Green Day: 10 anos do álbum que abalou estruturas do mainstream
Resenha - American Idiot - Green Day
Por GDNSI
Postado em 25 de agosto de 2014
E 10 anos se passaram... Após o sucesso de "Dookie" em 1994, o Green Day foi gradativamente perdendo espaço nas grandes mídias do Rock Mainstream apesar do lançamento de registros sólidos como "Insomniac", "Nimrod" e "Warning", pelo menos até 2004, quando o power trio chocaria o mundo ao quebrar seus próprios padrões e lançar a "ópera punk" chamada "American Idiot", um disco carregado de críticas explícitas ao governo Bush, contadas através dos devaneios de um personagem punk alcunhado de "Jesus of Suburbia", além de ser também o álbum que levou o Green Day ao status da banda punk que mais vendeu discos na história, tal qual o Metallica para o Metal.
A faixa-título e principal single abre o disco com a energia eletrizante dos 3 acordes lendários tocados por Billie Joe Armstrong enquanto o mesmo grita sua poesia antiamericana. Impressionante pensar como as rádios dos Estados Unidos na época tinham coragem de tocar uma música que passa uma mensagem tão explícita.
"Jesus of Suburbia" impressiona por possuir 9 minutos e ser dividida em 5 partes ("Jesus of Suburbia", "City of The Damned", "I Don’t Care", "Dearly Beloved" e "Tales of Another Broken Home"), algo incomum para uma banda punk (ou pop punk). A canção apresenta o personagem em sua personalidade de jovem desajustado e vítima de colapsos constantes. Musicalmente o Green Day parece ter trabalhado a canção de modo que soe como outras 5 menores conectadas, passando por momentos hardcore, alternativos, românticos e etc.
"VIVA LA REVOLUCIÓN!" é como Armstrong costuma evocar a faixa número 3 quando é tocada ao vivo. "Holiday" se trata de mais um ataque lírico político bastante explícito e também é outro grande single do disco. Segundo Billie Joe, a música foi composta como um hino anti-guerra, devido ao fato de que na época os EUA iniciavam sua ocupação de quase 8 anos ao Iraque.
"Boulevard of Broken Dreams" é outro grande sucesso do Green Day cuja letra descreve a caminhada do personagem apresentado na faixa 2 numa rua vazia onde o mesmo contempla a própria solidão. A música é um grande desafeto de Noel Gallagher do Oasis, que jura de pés juntos que se trata de um plágio do sucesso "Wonderwall".
"Are We The Waiting" e "St. Jimmy" são dois lados da mesma moeda consistindo em um momento tranquilo com um refrão próprio para grandes estádios e outro completamente hardcore. As canções apresentam a personalidade anti-herói da trama, Jimmy, um rebelde psicótico.
"Give Me Novacaine" mostra um lado mais alternativo do Green Day musicalmente falando, bem diferente do Hardcore jovial de "Dookie", no qual a banda se utiliza de uma slide guitar. A música parece não passar de uma descrição de "Jesus" e "Jimmy" (personagens que segundo Billie Joe, podem ou não ser o mesmo) sob os efeitos da novocaína.
"She’s A Rebel" e "Extraordinary Girl" descrevem a última personagem da trama, a garota sem nome, de maneiras diferentes. A primeira soa quase como um B-Side do disco "Nimrod" por se basear na simplicidade dos 3 acordes típica do punk enquanto a segunda se inicia com uma batucada de tambores exóticos para cair numa atmosfera bem pop-punk que ostenta um ótimo refrão.
"Letterbomb" lembra a abordagem mais tradicional da banda e é um ponto chave da trama, no qual ocorre uma espécie de colapso de "Jesus" ao ler a carta de adeus da garota sem nome. A letra parece sob vários aspectos um questionamento do personagem a respeito de suas próprias convicções e carrega uma ótima mensagem.
