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Blog Modus Operandi: Por Que Muse?

Por Jo Reis
Fonte: Modus Operandi
Postado em 21 de abril de 2015

É prática comum no rock e suas vertentes o saudosismo, aquela expressão de que "naquele tempo" era assim ou assado. Isso muitas vezes se mostra de um conservadorismo assustador, lembrando muito os reacionários de outrora, que por sua vez, reprimiam o rock e sua cultura, da mesma forma que muitos hoje, ditos roqueiros, o fazem com outros gêneros mais vulgares de música ou com nomes do rock moderno, apontando inúmeros motivos; falhas, de forma preconceituosa.

Fato é que, desde o fim dos anos 60, a expressão "o rock está morto" é dita por aqueles que veem na próxima geração uma "antítese" daquilo que eles mesmos consideravam sagrado no rock n’ roll, é típico de quem não aceita o moderno, o que possa vir, pois mesmo que hajam muitas críticas e falhas em qualquer movimento de vanguarda, sempre que há um grupo formando um novo comportamento cultural, é necessário uma análise séria para considerar se é um movimento legítimo e duradouro ou apenas mais uma moda efêmera da juventude. Lembremos que sempre fora assim, desde os anos 60, como dito, quando surgiram os grupos psicodélicos, os saudosistas das bandas de terno e franjinha diziam que "o rock morreu", tal como a geração posterior à prog psicodélica dizia sobre esta, que o rock havia morrido, pois não existiam músicas com menos de 5 minutos nesse gênero, e assim através das décadas até hoje. A onda atual sempre é a antítese da anterior.

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Pois então, seriam os anos 00 uma antítese dos anos 90? Acredito que, parcialmente, sim. Os anos 90 se caracterizaram pelo grunge, tendo no Nirvana a principal referência, e no seu frontman o guru, o mártir dessa geração. Acredito ainda que o Nirvana foi a última banda a mudar de fato o mundo, não apenas na música, mas o comportamento cultural como um todo. Foram pouquíssimas as bandas que realizaram tal feito, acho que precisamente foram: ELVIS PRESLEY, THE BEATLES, THE ROLLING STONES, LED ZEPPELIN, BLACK SABBATH, DAVID BOWIE, BOB MARLEY, SEX PISTOLS, MICHAEL JACKSON e por fim o NIRVANA (quase não há artistas negros nessa lista, pois, devido ao racismo histórico, um gênero musical apenas atinge extrema popularidade quando gravado por um branco, mesmo que esse tenha sido criado pela cultura negra, desde o jazz e o rhythm blues, com exceção de BOB MARLEY e MICHAEL JACKSON apenas, porém todos sabemos o caminho que este percorreu), talvez podendo agregar ainda à essa lista nomes como BEASTIE BOYS e até o SEPULTURA, o primeiro por ter ligado o rap à cultura de massa, e o segundo, por definir um estilo de metal, de visual e comportamento nos anos 90, claro que não sozinho, já que o Sepultura estava junto de outras bandas do início da década que afirmaram esse estilo, tais como: PANTERA, BIOHAZARD, SUICIDAL TENDENCIES, BODY COUNT, KORN, RAGE AGAINST THE MACHINE, entre outras, tendo no FAITH NO MORE umas das principais referências musicais, além da mescla de hard core, funk e thrash metal, misturado ainda muitas vezes ao rap, que definiu o metal dos anos 90, gênero que mais tarde seria denominado nu metal, porém essa turma está distante de praticar a mesma influência massiva causada pelo Nirvana no período, já que o heavy metal se tornou um gênero musical à parte. Se citamos esses nomes como vanguardistas dos anos 90 no metal, devemos citar VENOM, METALLICA, JUDAS PRIEST, IRON MAIDEN, DEEP PURPLE, entre muitos outros que fizeram o mesmo nas décadas anteriores à de 90, se tornando referências, porém o SEPULTURA, além do FAITH NO MORE, apresentavam elementos diferenciados para a época, mas a mudança radical aconteceu de fato apenas com o BLACK SABBATH, se falarmos de heavy metal dentro do rock n’ roll, e neste, o último grande nome, a última revolução, foi definitivamente o NIRVANA, apontando o estilo dos anos 90 e sua antítese genuína do produto cultural musical da década anterior.

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Lembro que nesta análise avalio uma mudança drástica na cultura em geral, e não apenas na musicalidade em si. Por musicalidade teríamos de citar JIMI HENDRIX, KRAFTWERK, VAN HALEN, entre muitos outros que revolucionaram instrumentos, técnicas e formas de gravação. E também não apenas a estética, pois aí teríamos o KISS como grande mania dos anos 70, e também o gênero emo core que, mesmo oriundo dos anos 80, se caracterizou não pela sonoridade nos anos 00, mas apenas pelo apelo visual (também extraído dos anos 80), que se provou com o passar dos anos ser um movimento extremamente fugaz.

Então, se os anos 90 se caracterizam pela sonoridade crua, distorcida, melancólica, agregado ainda ao metal cadenciado, funkeado, de longos dreads e inúmeras tatuagens, claro também pela ascensão definitiva do punk rock ao estrelato, com nomes como GREEN DAY e THE OFFSPRING, o que esperar dos anos 00? Uma antítese explícita? Quase. Os anos 00 é uma década de nostalgia musical, pois os nomes que deram referência nesse período resgataram uma sonoridade bem mais antiga. No metal, não tivemos grandes inovações, talvez um pouco na banda MESSHUGAH, que apresenta um som de levadas rítmicas difíceis, também na banda PROTEST THE HERO, que faz esse metal oriundo da influência dos anos 90 com suas modificações, se mostrando um nu metal muito melódico e progressivo, mas ambas sem apontar (por enquanto) um estilo reproduzido massivamente pelo mundo, mesmo que hajam subgêneros extraídos das misturas do nu metal com o emo core e outros estilos, tal como o denominado screamo, por exemplo, ainda assim se caracterizam por atingir nichos específicos de público, não apontando uma tendência cultural massiva, mas apenas características musicais particulares e um visual indefinido pelo gênero em si. Ainda temos as midiáticas LINKIN PARK, SYSTEM OF A DOWN e LIMP BIZKIT, que apenas adentraram a década de 00 reproduzindo um estilo iniciado nos anos 90, tal como o SLIPKNOT, que apresentou uma estética bastante inovadora para a época, mas que já havia sido explorada por nomes como o do KISS, já citado aqui, além de DAVID BOWIE, MARILYN MANSON, KING DIAMOND e até ALICE COOPER, entre muitas outras, onde os artistas se apresentam como personagens de suas obras, incorporando máscaras e figurinos distintos. Uma novidade nesse sentido foi recentemente o surgimento da banda GHOST, que atingiu notório sucesso pelo visual explicitamente zombeteiro, com seu frontman incorporando uma versão satânica do papa católico, mas que musicalmente não apresentou nada excepcionalmente novo, a não serem as pitadas de canto gregoriano no seu metal/hard rock clássico. Também há a ascensão de bandas de características sinfônicas, mas em geral no metal, mais que em outros gêneros de rock, segue um saudosismo como nunca, tendo nos anos 80 e 90 as suas principais referências. Apesar de que aqui no Brasil, sabemos, as coisas demoram a chegar e acontecer, porém com o advento da internet hoje, isso já não é motivo de atrasos temporais em relação a um movimento cultural.

