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Por Bruce William
Postado em 27 de dezembro de 2025
Em 2020, quando completou 60 anos, Bono publicou no site oficial do U2 uma lista com "60 canções que salvaram sua vida" e, junto dela, uma série de cartas curtas para artistas e pessoas ligadas a essas músicas.
No trecho que interessa aqui, ele escreve direto para Julian Lennon e começa lembrando que a carreira solo dos Beatles sempre o acompanhou em algum momento. Ele passa por George, Ringo, Paul e Linda, e vai montando o cenário como quem diz: "isso aqui me formou também".
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Aí vem a virada: quando o assunto é "mães", Bono diz que John Lennon foi mais longe. Ele escreve: "Mas quando o tema é mãe, John Lennon foi lá com 'Mother'... e isso deve ter doído por um bom tempo antes de virar cura".
Na mesma carta, ele encara um detalhe que costuma aparecer em biografias e entrevistas, mas aqui ganha forma de confissão de compositor. Bono coloca assim: "Eu venho escrevendo uma versão dessa música a minha vida inteira". E completa com uma leitura bem específica do rock: "Tantos roqueiros escrevem de um lugar de abandono para um lugar de abandono... no hip hop muitas vezes é o pai, mas no rock, muitas vezes, é a mãe".
O ponto interessante é que ele não está falando de "influência" no sentido genérico. Ele está dizendo que "Mother" virou uma espécie de matriz emocional e narrativa: uma música que não fica só na memória do fã, mas que entra na mão do compositor e começa a reaparecer, disfarçada, em outras canções.
Para situar: "Mother" foi lançada no álbum "John Lennon/Plastic Ono Band" (1970), um dos discos mais crus do Lennon fora dos Beatles, e a faixa também saiu como single nos EUA no fim daquele ano.
E tem um detalhe que dá o tamanho do elogio torto do Bono: ele não romantiza a dor. Ele reconhece que ali tem uma ferida exposta - e, justamente por isso, entende por que essa música continua "voltando" na vida de quem escreve. Em silêncio, muita gente tenta fazer a própria versão; Bono só teve a honestidade de admitir isso em público.
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