The Cramps e Johnny Cash: cadeias, hospícios e palcos
Por Paulo Severo da Costa
Postado em 29 de agosto de 2012
Ao filósofo ERASMO de ROTERDÃ (1466-1536) se atribui a máxima: "A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos". Nesse sentido, procurar coerência e causalidade em meio ao caos parece ser mesmo um exercício de esterilidade nesse mundo. Assim, a situação não poderia ser diferente no microcosmo do rock n´roll, a quintessência da doideira geral dos últimos cinqüenta anos.
Por mais diferentes que possam ser as biografias de um dos genitores do rockabilly, JOHNNY CASH, e dos mentalmente enfermos californianos do THE CRAMPS, uma coisa pode-se dizer: no critério "levar o som às massas", eles erigiram a literalidade da frase às últimas conseqüências. Se alguém acha que o máximo de inventividade em shows ao vivo foi tocar em um vulcão extinto ou em cima de um telhado, é porque ainda não conhece o "lado escuro" do backstage.
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Em 1968, CASH, então já aclamado e reconhecido mundialmente, bateu o pé na gravadora Columbia e avisou – ao modo cowboy cascudo de ser - que iria gravar uma apresentação para um seleto grupo de fãs do qual recebia cartas diariamente: os detentos da prisão Folsom, cuja identificação com o cantor nasceu da composição de "Folsom Prison Blues" e de sua fama de ex-presidiário - exagerada ao extremo, uma vez que CASH só ficara preso por um dia, anos antes.
O homem de preto (que já havia tocado lá havia dois anos), quebrou, claro, todos os protocolos, meteu o pau no sistema carcerário, levou a mulher JUNE CARTER para cantar com ele na frente de homens em celibato forçado e, para fechar com chave de ouro, tocou "Greystone Chapel" de GLEN SHERLEY - adivinhe- preso por assalto a mão armada e morador permanente daquele local. Não satisfeito, intercedeu junto ao governador, liberou o sujeito e realizou o sonho do mesmo se tornar cantor! (SHERLEY morreria em 1978).
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Dez anos depois, uma desconhecida banda, cheia de gente esquisita, capitaneados por um sujeito de aspecto "franksnsteineano" que atendia pelo nome de LUX INTERIOR e sua esposa, a guitarrista POISON IVY, fazia um de seus primeiros shows, ainda sem nenhum disco gravado. Nada de boteco ou ginásio: o local escolhido foi o Hospital Psiquiátrico Estadual de Napa na Califórnia. O set, curto, teve vinte minutos, foi toscamente filmado e, ao que parece o público foi bem receptivo. Ou talvez, não tenham entendido nada mesmo.
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Folsom Prison Blues (documentario):
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