Resenha - American Idiot - Green Day
Por Wladimyr Cruz
Postado em 15 de setembro de 2004
Suicidio comercial. Genial. Esquisito. Perfeito. Conceitual. Este é "American Idiot".
A molecada vai odiar, acredito que até os fãs mais devotos não entenderão o álbum de primeira, mas a verdade é: "American Idiot" é um passo inédito na carreira do Green Day. Se em "Warning" eles deixaram bem de lado o espírito punk-teenager, aqui eles mostram que na verdade são adultos, músicos e absolutamente 'I don't care' em relação aos padrões e a mídia. Pode ser mais punk que isso?
Começando pela parte de fora do produto, podemos dizer que o encarte e capa de American Idiot são um dos mais belos já produzidos pelo Green Day, tudo muito forte, preparando bem o ouvinte para o conteúdo.
Segue abaixo o faixa-a-faixa mais detalhado possível do disco. Divirta-se.
1. American Idiot - O primeiro single, a primeira faixa e música título. Com o mesmo pique da época "Dookie" e "Insomniac", Billie Joe, Mike e Tré vendem uma imagem falsa do que será o álbum, e cospem na cara do ouvinte uma das letras mais (se não a mais) politicas da carreira do conjunto. Quando Billie canta "welcome to a new kind of tension / all across the alienation / everything isn't meant to be ok", parece que o trio já sabe que "American Idiot" é realmente uma revolução na vida do grupo. Enfim, esta primeira faixa agarra o antigo fã de Green Day pelo coração, é o trio fazendo o que sabe de melhor. Pop-punk class of 94 forever.
2. Jesus of Suburbia - Aqui começa a piração real. É fato consumado de que o Green Day sempre admirou o trabalho do The Who, então por que não fazer seu próprio "Tommy"? Aqui está. Acredito que "Jesus Of Suburbia" é baseado, ou ao menos inspirado, no texto "Budha Of Suburbia", grande clássico do teatro/literatura marginal. Mais uma idéia de que a música é inspirada no "Budha..." é o fato de ela ser dividida em cinco partes, que são praticamente cinco músicas distintas: "Jesus of Suburbia", "City Of The Damned", "I Don't Care", "Dearly Beloved" e "Tales Of Another Broken Home". A primeira parte é a mais forte de todas, principalmente pela letra, já a segunda tem um jeitão 80's, meio balada, até meio post-hardcore diria. A terceira parte é a mais apoteótica e punk, o que seria o clímax da história, com toda a letra se amarrando. A quarta parte é sombria, linda, roqueira. No final da história o instrumental cresce e fica totalmente apoteótico, incluindo ai um curioso riff exatamente igual ao de "Ring Of Fire" do saudoso Johnny Cash. Sem dúvida "Jesus Of Suburbia" é a faixa mais complexa, estranha e bem amarrada da história do Green Day. Foda!
3. Holiday - O disco não perde o pique, e "Holiday" vem com aquele jeitão "Warning", mais uma vez com uma letra forte, seguindo a temática politica/social/metafórica do disco. Chances de ser hit? zero.
4. Boulevard Of Broken Dreams - Logo seguida da faixa anterior, sem pausa, começa essa linda balada, totalmente diferente de tudo que o Green Day já fez. Confesso que a melodia me recordou muito os melhores momentos do Oasis. Piano, violão, efeitinhos e um vocal de tons inéditos dão o brilho na música mais bonita do disco.
5. Are We Waiting - Mais uma balada, essa com um puta jeitão 80's UK. Não se parece com nada que o Green Day já tenha feito antes. Realmente linda.
6. St. Jimmy - Se você ainda não desistiu de ler essa resenha ou de ouvir o disco até aqui, então prepare-se, lá vem o Green Day de antigamente, mas ainda mais punk. "St. Jimmy" poderia estar em qualquer disco do Rancid. Street-punk nervoso e pesado. Lembra alguns dos melhores momentos do Sham69.
7. Give Me Novacaine - De título dúbio, essa faixa é mais uma boa balada, mas balada com guitarras, algo meio "Warning", exceto pela guitarra "slide" (!!!) no meio da canção. Depois de ouvir esta, irá imaginar: "como eles irão tocar isso ao vivo logo seguido de "Welcome To Paradise" ou "2.000 Light Years Away"?
8. She's a Rebel - Opa! Essa parece b-side do "Nimrod.". Punk rock 3 acordes com inspiração pura no Hüsker Dü. Tem tudo pra ser hit e entrar no hall de fodonas ao lado de clássicos como "Basketcase" e "She".
9. Extraordinary Girl - Quando tudo parecia ter voltado ao normal, a loucura volta. Esta faixa começa com uns atabaques arábes e cai num power-pop digno de Beatles e Weezer. Letra linda. Perfeito.
10. Letterbomb - A carta-bomba do Green Day foi o segundo mp3 a vazar pela internet e também lembra a época "Warning"/"Nimrod.". Uma das poucas faixas 'normais' do disco.
11. Wake Me Up When September Ends - Mais uma balada. Nada demais. Música neutra, mas bem bonita.
16. The Death Of St. Jimmy - Aqui começa a loucura de novo. Mais uma faixa dividida em partes. São elas "The Death Of St. Jimmy", "East 12th St.", "Nobody Likes You", "Rock and Roll Girlfriend" e "Homecoming". Nesta faixa a história vai chegando ao seu final, a história vai se resolvendo e o sentimento de que "American Idiot" é um disco único e bizarro se concretiza. Os estilos se misturam. Baladas, mais power-pop e punk rock se mesclam.
17. Whatsername - E a saga termina, de forma melancólica, refrãozinho sing-along, quase emo.
Ufa! Enfim, o disco realmente parece uma trilha sonora de algum filme/peça de teatro que nunca existiu, e se você for acompanhando as letras, verá como tudo é bem amarrado e forma realmente um disco conceitual.
O Green Day passou dos limites, chegou ao ápice de sua criatividade, cara-de-pau e loucura musical, e o triste disso tudo é que provavelmente todo esse conteúdo não será assimilado pelos fãs da banda, que dirá pela massa. Tudo cabeça demais para a molecada engolir. É como se "American Idiot" fosse o "Load" do Metallica. Meu veredito? Porra, é Green Day, a maior banda punk dos anos 90, e talvez a maior promessa do rock no novo milênio.
Outras resenhas de American Idiot - Green Day
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps