Os Cramps e o Gótico: Semelhanças Visuais, Intenções Distintas
Por Diego Carreiro
Postado em 24 de julho de 2025
No final dos anos 1970, o pós-punk deu origem a novas vertentes culturais, entre elas o gótico, com sua estética definida e um clima introspectivo. Nesse mesmo período, os Cramps, conhecidos pela fusão entre rockabilly e cultura trash, passaram a ser, por vezes, associados ao universo gótico. Contudo, apesar de algumas semelhanças visuais, suas propostas eram bem diferentes.
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O gótico, consolidado no Reino Unido com bandas como Bauhaus e espaços como o Batcave, apostava num visual sombrio: roupas pretas, maquiagem branca, batom escuro e um ar de mistério. Foi nesse contexto que os Cramps, ao excursionarem pelo Reino Unido em meados de 1984, chegaram a ter o Specimen, um dos nomes associados ao gótico, como banda de abertura em alguns shows. A aproximação, no entanto, não veio da banda.
"Não tivemos nada a ver com o Specimen abrindo para nós", disse Lux Interior, vocalista dos Cramps, em entrevista à jornalista Fiona Russell Powell. A banda deixava claro que o que faziam era algo distinto, com motivações próprias e uma identidade artística definida.
Elementos visuais como velas, caveiras ou cenários de cemitério, presentes nos shows dos Cramps, remetiam muito mais aos filmes de terror dos anos 1950 do que a qualquer simbolismo profundo. Quando perguntados sobre esses itens, diziam, por exemplo, que as velas eram "presentes de fãs". Lux também comentou: "A gente costuma se afastar das coisas quando começa a ver todo mundo fazendo igual. Não dá mais para causar impacto quando as pessoas já sabem o que vem pela frente."

A estética podia até confundir, mas a lógica era outra. Os Cramps tinham mais a ver com energia, irreverência e a celebração do instinto do que com introspecção ou temas existenciais. "Muitos grupos supostamente influenciados por nós são obcecados pela morte. A gente fala muito mais sobre a vida", disse Poison Ivy, guitarrista e cofundadora da banda. Lux reforçou: "A gente está mais interessado na excitação da vida do que na ideia da morte."
Dessa forma, embora os Cramps possam ter sido visualmente associados ao gótico em certos momentos, sua proposta artística partia de um lugar distinto. Não se tratava de uma crítica ou rejeição ao movimento gótico, mas sim de uma reafirmação de que o universo criativo da banda seguia outros caminhos, mais ligados ao rock'n'roll primitivo do que a uma reflexão sombria sobre a existência.

Fonte: "The Wild Wild World Of The Cramps", de Ian Johnston.
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