Roberto Carlos, Black Sabbath e a curiosa canção que eles têm em comum
Por Bruce William
Postado em 22 de janeiro de 2023
Em 16 de outubro de 1969, quatro jovens cabeludos entraram no Regent Sound Studios de Londres para registrar um álbum que mudaria a história da música. E conforme relatou Denio Alves na fantástica e detalhadíssima biografia do Black Sabbath publicada aqui no site, "o primeiro registro em LP de uma das maiores bandas de heavy metal do mundo não gastou mais do que 1.200 dólares (na época, o equivalente a uma mixaria: 600 libras inglesas) e três dias em um pequeno estúdio alugado pela Vertigo para ser finalizado. Esta pequena grande obra-prima do rock, sumarizada em apenas 7 faixas (se você não contar 'Wicked World', que apenas recentemente, com o advento do CD, seria incluída como bonus track), foi o resultado de sucessivas jams em estúdio feitas com o intuito de aprimorar e dar um acabamento final a várias canções e idéias que o Black Sabbath já vinha até mesmo apresentando em shows, ou ensaiando repetidamente, até encontrar um tom certo, ou a letra ideal".
Prossegue Denio: "Para a introdução da sorumbática 'The Wizard', por exemplo, o clima de total improvisação nos estúdios levou Ozzy a surrupiar a gaitinha de um dos funcionários do local e assoprá-la desleixadamente, a ponto de Geezer e Tony gostarem do som e o pedirem para incluí-lo na música. E, tirando o pau absoluto que é a música-título, aquele hino eterno que batizou a banda e que sempre foi presença cativa em qualquer show que eles dessem, a conclusão do álbum é composta de dois momentos bem típicos do início de carreira jazz-bluesístico da banda: 'Sleeping Village' e 'Warning' eram duas viagens que eles já vinham tocando muito ao vivo, e que faziam parte dos longos momentos de improvisação nos palcos - ou porque Ozzy já estava muito bêbado e cansado, e precisava se recompor um pouco, ou porque o repertório não era muito extenso mesmo, e não estava lá essas coisas".
Vamos conferir a versão de "Warning", lançada pelo Black Sabbath em 1969.
A versão original de "Warning", gravada pelo Black Sabbath no seu disco de estreia
"Warning" na verdade era um cover da canção homônima lançada por Aynsley Dunbar Retaliation em 1967. O grupo foi formado pelo baterista Aynsley Dunbar após ele ter sido demitido do Bluesbreakers de John Mayall, e por causa disso ele batizou a banda com o seu nome de batismo com o acréscimo do "retaliação" ao final. A música foi lançada em compacto antes do primeiro álbum completo, que também saiu no mesmo ano. Um detalhe curioso é que Ozzy fez uma pequena alteração na letra, mudando a parte que diz "I was warned about you, baby" para "I was born without you, baby" (de "Me avisaram sobre você" para "Eu nasci sem você", em tradução livre). Não se sabe se foi proposital ou apenas uma pequena confusão feita pelo vocalista. Aynsley teve um longa e bem sucedida carreira, e foi indicado ao Hall da Fama do Rock em 2017 pelo seu trabalho com o Journey.
Agora é a vez da "Warning" lançada pelo Aynsley Dunbar Retaliation em 1967.
Roberto Carlos e a sua relação com James Brown
Em 1973, Roberto Carlos foi entrevistado em Joaçaba (SC) pelo radialista Bolinha (Antonio Carlos Pereira), em um áudio que pode ser conferido online. No meio da conversa, Bolinha pergunta para Roberto: "Você ouve música estrangeira. O que você prefere ouvir?". Roberto responde: "Bem, de modo geral eu ouço tudo. Ouço, por exemplo, James Brown, eu ouço muito, embora meu gênero não tenha muito a ver com James Brown, eu gosto muito".
Fãs e historiadores musicais costumam dizer que Roberto teve uma "fase soul" que começou em 1969 e foi até 1973, e em um texto assinado por Eudes Baima e publicado no excelente site Consultoria do Rock, são destacadas treze músicas que mostram este lado do cantor, sendo a primeira recomendação a canção "Não Adianta Nada", do álbum de 1973: "É de um disco já do Roberto romântico semibrega, mas é talvez a melhor faixa soul gravada pelo Rei e, talvez, a melhor gravada num disco no Brasil", diz o texto. "'Gravada no Brasil' é força de expressão, pois a produção e arranjos são notoriamente gringos. Bateria altíssima e baixo rechonchudo na frente, naipe de metais com trombone tonitruante, guitarra rítmica suingada e a voz de RC enterrada lá atrás na mixagem. Como se dizia no meu tempo, um racha-assoalho pesadíssimo e sacolejante, pau a pau com o melhor do mestre Tim Maia".
"Não Adianta Nada" é creditada a Fred Jorge, figura seminal da Jovem Guarda, compositor, escritor, novelista e produtor de TV nascido e falecido em Tietê, interior de SP. A página Famosos Que Partiram relata que Fred escreveu mais de cem músicas, incluindo versões, adaptações e composições, e dentre elas estão "Estúpido Cupido" e "Lacinhos Côr-De-Rosa" gravadas por Celly Campello, além de várias outras músicas gravadas também por Roberto Carlos.
Então vamos a "Não Adianta Nada", lançada por Roberto Carlos em seu álbum de 1973.
Compare as melodias. Notou alguma semelhança? Pois é. Não temos como saber se Fred Jorge chegou a ouvir "Warning" e decidiu fazer uma homenagem. Possivelmente foi apenas uma coincidência, quem sabe? Talvez ele possa simplesmente ter ouvido esta melodia em alguma ocasião, que ficou gravada em sua mente e um dia ele usou, sem saber que se tratava de uma lembrança direta.
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