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Mas e no rock n’ roll em geral? Sim, também a nostalgia é visível. A principal banda que deu origem a um gênero, a um comportamento e estilo reproduzidos pelo mundo todo, foi o THE STROKES. Dizendo assim, quase dá pra incluir naquela lista de nomes que mudaram o mundo, não? Sim, quase, a não ser pelo fato de que, genuinamente, o THE STROKES não apresentou uma "moda" inédita, pois o estilo musical e visual eram novidades na década, mas ambos têm uma origem bem mais antiga (o NIRVANA também não inventou o grunge, já que o estilo existia desde meados dos anos 80, sendo este um tipo de punk rock próprio de Seattle e região, mas que fora apenas amplamente divulgado no mundo através do Nirvana, diferente, portanto, do THE STROKES nesse sentido), bastando uma ligeira vista nas bandas dos anos 70 pós-progressivo; em geral as bandas inglesas e nova iorquinas de punk e new wave. Alguns exemplos são: TALKING HEADS, RAMONES, THE JAM, TELEVISION, THE CLASH, BLONDIE e até os próprios LOU REED e IGGY POP. A partir destas bandas setentistas, é possível notar de onde veio grande parte da sonoridade dos nomes do início de 00, além também das bandas inglesas dos anos 60 e o chamado pós punk anos 80. Pode-se dizer, portanto, que o som e tendências visuais que o THE STROKES apresenta, vem da mistura das décadas de 60 e 70, ignorando o rock psicodélico e progressivo. A banda deu a cara, apontou o estilo, que muitos chamam de "mod" (tal como nos anos 60), às vezes também se confundindo com o termo indie, mas independente do nome da onda, o fato é que THE STROKES foi massivamente acompanhado por inúmeras bandas, muitas delas realmente boas e dignas de representarem a década de 00, tais como: KINGS OF LEON, ARCTIC MONKEYS, ARCADE FIRE, THE LIBERTINES, JET, ALABAMA SHAKES, THE KILLERS, FRANZ FERDINAND, PETER, BJORN & JOHN, THE BLACK KEYS, THE SUBWAYS e outras ainda mais antigas, mas que acabaram apanhando praticamente o mesmo público, como BELLE & SEBASTIAN e THE WHITE STRIPES, cujas apresentam uma sonoridade e estética próprias, mas que acabaram conquistando espaço no caminho aberto pelo THE STROKES. Além dessas bandas, ainda temos a referência explícita dos anos 80 na era pós 00, década esta que parecia morta e enterrada no período grunge, mas que voltou com força total, e não apenas musicalmente, mas no visual também. Artistas como: TWO DOOR CINEMA CLUB, MIKA, FOSTER THE PEOPLE, SCISSOR SISTERS e FUN abusam do ritmo, dos efeitos e do glamur dos anos 80, com algumas bandas ainda transitando entre todas as décadas em questão, como o THE KILLERS, THE BLACK KEYS e FRANZ FERDINAND, também as bandas SNOW PATROL, KAISER CHIEFS e INTERPOL, entre outras, por enquanto, menos expressivas, que fazem uma salada de timbres anos 70, ritmos anos 80 e visual meio 60 meio 80, algumas mais uma coisa, outras outra. No Brasil, há o rock gaúcho que apresenta características parecidas com as dessa turma, bandas oriundas ainda dos anos 80, focando mais nos elementos antigos, mas que impulsionaram uma moda, que foi se firmar mesmo somente a partir dos anos 00 com a aparição do fenômeno LOS HERMANOS, cujo desencadeou uma multidão de fãs e novas bandas neste estilo denominado indie, que por sua vez, ajudou a trazer uma nova geração de bandas, gaúchas e do resto do Brasil, fazendo esse som característico de timbres e visual antigo. Também as chamadas "rolingas" na Argentina que, desde os anos 90, reproduzem esse estilo mod, explicitamente inspirado nos ROLLING STONES, daí o título do gênero. VIEJAS LOCAS e RATONES PARANOICOS são exemplos de rolingas. Existem ainda alguns casos isolados nas décadas anteriores à de 00, algumas bandas que resgataram um estilo antigo, "fora de moda", e que atingiram sucesso. Nos anos 90 tivemos o OASIS, que impulsionou uma pequena gama de novas bandas neste âmbito chamado britpop, que se assemelha ao estilo das bandas britânicas dos anos 60, mas que não representou um movimento massivo como o grunge no período, com poucas bandas sobreviventes, das quais algumas ainda exploraram outros estilos e propostas mais tarde. Temos como alguns exemplos o BLUR, THE VERVE e o SUPERGRASS. Há ainda outras bandas também enquadradas como britpop, mas que seguem tendências estéticas musicais bem diferentes, como PLACEBO, COLDPLAY e também o RADIOHEAD. O termo então acabou por definir qualquer música pop de origem britânica, atingindo até o próprio MUSE. Nos anos 80, houve nomes reconhecidos até hoje, que faziam sua música baseada também em referências dos anos 60 e até 50, tais como STRAY CATS e TOM PETTY & THE HEARTBREAKERS, entre outros, mas que se tornaram casos isolados em um mercado onde o heavy metal e o pop sintetizado e maquiado eram predominantes.

