Será que o mundo realmente precisa de uma reunião do Sepultura?
Por Mateus Ribeiro
Postado em 17 de fevereiro de 2025
Maior representante do metal sul-americano, o Sepultura foi responsável por inserir o Brasil no mapa da música pesada, uma conquista louvável, que merece ser relembrada e celebrada. Fundado por Max Cavalera (guitarra/vocal) e Iggor Cavalera (bateria), o grupo se notabilizou pela sua sonoridade agressiva, veloz e repleta de identidade, como pode ser ouvido nos clássicos "Beneath the Remains" (1989), "Arise" (1991), "Chaos A.D." (1993) e "Roots" (1996).
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A saída de Max Cavalera
Foi durante a tour do último disco citado no parágrafo anterior que o Sepultura passou pelo momento mais conturbado de sua história: a saída de Max Cavalera. O frontman, que participou da composição das obras mais famosas da banda, deixou o quarteto em dezembro de 1996, e a separação não foi nada tranquila, como aponta entrevista concedida pelo músico ao canal HEAVY1 TV (via Blabbermouth).
Na entrevista em questão, Max relembrou seu enteado Dana Wells, falecido em agosto de 1996. Segundo o veterano headbanger, a esposa de um dos integrantes do Sepultura tentou acelerar o enterro, o que o deixou chateado.
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"Estávamos na Inglaterra, prontos para fazer o festival [Monsters Of Rock] em Donington com Ozzy. E recebemos a notícia de que Dana havia morrido. Minha esposa ficou totalmente desesperada. Eu sou o marido dela, tenho que confortá-la. Então, voltei para os Estados Unidos para ficar com ela. Mais tarde, descobri que a esposa de Andreas [Kisser, guitarra] tentou mover o corpo (...) e tentou enterrá-lo rapidamente para que pudéssemos voltar à turnê (...). Eu pensei: ‘Quem faz isso?. Isso me fez pensar seriamente sobre as pessoas com quem estou fazendo música."
Max deixou o Sepultura alguns meses após o falecimento de Dana, mais precisamente, em dezembro de 1996. Ele citou que os seus ex-companheiros de banda armaram um "motim" contra a empresária Gloria Cavalera (sua esposa).
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"Depois ficou pior porque, por fim, eles se uniram, inclusive meu irmão - não posso tirá-lo dessa história; ele fez parte dela -, foi como um motim. Os três caras contra mim e contra a Gloria. Então, eles não falavam com ela.
Aquela última turnê europeia, foi pura miséria; foi miserável. É claro que isso não se refletiu na música; a música era ótima e os shows eram ótimos. Mas as outras 23 horas do dia eram uma miséria. Por fim, seu contrato foi encerrado. Sempre dizem na imprensa que ela foi demitida por aqueles caras [da banda], mas isso não é verdade. Seu contrato estava realmente encerrado; ela decidiu não renová-lo. Na verdade, ela me disse: 'Não quero renovar. Vá com eles se quiser. A escolha é sua. Não me obrigue a impedi-lo’. E eu simplesmente não consegui fazer isso [continuar no Sepultura] por causa de coisas como essa."
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A saída de Iggor Cavalera
Apesar do baque, o Sepultura continuou na ativa. Derrick Green foi escolhido como vocalista da banda, enquanto Max Cavalera montou o Soulfly, que é seu principal projeto até os dias atuais.
Em 2006, o Sepultura passou por outra mudança. Dessa vez, Iggor Cavalera decidiu seguir seu próprio caminho. Quando anunciou sua saída, o talentoso baterista alegou incompatibilidade de ideias.
A reconciliação dos Cavalera
Por uma década, Iggor e Max Cavalera ficaram afastados. Os irmãos voltaram a se falar depois que o batera deixou o Sepultura. A ideia de se reconciliar partiu do primeiro aqui citado, que falou sobre o tema à Metal Hammer em 2008.
