O hit de Raul Seixas que Jay Vaquer pediu para retirar seu crédito com medo da ditadura
Por Gustavo Maiato
Postado em 23 de dezembro de 2024
Raul Seixas, ícone do rock brasileiro, desafiou a repressão da ditadura militar no Brasil com músicas de protesto. Um episódio emblemático dessa relação entre música e política envolve o seu guitarrista na época Jay Vaquer, que colaborou em várias canções de Raul, mas optou por não ter seu nome associado a músicas com temas politicamente sensíveis.
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Em entrevista ao canal Disco Voador, Jay explicou o motivo de sua decisão: "O ‘Krig-Há, Bandolo’, com o Paulo Coelho, foi um dos melhores do Raul. Estávamos procurando alguém como ele, que era jornalista, para dar proteção ao Raul, por causa da política. O Raul era contra o governo, ele detestava o governo brasileiro. O pai dele trabalhou na estrada de ferro na Bahia e, durante a revolução de 1964, eles tiraram a casa do pai dele. Depois, revenderam para ele, e ele teve que pagar. O Raul dizia que o governo era ladrão."
Jay detalhou como a censura moldava suas decisões criativas. "Ele estava com algumas metáforas que eu achava muito na cara. Achava que eles iam pegar ele. Por isso, pedi para não botar meu nome nas músicas que eu fiz, porque eu já tinha sido avisado pela censura que poderia ser expulso. Eu não queria arriscar isso. Podia botar que eu fiz o arranjo, mas não diz que eu dei a ideia ou fui cúmplice. Uma que fiz e não tem meu nome é a ‘As Minas do Rei Salomão’. Ela está sem meu nome."
A parceria, no entanto, seguiu em outras direções. "No disco ‘Há Dez Mil Anos Atrás, tenho parcerias creditadas, porque não eram músicas com assunto político. Estávamos no estúdio gravando e faltavam músicas. Ele pediu para eu subir e pensar em algo. Peguei a guitarra e escrevi em uma hora. Desci e mostrava. Na ‘O Dia da Saudade’, o Raul me pediu pra fazer porque queria uma música com um coro que foi usado pelos Beach Boys e Beatles."
Raul Seixas não se limitava a metáforas para criticar o regime militar. Em 1980 ou 1981, durante uma visita a uma rádio, protagonizou um episódio que ficou marcado pela ousadia. Maria Juça, diretora da casa de shows Circo Voador, contou ao Corredor 5 sobre o dia em que Raul fez um discurso inflamado ao vivo.
"Ele pegou e começou a fazer um discurso desafiando todas as forças repressoras da ditadura", relembrou Maria. "Ele dizia: ‘Vocês estão com as mãos cheias de sangue e torturando. Vocês impuseram barbaridades ao Brasil e não são nada. São uns fracos. Eu com microfone na boca e sem nenhum tiro mobilizo muito mais pessoas e faço mais revolução do que a ditadura vai conseguir conter.’"
A transmissão foi interrompida após cinco minutos, mas o impacto foi imediato. A diretora da rádio pediu que Maria se afastasse por alguns dias, mas ela retornou ao trabalho logo depois.
A repressão não era apenas ameaça na vida de Raul. Ele relatou, em 1988, durante entrevista à Rádio Nacional de Brasília FM, como foi preso e torturado por agentes do Departamento de Ordem Política e Social (Dops).
"Eu fui pego na pista do Aterro [do Flamengo] quando voltava de um show. Um carro do Dops barrou o meu táxi, e eu fiquei nu com uma carapuça preta na cabeça. Fui para um lugar que, se não me engano, era Realengo. Um lugar subterrâneo, que tinha limo. Eu tateava as paredes e sentia limo", contou Raul.
Ele relatou as sessões de tortura que sofreu por três dias: "E vinham cinco caras me interrogar. Tinha um bonzinho, um outro bruto que me dava murro, um que dava choque elétrico em lugares particulares e tudo. Sabe, cada um tinha uma personalidade. Era uma tortura de personalidade. Eu não sabia quem vinha. Só sentia os passos. Eu pensava, era o cara que batia."
Após esse episódio, Raul foi exilado nos Estados Unidos por um ano. Apesar da brutalidade, ele aceitou o convite para retornar ao Brasil após o sucesso do álbum "Gita". "Tava com muita saudade", disse.
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