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Mas e o MUSE? Por que MUSE? Agora lhes digo o porquê:

O MUSE é o que há de mais moderno no rock hoje em dia em se tratando de todas essas musicalidades exploradas através das décadas em geral. A banda nutre sua música com referências modernas, diferentemente desses outros grupos atuais citados, referências oriundas dos anos 90 principalmente, nomes como RADIOHEAD, THE SMASHING PUMPKINS e a melancolia desta década, associada a efeitos de guitarra evidentemente retirados de RAGE AGAINST THE MACHINE, cuja banda possui um dos guitarristas mais criativos e originais dos anos 90, TOM MORELLO, genialidade evidente também no trabalho seguinte do músico, o AUDIOSLAVE. Nos primeiros discos da banda, "Showbiz" e "Origin of Simetry", nota-se uma semente plantada, um embrião que tomará forma nos anos seguintes, pois esses discos apontam uma banda promissora, com qualidade, já na tenra idade que tinham, por volta dos 20 anos. "Showbiz" teve um reconhecimento razoável, pois a banda era criticada por soar muito parecida com o RADIOHEAD, fato claro na bela faixa "Unintended", no entanto, o disco seguinte, "Origin of Simetry", apresenta uma amadurecimento nítido, tendo em composições como "Plug in Baby" o cerne exemplar do estilo que explorariam com perfeição mais tarde, além de contar com uma versão incrível de "Feeling Good", clássico eternizado pela voz de NINA SIMONE. O MUSE já mostra a quê veio nesses dois primeiros discos, pois mescla de forma sublime momentos de peso e efeitos nas guitarras típicos dos anos 90, com a melancolia harmônica, principalmente pela voz de MATTHEW BELLAMY, e ainda com linhas de baixo que lembram o new wave dos anos 80 e, como se não bastasse, também já mostra sinais da presença da música erudita em suas composições.

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O jovem trio britânico mostra-se um fenômeno instrumental, ainda mais com o lançamento de "Absolution", de 2003, cujo álbum definitivamente evidencia a sua qualidade técnica, tendo o vocalista e guitarrista se superando em faixas como "Stockholm Syndrome", que possui um riff recheado de técnicas virtuosas, associado ainda ao seu vocal peculiar e aplicado, criando uma sonoridade nova, nem de perto explorada pelas outras bandas referenciais da década de 00 aqui citadas. O disco em si é uma revolução no rock do século XXI, se desenvolvendo dessa maneira, fazendo uso de recursos eletrônicos, sintetizadores e efeitos variados, com momentos de peso e vocais melancólicos, linhas de baixo precisas e características, e ainda com uma bateria que sabe se colocar nos momentos de calma e também nos momentos de frenesi, literalmente demonstrando alta qualidade de precisão e de porrada técnica o baterista DOMINIC HOWARD, ainda contando com arranjos de piano executados pelo cantor e guitarrista, fazendo uma mistura de elementos tão distintos que acabam criando uma identidade nova, como sempre ocorre. Mesmo em faixas como "Time is Running Out", cuja possui o início marcado pelo baixo recheado de efeitos de CHRISTOPHER WOLSTENHOLME, que mais parece nos apresentar uma canção disco new wave dos anos 80, mas quando na verdade, se mostra uma faixa de refrão melodicamente emotivo, seguido de momentos de peso típicos dos anos 90. A faixa que apresenta o título do disco, "Sing For Absolution", é a tipicamente comparável ao som do Radiohead, uma música extremamente melancólica com um vocal sofrido e uma letra taciturna e depressiva.

