Ghost: Qual é a alma do negócio?
Resenha - If You Have Ghost - Ghost
Por Mitsuo Florentino
Fonte: Afluentes do Rock
Postado em 29 de dezembro de 2013
Nota: 7 ![]()
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Nunca vi na história da música popular um fenômeno como o Ghost. Naturalmente que houve bandas/grupos/artistas que causaram um impacto semelhante, como ocorreu no final dos anos 60, com os movimentos de shock rock e occult rock, sendo liderados por Alice Cooper e Coven, respectivamente. Um pouco depois, no início dos anos 70 tivemos bandas como o Black Sabbath, Led Zeppelin, Pagan Funeral e Pentagram falando sobre ocultismo e (ou) satanismo, junto com uma música pesada. Nos meados da mesma década tivemos os maquiados do Kiss, banda que combinou todos os movimentos "do lado obscuro do rock" citados nesse fragmento de texto. Talvez o choque causado pelo Kiss tenha sido muito maior que o que o Ghost causa, devido ao contexto da época, entretanto, a promoção e a repercussão do Kiss foi muito menor do que a do Ghost. Analisando a proposta da banda e sua música, partindo do EP recém lançado pela banda, vamos tentar entender o motivo de tanto sucesso.
A Propaganda...
É deliciosamente irônico saber que os headbangers/rockers discutem sobre essa banda de uma maneira semelhante a que os religiosos/irreligiosos discutem sobre qualquer assunto relacionado a fé e religião: com muito extremismo. E por que isso é irônico? Basta lembrar da proposta "satânica" da banda, que mais parece uma piada. Virou algo comum, existem duas grandes parcelas: aqueles que adoram a banda, e aqueles que odeiam ela, muitos amam pela criativa musicalidade da banda: metal tradicional, com toques de doom, psicodelia, pop e de rock alternativo... Assim como existem muitos que odeiam a banda justamente pelo mesmo motivo. O fato é que os que dizem odiar a banda, apresentam muitos outros argumentos além da música, que os mesmos consideram fraca,então normalmente são citadas coisas como a proposta satânica, a grande teatralidade, a rápida ascensão ao mainstream, uma hipotética superestimação da mídia e do público, e uma última coisa: o grande truque de marketing. Pois bem, eu sou alheio a todas essas coisas "negativas" que muitos observam, e inclusive considero algumas positivas. Não citarei exemplos, mas sim um único exemplo, que engloba todos os pontos a serem analisados: o marketing. Perante a banda, todos esses pontos negativos são positivos justamente pelo marketing. A qualidade "duvidosa" da música? Sem problemas, vai ter quem deteste e reclame, assim como vão ter os que gostam e que vão rebater os que não gostam, gerando intermináveis discussões, e aumentando cada vez mais a popularidade deles. A teatralidade e o satanismo aliados a uma música acessível às grandes massas? Melhor ainda, porque se é acessível, abrange muito mais gente, inclusive aqueles que não gostam da proposta lírica deles e vão reclamar, gerando cada vez mais burburinho e polêmica em torno da banda, fazendo-os crescer como um nome. O hype? Não é segredo, uma banda hypada é sempre muito mais exposta na mídia e no povo do que aquelas que não são (Deafheaven mandando abraços). E exposição, tem algo mais satisfatório do que isso para uma banda?
Pois é, o Ghost fez um ciclo vicioso, criou uma máquina de sucesso, um jackpot, se tornou um jogo de azar, onde os outros perdem e ele ganha, um verdadeiro caça níquel (e sucesso). É um jogo de marketing sombrio, maquiavélico, onde tudo agrega algo positivo para o Ghost, porque ao passo que surgem três odiando a banda (e trazendo mais IBOPE para ela), surgem mais cinco achando a banda um máximo (e também dando IBOPE e consumindo seus produtos), então falando como uma boa adolescente bobinha, a mensagem que o Ghost passa é "o seu recalque me faz famosa". E nesse caso, ao contrário do que dizem as garotinhas, é verdade. O Ghost é uma propaganda embalada por uma trilha sonora de extremo bom gosto.
Mas agora, que a breve introdução dessa resenha passou, lembrem-se de duas coisas que eu disse: "É um jogo de marketing sombrio, maquiavélico, onde tudo agrega algo para o Ghost" e "O Ghost é uma propaganda embalada por uma trilha sonora de extremo bom gosto", feito isso, lembrem-se da proposta lírica do Ghost, a mensagem que eles querem passar... A propaganda não é realmente a alma do negócio?
... E sua trilha sonora
Agora que falamos da propaganda, vamos falar da trilha sonora dessa propaganda. Lançado pouco tempo depois do excelente Infestissumam, o EP If You Have Ghosts apresenta covers, que primeiramente parecem inusitados, mas apenas primeiramente, porque mostram todas as influências não metal que a banda absorveu.
A primeira faixa, que também da nome ao EP, é um cover de Roky Erickson, músico que atingiu certa popularidade nos anos 60 por participar dos psicodélicos The 13th Floor Elevators, e que ficou conhecido por usar e abusar de temas obscuros em suas letras. Alguma dúvida do quão bem escolhida foi a música?