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"Havia motivos pessoais, motivos familiares, o fato de ele ser meu irmão. Eu não queria que meus filhos crescessem e não conhecessem Max. E também a situação do Dimebag [Darrell, guitarrista do Pantera que foi assassinado em 2004] afetou a mim e ao Max, porque conhecíamos bem os dois [Dimebag Darrell e seu irmão, o baterista Vinnie Paul]. Isso nos fez pensar no que faríamos se isso acontecesse conosco. Não era uma situação agradável para me encontrar, então decidi ligar, independentemente do resultado."
Após se reconciliaram, Max e Iggor fundaram o Cavalera Conspiracy. O grupo permanece na ativa, e em 2023, a dupla regravou os primeiros trabalhos do Sepultura.
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O anúncio da tour de despedida do Sepultura
Iggor foi substituído por Jean Dolabella, que em 2011 cedeu seu lugar a Eloy Casagrande. Sob a batuta de Andreas Kisser, o Sepultura continuou fazendo shows em vários lugares do Planeta e lançando discos, com destaque para "Quadra", divulgado em 2020 e aclamado pela crítica.
O Sepultura estava vivendo um momento interessante, quando em dezembro de 2023 o mundo do metal virou de cabeça para baixo com uma notícia inesperada: a turnê de despedida, intitulada "Celebrating Life Through Death". O anúncio foi feito através de entrevista coletiva e de nota publicada no site oficial da banda.
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"O Sepultura vai parar. Vai morrer. Uma morte consciente e planejada. Nos próximos 18 meses, vamos celebrar 40 anos junto aos nossos fãs em uma tour de despedida que vai passar por todo o planeta. Celebrar acima de tudo o presente, o hoje. Um momento muito especial na nossa rica e vitoriosa carreira.
Depois de 40 anos de altos e baixos, 80 países visitados de diferentes culturas, de diferentes visões políticas e religiosas, levando as cores e ritmos brasileiros para o mundo, mostrando um Brasil mais realista e menos caricato, mais pesado e agressivo.
Depois de lançar o ‘Quadra’, um dos melhores álbuns da nossa história. Sobreviver a uma indesejável e insana pandemia através da SepulQuarta, uma experiência maravilhosa que virou um álbum e que nos manteve unidos e fortes seguindo em frente. Depois de mudanças e aprendizados, nós vamos parar."
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A possibilidade da reunião
Desde que a última tour do Sepultura foi anunciada, rumores sobre uma reunião com os irmãos Cavalera começaram a pipocar pela Internet. Até mesmo Andreas Kisser comentou a possibilidade de se reunir com seus ex-companheiros. Ao programa Conectados, da Rádio Transamérica, o guitarrista declarou o seguinte:
"Eu acho que a ideia de um último e derradeiro show, seria interessante ter os integrantes, inclusive, obviamente, eles. Nós temos o Jean Dolabella, o próprio Eloy, o Jairo Guedz, outros músicos que fizeram parte, como Roy Mayorga e o próprio Max e Iggor."
"Mas cara, isso é uma coisa que…isso vai ficar um pouco mais pra frente. Eu gostaria muito de convidar todo mundo, né? Mas isso não depende só da gente."
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"A gente não tem essa coisa de agressividade, ou ódio. Eu não tenho ódio nenhum do Max, respeito muito o Max e o Iggor (...). Se acontecer, vai ser lindo. Mas também, se não acontecer, vamos celebrar do mesmo jeito."
No que depender de Max Cavalera, a reunião com seus ex-companheiros não se concretizará. Ao menos é o que indica entrevista que ele concedeu ao Metal Injection em julho de 2024.
"Quanto mais o tempo passa, mais sinto que não preciso disso. Como eu disse, o verdadeiro reencontro é entre eu e o Iggor, e eu fiz isso. É pura magia, é incrível o que estamos fazendo agora. Você meio que tem que perceber que se acabarmos fazendo uma reunião do Sepultura, é quase como se não pudéssemos voltar para as coisas do Cavalera, sabe? Realmente não fará sentido (...). Então, sim, está definitivamente fora de questão.
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Você pode fazer a mesma pergunta a Iggor. Ele também não quer fazer isso. Acho que as pessoas podem simplesmente desistir, isso não vai acontecer, cara. Não vai acontecer."
Será que o mundo realmente precisa de uma reunião do Sepultura?