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Mas se há tantas referências, por que o som do MUSE é tão único? Exatamente pelas fontes de referências que a banda explora de maneira inédita na década, já que nada se cria do zero. Eles resgatam um clima dos anos 90, junto de elementos eruditos clássicos, ainda com o pop dos anos 80 e um virtuosismo instrumental impressionante. A extrema aplicação técnica acompanhada das influências de Radiohead e RAGE AGAINST THE MACHINE, além também do U2 e seus efeitos, talvez ainda a influência do PORTISHEAD com seu som peculiar dos anos 90, com certeza nomes oitentistas como DEPECHE MODE e NEW ORDER e até mais longe, com o QUEEN e sua refinada formação. O MUSE então mistura o erudito, o peso e a melancolia dos anos 90 com efeitos desta década e dos anos 80, criando, portanto, uma nova concepção de rock anos 00, tendo em comum sim a exploração dos efeitos da década de 80 com essas outras bandas, mas aplicados de maneiras muito distintas, além da forma que a banda executa isso tudo, notavelmente forte e intensa no palco, mostrando o trio como uma unidade elementar. Há outros grupos dos anos 00 que também fazem uso do eletrônico com o rock e outros ritmos, inúmeros, e que atingiram sucesso, tal como o 30 SECONDS TO MARS do ator JARED LETO (porém essa banda não apresenta nenhum elemento inédito além do fato de seu líder ser um renomado ator de Hollywood que, apesar da qualidade em alguns aspectos, se parece muito com as outras bandas contemporâneas intituladas de emo core, com mais visual carregado do que música, o que fez com que muitas destas acabassem por cair no esquecimento, mesmo possuindo algum caráter musical interessante, como é o caso de MY CHEMICAL ROMANCE, por exemplo), também o DAFT PUNK, entre outros. Dos anos 90, temos grandes nomes como o PRODIGY, além de cantores e demais artistas da cena pop que exploram essa mistura, porém a maioria destes não possui o conceito de banda de rock tradado aqui. Um ou outro hit também não são suficientes para tal caracterização de relevância cultural, avalia-se um trabalho através dos anos, com alguns discos e singles importantes lançados, tal como os outros nomes citados nesse texto possuem.

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Esta identidade fica ainda mais evidente no lançamento de seu maior sucesso comercial, e também mais complexo disco até então, o "Black Holes and Revelations", de 2006, onde a banda aborda temas mais intrigantes em suas letras, além da nítida evolução musical. O disco já começa com a apocalíptica faixa "Take a Bow", que apresenta já no seu início uma gama de sons eletrônicos somados ao vocal melódico e penetrante de BELLAMY, onde este parece apontar para a cara de um opressor ditatorial imperialista moderno, o acusando de corrupto e declarando que este queimará no inferno por seus pecados contra a terra e a humanidade... Como dito, as letras nesse trabalho também apresentam um amadurecimento, abordando de maneira coletiva temas, angústias e reivindicações, como é evidente na apoteótica música que o encerra, a "Knights of Cydonia", onde se canta o verso "you and I must fight for our rights, you and I must fight to survive", declamado numa espécie de refrão, onde várias vozes se harmonizam, fazendo um tipo de intimação ao ouvinte, para que este aja, estimulando então uma reação conjunta entre banda e audiência. Também há faixas que retratam nitidamente uma relação amorosa entre duas pessoas, tal como "Starlight", porém mesmo nessa, que é um dos grandes hits da história do grupo, a banda tenta fugir do clichê, associando uma viagem espacial ao romantismo da letra, cantando o título do disco junto da expressão "our hopes and expectations", dando uma ideia de que esses desejos e ideias se perdem na vastidão de um universo desconhecido e inexplorado, além, claro, da harmonia criativa e dos arranjos inteligentes e inovadores. Letras intrigantes já eram apresentadas no disco anterior Absolution, como na faixa "Thoughts of a Dying Atheist", porém em "Black Holes and Revelations" a abordagem lírica é mais rica, mais clara e objetiva. O disco é recheado de pérolas, que definem o alto grau de complexidade musical experimentado pela banda, por isso, quase todas são destaques. Há a solidão emblemática de "Map of the Problematique", também a entristecida e motivacional "Invincible", é destaque também "Assassin", que possui um caráter temático semelhante à faixa de abertura, apresentando um peso característico do disco antecessor, mais as melancólicas "Soldier’s Poem" e "Hoodoo" e também a talvez mais conhecida música da banda, graças a inserção em um filme de sucesso entre milhões de adolescentes, o vampiresco e juvenil "Crepúsculo", chamada "Supermassive Black Hole", que faz alusão ao título do disco e que, musicalmente, já desponta um outro campo que será explorado nos próximos discos da banda, uma espécie de eletro disco funk.

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Mas se esses discos são uma definitiva inovação no rock nos anos 00, os shows da banda são ainda mais surpreendentes. Lotando estádios e fazendo incríveis aparições em festivas de imensa magnitude, a banda no palco soa extremamente entrosada, reproduzindo ao vivo toda a energia transmitida em seus discos, mostrando toda a técnica aplicada pelos instrumentistas da banda, além de evidenciar a qualidade do canto de BELLAMY, que executa o peso, os solos e as harmonias de sua guitarra magnificamente, ainda toca piano de forma majestosa e canta de maneira muito técnica e precisa, às vezes operística, com extrema qualidade. A banda no palco conta ainda com um quarto elemento, MORGAN NICHOLLS, que executa piano, sintetizadores, vozes e às vezes linhas de guitarra e de baixo, contribuindo para que o show se torne um verdadeiro espetáculo para qualquer admirador de boa música. A conclusão desse imenso sucesso atingido pelos álbuns "Absolution" e "Black Holes and Revelations" pode ser vista no CD e DVD ao vivo lançados em 2008 chamado "HAARP", concerto este que foi realizado em 2007 no estádio Wembley, em Londres, onde a banda toca seus maiores sucessos até então, provando de vez que é a maior banda dos anos 00 numa performance esplêndida e exuberante. Uma curiosidade nesse show é que a banda inicia a apresentação com a última faixa do disco "Black Holes and revelations" e encerra com a primeira deste, invertendo a lógica de apresentação do álbum.

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Mas o que faz uma banda ser grande de verdade? É se manter no topo, é lançar mais e mais discos de qualidade, e com o "The Resistance", de 2009, o MUSE prova que não é um sucesso passageiro. O disco, que foi premiado com o Grammy de 2011 na categoria de Melhor Álbum de Rock, apresenta ainda mais complexidade que seus antecessores, além de sucessos comerciais e uma turnê de estrondosa magnitude e reconhecimento. O álbum, que é recheado de efeitos eletrônicos, apresenta ainda mais elementos eruditos, como na faixa "United States of Eurasia", que possui uma passagem de piano ao final que remete a uma obra de FREDÉRIC CHOPIN chamada "Nocturne em mi bemol maior", além das orquestrações durante esta que também lembram a música do oriente médio, fazendo jus ao título da faixa, que nada mais é do que um continente formado por Europa e Ásia. De acordo com BELLAMY, o título e o tema da música foram inspirados em um livro de ZBIGNIEW BRZEZINSKI, e ele ainda diz: "BRZEZINSKI tem um ponto de vista sobre a população da Eurásia, Europa, Ásia e Oriente médio em geral, que precisa ser controlada pela América a fim de proteger seu suprimento de petróleo", disse o guitarrista e vocalista de acordo com o site Wikipedia. Essa música em questão já demonstra o grau de complexidade e audácia do álbum, que ainda conta com as faixas "Exogenesis", uma obra sinfônica dividida em três partes que encerra o disco, além dos sucessos de "Uprising", que soa como o eletro disco citado anteriormente, com uma letra que também aborda uma proposta de ação coletiva contra um ato de repressão praticado por alguma forma de poder, faixa marcada pela introdução de baixo recheado de efeitos e groove. Ainda temos a canção título "The Resistance", que retoma um tema otimista e também é mais uma obra de composição complexa. Também o single "Undisclosed Desires", cuja faixa é algo eletrônico, pop e dançante. Todo o álbum é de altíssima qualidade, mantendo um clima melancólico de seus trabalhos anteriores em "Guiding Light", mesmo em meio às batidas e efeitos eletrônicos, além da já citada "Exogenesis", que transmite melodias tristes e introspectivas de maneira muito intensa, encerrando o álbum num tom de tristeza e grandiosidade.