Embora ela não compartilhe muito da psicodelia do 13th Floor, a música original tem uma pegada próxima do glam setentista, e é quase desnecessário dizer que ela é excelente. O Ghost fez aqui uma versão diferente da original, mais moderna e com um apelo pop muito maior. Destaque para os arranjos de corda durante a música e as bem feitas camadas de órgão presentes em vários momentos, que dão certa lisergia ao som, cristalino, devido a produção moderna e bem feita de Dave Grohl. Em seguida, temos o cover de I'm a Marionette do ABBA. Admito, sou fã de carteirinha do ABBA, e considero eles uma das melhores bandas dos anos 70. Suas melodias cativantes, os trabalhos vocais sempre além do esperado, os arranjos bem encaixados e inteligentes, e se engana quem pensa que todas as letras são bobinhas como em Dancing Queen. E I'm a Marionette está aqui para provar isso (assim como provam as letras quase power metal de Eagle, ou até mesmo a inacreditavelmente sombria letra de Gimme Gimme Gimme! (A Man After Midnight), só para citar outros exemplos). Embora a escolha tenha sido muito bem feita (uma música pop com letra macabra), o Ghost pecou na execução dessa música, deixando muito aquém da original, sem a inspiração tétrica da original, sem os arranjos belíssimos e principalmente: sem o feeling que ela passa. Lamento senhores encapuzados das trevas, mas essa música foi feita sob medida para Agnetha Fältskog e Anni-Frid Lyngstad. E ninguém mais.
A próxima faixa, Crucified do Army of Lovers segue o mesmo padrão de escolha de I'm a Marionette, uma canção sombria de uma banda pop. Mas aqui eles acertaram perfeitamente, criando uma atmosfera sombria e ameaçadora nos versos, que contrasta com o refrão falsamente ensolarado, transformando a canção original, que apesar da presença do órgão de igreja e das letras é bem animada, numa música realmente digna da proposta (não que eu não goste da original, na realidade também gosto muito de Army of Lovers). Agora os arranjos tétricos são existentes, e se fazem presentes na maior parte dela, os vocais são muito bem feitos (nem tanto quanto na original, mas isso seria quase impossível) e é cativante. Deleite músical.
O último cover, é uma versão de Waiting for the Night do Depeche Mode, ficou bom, é vero, mas não me cativou profundamente. A música, originalmente hipnótica, ganhou uma roupagem nova, doom e mais sombria, além de toques bem feitos no órgão hammond, e ela pode acabar sendo facilmente confundida com uma música própria dos Suecos. Acabou não sendo um destaque no total, mas foi bem posicionada, porque sendo um tanto quanto lenta e arrastada, se tornou um bom preparativo para a versão ao vivo de Secular Haze, que todos nós conhecemos, e que é praticamente igual a aquela contida no Infestissumam.
De fato, esse EP não é nenhuma obra prima, os dois álbuns de estúdio foram muito superiores, mas não deixa de ser um bom registro. Alternando momentos bons e excelentes com alguns meio fraquinhos, o EP fica sendo uma boa pedida para os fãs do Ghost e para os fãs das bandas que foram homenageadas (aliás, que belo repertório escolhido), mas não indicaria para alguém que queira começar a escutar a banda.
Ficha técnica:
Álbum: If You Have Ghosts (EP)
Banda: Ghost
Ano: 2013
Gravadora: Republic, Loma Vista Recordings
Tracklist:
01. "If You Have Ghost" (Roky Erickson cover)
02. "I'm a Marionette" (ABBA cover)
03. "Crucified" (Army of Lovers cover)
04. "Waiting for the Night" (Depeche Mode cover)
05. "Secular Haze (live)" (Recorded live at the Music Hall of Williamsburg)
Lineup:
Papa Emeritus II: vocals
Nameless Ghouls: all instrumental
Convidados:
Dave Grohl: rhythm guitar on "If You Have Ghost", drums on "I'm a Marionette" and "Waiting for the Night", production
Derek Silverman: organ on "If You Have Ghost" and "Waiting for the Night", piano on "Crucified"
Jessy Greene: violin and cello on "If You Have Ghost"
Rogerio Antonio dos Anjos | Everton Gracindo | Thiago Feltes Marques | Efrem Maranhao Filho | Geraldo Fonseca | Gustavo Anunciação Lenza | Richard Malheiros | Vinicius Maciel | Adriano Lourenço Barbosa | Airton Lopes | Alexandre Faria Abelleira | Alexandre Sampaio | André Frederico | Ary César Coelho Luz Silva | Assuires Vieira da Silva Junior | Bergrock Ferreira | Bruno Franca Passamani | Caio Livio de Lacerda Augusto | Carlos Alexandre da Silva Neto | Carlos Gomes Cabral | Cesar Tadeu Lopes | Cláudia Falci | Danilo Melo | Dymm Productions and Management | Eudes Limeira | Fabiano Forte Martins Cordeiro | Fabio Henrique Lopes Collet e Silva | Filipe Matzembacher | Flávio dos Santos Cardoso | Frederico Holanda | Gabriel Fenili | George Morcerf | Henrique Haag Ribacki | Jorge Alexandre Nogueira Santos | Jose Patrick de Souza | João Alexandre Dantas | João Orlando Arantes Santana | Leonardo Felipe Amorim | Marcello da Silva Azevedo | Marcelo Franklin da Silva | Marcio Augusto Von Kriiger Santos | Marcos Donizeti Dos Santos | Marcus Vieira | Mauricio Nuno Santos | Maurício Gioachini | Odair de Abreu Lima | Pedro Fortunato | Rafael Wambier Dos Santos | Regina Laura Pinheiro | Ricardo Cunha | Sergio Luis Anaga | Silvia Gomes de Lima | Thiago Cardim | Tiago Andrade | Victor Adriel | Victor Jose Camara | Vinicius Valter de Lemos | Walter Armellei Junior | Williams Ricardo Almeida de Oliveira | Yria Freitas Tandel |
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