Palestinos pedem que Roger Waters cancele show
Fonte: UOL Música
Postado em 09 de março de 2006
Por Dan Williams
JERUSALÉM (Reuters) - Artistas palestinos pediram ao músico britânico Roger Waters, famoso pela canção de protesto "Another Brick in the Wall", para que ele cancele um concerto em Israel, em sinal de solidariedade com sua luta contra a barreira que os israelenses estão erguendo na Cisjordânia.
O cantor e compositor do Pink Floyd é crítico declarado da barreira de 600 quilômetros de extensão que está sendo erguida dentro do território ocupado e à sua volta, mas surpreendeu muitos no Oriente Médio ao concordar em apresentar-se em Tel Aviv este ano.
O promotor do concerto, Shuki Weiss, disse que Waters se convenceu a vir a Israel depois da retirada israelense da Faixa de Gaza -- um território que os palestinos querem para incluir no Estado que pretendem erguer --, no ano passado, numa iniciativa anunciada como o rompimento de um dos impasses para o processo de paz.
Mas na quinta-feira um grupo de artistas palestinos anunciou ter escrito uma carta a Waters esta semana avisando que o show poderia enfraquecer o lobby contra a barreira, que é mundialmente condenada por efetivamente anexar a Israel várias áreas da Cisjordânia.
Israel descreve a barreira como proteção contra os homens-bomba que constituem a ponta de lança da revolta palestina iniciada há mais de cinco anos.
"Como é possível que alguém que quer ser visto no mundo como esquerdista -- combatendo o Muro de Berlim, em favor das fronteiras abertas e do amor entre os povos -- venha a Israel para promover um evento musical enquanto Israel ainda está erguendo o muro?", disse à Reuters Sliman Mansour, da Associação Palestina de Arte Contemporânea.
Mansour, que é um dos signatários da carta, disse que esta pede a Waters que cancele o show ou, pelo menos, faça outro para os palestinos. O músico já indicou que se opõe à realização de um boicote a Israel.
"Eu não excluiria a ida a Israel por desaprovar sua política externa, não mais do que eu me recusaria a me apresentar no Reino Unido por desaprovar a política externa de Tony Blair (o premiê britânico)", disse Waters, em comentários publicados pelo jornal britânico The Guardian.
Os palestinos vêem a barreira, especialmente os trechos em que corta a parte oriental e árabe de Jerusalém, como símbolo da repressão feita por Israel de suas esperanças de independência.
Autoridades israelenses dizem que apenas 6 por cento da barreira completada será uma muralha de fato, e que a obra pode ser derrubada ou mudar de percurso se a violência parar e as conversações de paz forem retomadas.
Mas essas declarações não são muito ouvidas, já que o Hamas, grupo militante islâmico engajado com a causa da destruição do Estado judaico, chegou ao poder nas eleições palestinas de 25 de janeiro.
Entretanto, Weiss disse que Waters sentiu-se encorajado com a retirada da Faixa de Gaza e achou que é preciso dar uma chance à paz, ao mesmo tempo em que mantém sua oposição à barreira erguida na Cisjordânia.
"Sua mensagem é de paz e coexistência, dizendo que os muros devem ser substituídos por pontes", disse Weiss.
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