"Wake Me Up When September Ends" é outro hit máximo do Green Day e uma música carregada de mensagens e sentimentos. Em 2004 os EUA ainda atravessavam um clima de luto, medo e angústia devido ao atentado do 11 de Setembro e não é à toa que a canção é a faixa 11 do álbum, mas essa não é a única faceta da peça já que Billie Joe aproveita a deixa para explorar seu lado sentimental de maneira mais forte do que nunca, já que o mesmo bota para fora 20 anos de luto reprimido pela morte de seu pai, o homem que lhe deu sua primeira guitarra nos seus últimos meses de vida, que coincidentemente também faleceu em setembro. Tudo isso colabora para que "September" seja definitivamente outro ponto altíssimo de "American Idiot" e a balada-mor do Green Day. Difícil achar alguém que nunca tenha ouvido o dedilhado da canção pelo menos uma vez.
"Homecoming" é outro épico que mostra a resolução de cada personagem dentro da trama. É definitivamente a canção mais viajada do trabalho, fazendo uso de artifícios como sons ambientes, sinos, saxofone, piano e tambores, além de também ser dividida em 5 partes, tal qual "Jesus of Suburbia". Algumas das características marcantes de "Homecoming" são a participação do baixista Mike Dirnt e do baterista Tré Cool nos vocais principais e o seu encerramento grandioso em tom de marcha. É possível escutar muitas nuances que a banda quis incorporar ao seu som nessa música em específico, desde uma pitada de The Who até Beatles.
Se "American Idiot" é o prólogo, "Jesus of Suburbia" o capítulo inicial e "Homecoming" o capítulo final... "Whatsername" é definitivamente o epílogo dessa louca aventura de pouco menos de uma hora. Mas a canção está longe de ser grandiosa ou eletrizante, na verdade se trata mais de uma despedida das mais soturnas, na qual é possível identificar o personagem principal, "Jesus", claramente sequelado pelas suas experiências ao lado da garota sem nome. Após escutar o número final de "Idiot" é possível identificar que o trabalho se guia por uma abordagem bastante extremista que revela desde o lado mais político até o lado mais sensível do grupo.
Bom ressaltar que na mesma época do lançamento do "American Idiot" o Green Day também colaborou com uma canção para o segundo volume da compilação "Rock Against Bush" chamada "Favorite Son", onde mais uma vez a banda ridiculariza o então presidente dos Estados Unidos com suas metáforas caricatas.
O álbum rendeu ao Green Day sua maior turnê até então, onde a banda tocou em estádios para grandes audiências, além de receberem uma proposta da Broadway para transformar a história de "American Idiot" num grande musical que seria reproduzido pelos músicos profissionais do grupo (musical no qual algumas músicas do disco posterior da banda "21st Century Breakdown" também pegaram carona). Até mesmo a ideia de produzir um filme baseado na trama do disco já foi cogitada e aparentemente isso irá ocorrer visto que o roteirista Robin Jones Will afirma que terá um roteiro pronto ainda em 2014.
Resumindo... esse trabalho é definitivamente um dos maiores discos de Rock Mainstream da década passada e suas músicas marcaram uma geração, além de ser um trabalho carregado de um valor crítico e político altíssimo, especialmente se for analisado no contexto do ano em que foi lançado.
Tracklist:
1. American Idiot – 2:57
2. Jesus of Suburbia – 9:07
o I. Jesus of Suburbia – 1:50
o II. City of the Damned – 1:51
o III. I Don´t Care – 1:39
o IV. Dearly Beloved – 1:10
o V. Tales from Another Broken Home – 2:38
3. Holiday – 3:52
4. Boulevard of Broken Dreams – 4:20
5. Are We the Waiting – 2:42
6. St. Jimmy – 2:55
7. Give Me Novacaine – 3:25
8. She´s a Rebel – 2:05
9. Extraordinary Girl – 3:33
10. Letterbomb – 4:06
11. Wake Me Up When September Ends – 4:45
12. Homecoming – 9:18
o I. The Death of St. Jimmy – 2:23
o II. East 12th St. – 1:39
o III. Nobody Likes You – 1:18 (Testo: Mike Dirnt – Musica: Green Day)
o IV. Rock and Roll Girlfriend – 0:46 (Testo: Tré Cool – Musica: Green Day)
o V. We´re Coming Home Again – 3:09
13. Whatsername – 4:12
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