RPM: sem tanto teclado, fase mais roqueira na década de 90
Por Igor Miranda
Postado em 14 de junho de 2017
O RPM não soube lidar com o sucesso. O disco "Revoluções por minuto" (1985) e o live "Rádio pirata ao vivo" (1986) colocaram o grupo em evidência por todo o Brasil - e até no exterior -, mas o caos imperava no grupo em seus bastidores. Em meio à sua "beatlemania" particular, o RPM vivenciava seu inferno astral por trás das cortinas.
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As drogas se tornaram um problema para os integrantes do RPM, como os próprios falam abertamente nos dias de hoje. "A gente foi firme no 'sexo, drogas e rock'n'roll'. Nos três igual. Só que a gente descobriu que tocando se dava mal", contou o guitarrista Fernando Deluqui, em entrevista ao programa "Agora é tarde", de Rafinha Bastos.
O sucesso obtido por "Revoluções por minuto" e "Rádio pirata ao vivo" não foi repetido no disco "RPM" (1988) - comumente chamado de "Quatro Coiotes". É compreensível, pois não é um bom trabalho. Peca pelos exageros na produção e pela falta de inspiração no repertório. Em crise interna, a banda encerrou suas atividades em 1989.
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"Não tínhamos mais condições de operar. Por mais caótica, a decisão foi acertada. Eu e o (tecladista Luiz) Schiavon fazíamos as composições e as 'demos'. Com o sucesso, Nando (Fernando Deluqui, guitarrista) e P.A. (baterista) quiseram interferir, o que é normal. Isso aconteceu no álbum "Quatro Coiotes", que tem um resultado psicodélico, que não era exatamente a cara do RPM. Nos sentíamos incapazes de controlar as rédeas da gravadora. A gente não tava dando conta e saiu", disse o vocalista e baixista Paulo Ricardo, em entrevista ao site Ego.
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Ainda em 1989, Paulo Ricardo lançou seu primeiro disco solo, autointitulado. Na sequência, saiu "Psico Trópico" (1991). Ambos os registros contaram com Fernando Deluqui na guitarra. Em 1993, Ricardo e Deluqui tomaram uma decisão ousada: reformaram o RPM sem dois de seus integrantes clássicos, Luiz Schiavon e P.A. Pagni. As vagas foram ocupadas por Franco Junior nos teclados e Marquinho Costa na bateria.
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Schiavon entrou na Justiça contra o uso do nome RPM, então, a nova versão da banda foi chamada de Paulo Ricardo & RPM. Não acabou tão estranho, pois tratava-se, basicamente, de uma banda solo de Ricardo com Fernando Deluqui.
O disco dessa reunião também foi intitulado de "Paulo Ricardo & RPM" e chegou a público em 1993. E, musicalmente, o registro surpreende.
Sem a influência direta de Luiz Schiavon nas composições, a guitarra de Deluqui, enfim, apareceu mais. Com mais atenção às seis cordas, o álbum ganhou uma pegada mais hard rock, com referências e conexões ao som mais sóbrio que era praticado no início da década de 1990. Faixas como "Trem" e "Pérola" refletem o destaque ao instrumento.
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Paulo Ricardo também apresenta suas credenciais como letrista de forma mais impositiva. As temáticas são mais inteligentes e, por vezes, trazem críticas a questões sociais. As construções dos versos também soam melhores, como é possível notar em canções como "O fim" e "Hora do Brasil".
Os outros dois músicos fazem seu trabalho sem tanto destaque. Marquinho Costa acompanha bem na bateria, enquanto Franco Junior é responsável por dar um papel mais secundário aos teclados, que aparecem bem pouco e de forma mais ambientada, como na soturna "Gênese" e na já citada "O fim", que segue a veia classic rock.
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Mesmo com uma turnê de divulgação que atravessou os anos de 1993 e 1994 - com direito a shows de abertura para a turnê do INXS e Soul Asylum na América do Sul -, "Paulo Ricardo & RPM" não obteve vendas tão boas. Estima-se que 60 mil cópias tenham sido comercializadas naquele período. Parte do impulso mercadológico veio com o acréscimo da música "Gênese" à trilha sonora da novela "Olho no olho", da TV Globo.
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Ainda assim, a ideia era continuar com a nova formação. Outro registro, que seria intitulado "Noturno", chegou a ser gravado pela banda. Contudo, o álbum nunca foi lançado, visto que o simples uso do nome RPM já vinha causando problemas entre Paulo Ricardo e Luiz Schiavon.
O RPM encerrou suas atividades em 1994 e Paulo Ricardo voltou a se dedicar à carreira solo - com direito a uma curiosa investida na música romântica, nos mesmos passos de Roberto Carlos, só que sem o mesmo êxito. A banda se reuniu novamente entre 2001 e 2003 e retomou as atividades, em definitivo, no ano de 2011.
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O voo semisolo de Paulo Ricardo sob a alcunha RPM, por sua vez, não parece ser reconhecido como um disco oficial da banda. O álbum de 1993 chegou a ficar de fora do box "Revolução - RPM 25 anos" e suas músicas não foram mais tocadas nos shows. Já o disco pensado para ser lançado entre 1994 e 1995 jamais chegou à luz do dia. Uma pena.
"Paulo Ricardo & RPM" (1993)
Faixas:
1. Pérola
2. Gênese
3. Veneno
4. Surfista Prateado
5. O fim
6. Outro Lado
7. Hora do Brasil
8. Eclipse
9. Ninfa
10. Trem
11. Vírus
12. Falsos Oásis (presente somente na edição em CD)
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Músicos:
Paulo Ricardo (vocal, baixo)
Fernando Deluqui (guitarra)
Franco Júnior (teclados)
Marquinho Costa (bateria)
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