Pois bem, a "Celebrating Life Through Death" foi iniciada em março de 2024. A turnê passou por diferentes cidades das Américas, da Europa e da Ásia. Até o momento da edição desta nota, Max e/ou Iggor não participaram de nenhuma apresentação.
Apesar de Andreas ter se mostrado aberto à ideia da reunião, é difícil acreditar que os irmãos Cavalera voltem a fazer um show com o Sepultura. A dificuldade pode ser explicada através de um discurso que Max fez durante transmissão ao vivo publicada no Facebook do Soulfly em setembro de 2020. O guitarrista/vocalista soltou o verbo:
"Galera do Brasil, tô com a bandeira [do Brasil] atrás. Max Cavalera aqui detonando tudo com ‘Dead Embryonic Cells’ e não se esqueçam, esses são meus riffs. Não se esqueçam, os impostores estão aí no Brasil tentando convencê-los. Continuam tocando essas músicas até hoje, mas nunca se lembram de onde vieram esses riffs. Vieram daqui, tá bom? Vocês nunca se esqueçam disso, tá? E... os impostores nunca nem deram obrigado, esses filhos da puta aí do caralho. Então é isso aí, vocês não se esqueçam disso, dos riffs de Max Cavalera, ‘Dead Embryonic Cells’. Cada vez que vocês escutarem essas músicas, sabem de onde vem esses riffs, tá? Não é daquele bando de pau no cu, filho da puta. Então é isso aí, valeu galera do Brasil assistindo, um puta abraço pra vocês."
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Quanto a Iggor, o baterista também não parece muito interessado em uma reunião. Em 2022, quando concedeu entrevista ao youtuber Mike Nelson, ele afirmou (via Blabbermouth) que a "verdadeira reunião" é entre ele e o seu irmão.
"Eu tenho que ser honesto com você, cara. A reunião, na minha opinião, sou eu e meu irmão, essa é a pessoa com quem eu quero me unir. Então, para mim, se as outras coisas não acontecerem, não posso ficar muito chateado com isso. Claro, seria incrível, mas a verdadeira reunião para mim é apenas eu e meu irmão estarmos juntos. É isso que me deixa feliz."
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Para alguns, ver Max e Iggor ao lado de Andreas novamente é um sonho que pode ser realizado. Mas duas das três partes envolvidas aparentemente não se mostraram empolgadas com a ideia, o que dificulta "um pouco" as coisas.
Também deve-se levar em consideração que os protagonistas dessa história seguiram rumos diferentes. Iggor passou a se dedicar a outros projetos, o Sepultura continuou com sua base sólida de fãs e Max fez discos incríveis com o Soulfly, com o Cavalera Conspiracy e com o Killer Be Killed.
É notório que os álbuns mais aclamados do Sepultura contaram com as preciosas colaborações de Max e Iggor Cavalera. Andreas Kisser também merece os créditos não apenas por ter participado (como guitarrista e compositor) de tais discos, mas também por ter mantido o Sepultura em evidência por tantos anos. Logo, todos são muito importantes na história do nome mais emblemático da história do metal brasileiro e sul-americano.
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Embora alguns fãs sonhem com um "revival", ficou claro que o Sepultura sobrevive sem os irmãos Cavalera, que por sua vez, também se saíram muito bem com seus outros projetos. Sendo assim, fica a pergunta: Será que o mundo realmente precisa de uma reunião do Sepultura? Na opinião deste humilde redator, a resposta é simples: Não.
Quem quiser reviver os clássicos do Sepultura pode ouvir os álbuns lançados de 1985 até 1996 e assistir a shows antigos no Youtube. Já as pessoas que gostam da fase "nova" da banda, podem conferir as apresentações da competente formação atual. Quanto a quem admira Max, o que não falta é trabalho assinado pelo maior ícone do metal brasileiro. Seja com o Soulfly, seja com qualquer outra de suas bandas, ele continua mandando ver.
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No fim das contas, tem pra todo mundo. Dos fãs mais saudosistas aos que gostam do Sepultura sem Max e Iggor, todo mundo pode sair feliz. Basta curtir um som e seguir seu caminho, como os personagens dessa longa e movimentada história fizeram.
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As chances de uma reunião no último show do Sepultura
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