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Após a avalanche de sucessos através dos anos e a quase unanimidade de críticas positivas sobre o álbum "The Resistance", arrancando elogios até mesmo de BRIAN MAY, guitarrista do QUEEN, a banda lança então o seu sexto e mais recente álbum até o momento, "The 2nd Law", de 2012, mantendo os arranjos orquestrais e o amplo uso de recursos eletrônicos. A faixa de abertura já mostra a síntese de elementos explorados pela banda, "Supremacy", a qual possui um início marcado pela guitarra de BELLAMY, ainda com arranjos orquestrais grandiosos e uma letra que mais uma vez aponta para uma figura representante de um poder opressor, como o próprio título sugere. O disco conta com faixas que seguem ainda uma postura mais pop, tal como "Follow Me", mas se tratando do MUSE, esse pop é recheado de vocais melancólicos e sintetizadores característicos. É destaque também a emotiva canção "Explorers", cuja ao vivo apresenta o vocalista ao piano, se mostrando uma bela música de letra reflexiva. Também é notável a explícita inserção ao funk na faixa "Panic Station", que é marcada pelo baixo forte, pelas guitarras e arranjos funkeados e pelo ritmo dançante. Ainda temos o baixista atuando como cantor principal na bela faixa "Save Me" e também em "Liquid State". "Survival" é destaque por se tratar de uma obra complexa, com riffs marcantes de guitarra e orquestrações, cuja possui uma introdução apontada no disco como um prelúdio, sendo a mais erudita do álbum. Mas a principal faixa do disco e o seu maior sucesso, com certeza, é a música "Madness", que explora efeitos eletrônicos exuberantes, lembrando um pouco o DEPECHE MODE, também o QUEEN dos anos 80 e até o velho KRAFTWERK. A faixa possui um elemento diferenciado executado pelo baixista CHRISTOPHER WOLSTENHOLME, um protótipo construído junto ao seu baixo que reproduz esse som característico marcante na música, ela ainda apresenta um belo e elaborado solo de guitarra, além da harmonia vocal muito melódica, com um desempenho ao final definitivamente emocionante, onde BELLAMY atinge notas altas e difíceis. A faixa se desenvolve suavemente até atingir o seu clímax, fazendo jus ao status de principal sucesso do disco em questão. A letra aborda uma relação amorosa que, de acordo com o site Wikipedia, teria sido inspirada após uma briga entre BELLAMY e sua noiva na época, a atriz KATE HUDSON. O casal ficou junto por quatro anos e têm um filho, este que é homenageado na faixa "Follow Me".

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Em 2013, a banda lança mais um trabalho ao vivo, nos formatos de CD/DVD e Blu-ray, intitulado "Live at Rome Olympic Stadium", gravado em julho de 2013 em Roma e lançado mundialmente com versões inclusive para o cinema, em um show prestigiado por mais de 60 mil pessoas. Gravado com câmeras de alta tecnologia, o show apresenta a banda no seu auge, dando enfoque nos dois últimos trabalhos lançados, mas levando o público ao delírio com faixas como "Plug in Baby" e "Knights of Cydonia". O show explora bastante o lado tecnológico da banda, com muitos efeitos e recursos, criando um espetáculo de proporções megalomaníacas, tal como o U2 faz há pelo menos 20 anos, no entanto, a performance da banda, suas habilidades técnicas e a energia que transmite, nada disso é afetado, pelo contrário, o concerto atinge dimensões espetaculares, com imensas telas de projeção e iluminação deslumbrante, com ainda inserções teatrais; esquetes que interagem com o tema de algumas das músicas, que expõe personagens imersos em uma vida executiva e burguesa capitalista moderna, onde acabam engolidos. Desde o início do concerto, o tema sobre energia e sustentabilidade é abordado, fazendo eco a algumas letras executadas no show, além de pôr líderes mundiais pra dançar no telão. Há ainda a aparição de uma espécie de balão em formato de lâmpada, de onde sai uma trapezista suspensa sobre o público em uma bela performance, que surge no momento em que a banda executa a faixa "Guiding Light", agregando de forma lúdica o show.

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Recentemente, a banda divulgou na rede dois vídeos de músicas novas que farão parte do disco a ser lançado em junho de 2015 chamado "Drones". De acordo com o site Wikipedia, BELLAMY afirma que o disco terá uma sonoridade mais voltada aos trabalhos antigos da banda, mais simples e pesado, abordando como tema um futuro distópico, onde drones são utilizados como armas operadas ainda por outros drones, transformando os seres humanos, por sua vez, também em drones, em uma visão metafórica onde todos são máquinas operadas à distância com fins assassinos e destruidores. A primeira música divulgada chama-se "Psycho", lançada como single e vídeo clip simultaneamente, fazendo uma crítica explícita ao sistema militar que transforma jovens em soldados psicóticos, sonoramente parecendo muito mesmo com os primeiros trabalhos da banda, pesado e direto, com efeitos moderados, inclusive tendo o seu riff principal já executado em shows antigos da banda. A segunda faixa apresentada soa mais eletrônica, mais melódica, e chama-se "Dead Inside". Ela aborda um tema que vai diretamente de encontro ao título do disco e sua proposta, criticando um futuro pós-moderno onde o indivíduo é vazio de identidade e de sentimento. Uma bela faixa que aponta que o MUSE seguirá apresentando alta qualidade em seus discos, e que definitivamente, é o principal nome do rock surgido após os anos 2000.

