzy em "Nature Of Evil", ótimo exemplo do metal-europeu-pesadíssimo-porém-melodioso-de-linhas vocais pegajosas que Sinner costuma compor. O grandalhão Ralf Scheepers – frontman de respeito em todos os sentidos – junta-se à banda para executar "Absolution", fazendo os vocais que originalmente eram de Michael Kiske, alcançando um resultado satisfatório sem muitas dificuldades. Como mais longa e climática faixa da noite, é impressionante que "Absolution" tenha funcionado tão bem ao vivo, especialmente quando explode no final no segundo ato, culminando no excepcional solo de Roland Grapow, eficiente como de costume – mas muito tímido no restante do show. E, aproveitando a oportunidade, Scheepers permanece para cantar "Final Embrace", música símbolo do álbum "Jaws Of Death", do Primal Fear, que propiciou a primeira vinda dos alemães ao Brasil, ainda em 1999.

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"Execution" – a música – trouxe um Tribuzy fidelíssimo aos desafiadores vocais registrados em estúdio e me fez pensar que o rapaz andou lendo muito o Whiplash!, já que as três músicas limadas foram justamente aquelas consideradas medianas na avaliação do álbum: "The Attempt", "Lake Of Sins" e "Web Of Life", escolhas acertadas e conscientes, deixando o set-list empolgante e efetivo do início ao fim.

E chegara a hora da entrada do rei. "Olê, olê, olê, olê, Bruce, Bruce..." era o que ecoava no Chevrolet Hall. Frisson absoluto, já que os mineiros esperavam por anos para ver alguém do Iron Maiden por estas terras (me parece que o "sonho" de ver a banda completa anda arrefecendo). E ele chega. Incredulidade e emoção nos olhos de todos. Com nítidas marcas da idade, descontraído e pateta – sob efeito do álcool, pra ser honesto – ele abre sua participação com "Beast In The Light", num belo dueto com Renato.

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Devo admitir que Dickinson me consolou. Sempre achei que minha memória era fraca, até ver Bruce conferindo a letra de "Beast In The Light" inúmeras vezes durante a execução, isso depois de muito tempo de familiaridade e dois shows em São Paulo, sem contar que sua parte é reduzida. Um momento impagável.

O que temos a partir daí é um legitimo show de Bruce, contando com Chris Dale, seu baixista, e Roy Z, guitarrista companheiro de longa data. "Tears Of The Dragon", o maior sucesso de sua carreira solo, vem um pouquinho diferente da original, com arranjos levemente modificados e peso em maior destaque. Continua ótima, mas ainda prefiro a irretocável versão registrada no apenas mediano "Balls To Picasso", de 1994. Dando seqüência ao seu set-list próprio temos "Be Quick Or Be Dead", que apresentou os maiores problemas tanto no vocal de Dickinson – abaixo do esperado – como no instrumental. Esta poderia ter sido trocada por alguma outra faixa de abertura mais significativa do Iron Maiden, como "Aces High" ou "Where Eagles Dare" (embora, considerando o espírito "festivo" com que entrou, dificilmente seu desempenho em tais músicas seria aprovado). Contudo, "The Evil That Men Do" e "Bring Your Daughter...To The Slaughter" (quando várias fãs tiveram o acesso permitido ao palco) foram quase perfeitas, matando a sede por clássicos do heavy metal. Necessário dizer que a ovação foi total? Até se ele tocasse "Wasting Love", "The Angel And The Glamber" e "Back From The Edge" o resultado seria o mesmo...

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Após um aparente final prematuro, todos os músicos voltam ao palco – muita, mas muita gente – e, em clima de festa, Bruce vai para a bateria, abrindo com "Highway To Hell", hino do AC/DC cantado com competência – mas muita sisudez – por Ralf Scheepers. Emendam com "Black Night", clássico do Deep Purple e, após Dickinson ameaçar "Run To The Hills" – cadê Nicko Mcbrain nessas horas? – fecham com "Smoke On The Water", uma das mais lendárias e míticas músicas do rock. Uma jam session privilegiada e de muito respeito, com clássicos escolhidos cuidadosamente e que, sem dúvida, marcaram a vida de todos.

Não há como duvidar que a "Execution Tour" consagrará Renato Tribuzy em nosso país. Seu desempenho vocal é ótimo e sua performance de palco também, estando no ápice da carreira, sem escorregar em nenhum momento.

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Se ele teve o cacife de conquistar respaldo de tantos músicos respeitados, créditos para ele, pois os utilizou da melhor forma possível e produziu um dos melhores shows de heavy metal do ano.

As expectativas para o próximo trabalho são altíssimas, e ele sabe disso. Tomara que nos brinde com outra obra desta magnitude. Competência é, definitivamente, o que não falta.

Set-List:
01 – Aggressive
02 – Divine Disgrace
03 – Forgotten Time
04 – Nature Of Evil (Sinner)
05 – Absolution
06 – Final Embrace (Primal Fear)
07 – Execution
08 – Beast In The Light
09 – Tears Of The Dragon (Bruce Dickinson)
10 – Be Quick Or Be Dead (Iron Maiden)
11 – The Evil That Men Do (Iron Maiden)
12 – Bring Your Daughter...To The Slaughter (Iron Maiden)
13 – Highway To Hell (AC/DC)
14 – Black Night (Deep Purple)
15 – Smoke On The Water (Deep Purple)

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Sobre Maurício Gomes Angelo

Jornalista. Escreve sobre cultura pop (e não pop), política, economia, literatura e artigos em várias áreas desde 2003. Fundador da Revista Movin' Up (www.revistamovinup.com) e da revrbr (www.revrbr.com), agência de comunicação digital. Começou a escrever para o Whiplash! em 2004 e passou também pela revista Roadie Crew.
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