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Conclusão

Em suma, gostos se discutem, se alteram, se aperfeiçoam, e principalmente, se respeita o do próximo, porém há fatos que vão além do simples gosto pessoal de um indivíduo, e uma análise histórica sobre as culturas e o comportamento humano, a linguagem e tudo que se refere a antropologia, vai além de visões rasas baseadas em sentimentos e opiniões particulares, e no rock n’ roll não é diferente. Aqui a intenção foi expor fatos que aconteceram ao longo dos anos, e que vem acontecendo sempre, dentro dessa cultura musical arrebatadora do século XX e como ela entrou no século atual, com pitadas de gosto pessoal, claro. Sobre o Muse, não é possível dizer que esta banda determinou os rumos do rock na atualidade, que difundiu uma grande moda, que revolucionou o mercado, já foi dito aqui que o último ícone legítimo do rock foi o NIRVANA, porém nos tempos atuais, não sabemos se será possível uma nova revolução de tamanha magnitude, pois o acesso à informação está muito modificado, a internet sim revolucionou o mercado da música como um todo, e não parece haver condições de suceder tal impacto novamente tão cedo. Bandas clássicas seguem sendo as campeãs de bilheteria, e discos, já não se vende nem um quinto como antigamente. Esteticamente, com exceção das clássicas tendências que seguem, a moda e o comportamento que os jovens ouvintes de rock assumiram nos últimos anos se tornaram tão efêmeras quanto qualquer outra moda difundida pela grande mídia, que antes, devido à sua contestação ao gênero em questão, acabava por contribuir para a popularidade de bandas e personalidades polêmicas, mas hoje já não é assim, porém crises "impossíveis" também já foram superadas no passado. No Brasil, definitivamente, a alienação alimentada pelos veículos de comunicação aumenta ainda mais o vácuo existente na cultura do jovem, onde os poucos espaços que se arriscam a apostar em nomes locais, acabam perdendo audiência e dinheiro. Rádios especializadas não dispensam os clássicos, impondo em suas programações apenas as novidades que lhes pagam as contas, e na televisão, hoje quase não há programas dedicados à musicas que motivem o pensamento e a emancipação do indivíduo através deste. Hoje, muitos dos próprios roqueiros pregam discursos reacionários e totalmente opostos ao que outrora fora uma postura roqueira subversiva. O rock n’ roll começou como uma ameaça rebelde. Foi assimilado, mas logo depois novamente rebelou-se, depois foi de novo incorporado e assim através dos anos até recentemente, porém hoje é muito difícil, quase impossível, apontar as tendências culturais que poderão predominar daqui a dez anos nesse âmbito, sabemos apenas que, das grandes bandas surgidas no final dos anos 90 e que explodiram nos anos 00, são pouquíssimas as que enchem arenas e estádios pelo mundo afora, que consigam este feito hoje em 2015, sejam elas talvez apenas essas: ARCTIC MONKEYS, COLDPLAY, MUSE e FOO FIGHTERS, porém este último teve um começo bastante particular, cujo foi muito impulsionado pela popularidade da ex banda de os pregam discursos reacionários e totalmente opostos ao que outrora fora uma postura roqueira subversiva. O rock n’ roll começou como uma ameaça rebelde. Foi assimilado, mas logo depois novamente rebelou-se, depois foi de novo incorporado e assim através dos anos até recentemente, porém hoje é muito difícil, quase impossível, apontar as tendências culturais que poderão predominar daqui a dez anos nesse âmbito, sabemos apenas que, das grandes bandas surgidas no final dos anos 90 e que explodiram nos anos 00, são pouquíssimas as que enchem arenas e estádios pelo mundo

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