PFM: É festa, é prog, é Premiata Forneria Marconi!
Resenha - Premiata Forneria Marconi (Centro Cultural Banco do Brasil, RJ, 01/02/2014)
Por Hugo Soares
Postado em 04 de fevereiro de 2014
A PREMIATA FORNERIA MARCONI (também conhecida como PFM), expoente maior do rock progressivo italiano dos anos 70, fechou a Mostra Internacional de Rock Progressivo que aconteceu no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio de Janeiro entre os dias 17 de janeiro e 1º de fevereiro. Juntamente com Carl Palmer, que tocou no dia 18 de janeiro, a PFM foi a grande atração internacional e trouxe um show totalmente pautado em sua fase setentista, progressiva por excelência.
O público, sob um sol de rachar, começou a chegar pouco depois do meio dia (o início da apresentação estava programado apenas para as 21h), aglomerando-se no portão da tenda que recebeu o evento. Era gente querendo ver os músicos, conseguir um autógrafo, tirar uma foto, ou simplesmente, escutar a passagem de som que, diga-se, pareceu um pouco tensa, deixando os técnicos da banda de cabelo em pé por causa de uma microfonia que insistia em ficar. Fato é que na hora do show a pequena microfonia, que não foi embora, pouco importou. A festa do prog começou com a belíssima introdução de Rain Birth seguida de River of Life. Esta segunda, do álbum Photos of Ghost, é a versão em inglês de Appena un po’, do álbum Per un Amico.
Cabe aqui uma nota de esclarecimento: a PFM fez algumas versões em inglês de álbuns originalmente gravados em italiano. Photos of Ghost de 1973 é a versão de Per Um amico de 1972 e L’isola di Niente virou The World Became the World (ambos de 1974 e contando com a participação de Peter Sinfield do King Crimson, que reescreveu os versos em inglês). Esta história começa em 1972 durante uma apresentação da banda em Roma. Greg Lake (do EMERSON, LAKE & PALMER) que estava presente se impressionou com a técnica dos jovens músicos italianos e os levou para gravar em Londres. Com a oportunidade de transcender os limites da velha bota -- e muito bem apadrinhados -- a PFM lança então o Photos of Ghost, o primeiro disco em inglês.
De volta ao show, River of Life, de composição do guitarrista Franco Mussida foi executada com maestria, com o belo solo inicial de guitarra dialogando com o violino do polivalente músico Alessandro Bonetti. Foi a tônica do que seria aquela noite. O vocal suave de MUSSIDA, límpido, afinado e sem esforço fez o público delirar num rompante que intercalava êxtase e contemplação. Era o cartão de vistas dos italianos!
Na sequência, com pouco tempo para o público entender o que estava acontecendo, vem a bombástica Photos of Ghost, versão em inglês de Per un Amico. A música que começa suave, se insinuando, chegando a flertar em alguns compassos com a valsa (uma valsa prog?) vai ganhando corpo e vira um petardo sônico com viradas precisas e toda aquela quebradeira digna das maiores bandas prog da história! É virtuosismo pra todo lado, começando com Alessandro Bonetti mostrando porque é um dos maiores violinistas italianos da atualidade e Franco Di Ciccio na bateria, tocando alucinado, às vezes de pé. Seja no estúdio, seja no show, é nesta música que o peso e a precisão do baixista PATRICK DJIVAS mais aparece. Neste momento, o público já tinha ido ao delírio e cantava com a banda.
A próxima é mais um clássico (como se todo o show não fosse): Il Banchetto, do álbum Per un Amico. Esta é uma das "obrigatórias" do PFM. Interpretada "a due voci" por Mussida e Di Ciccio (que ainda se continha na bateria), começa com uma levada boa e cadenciada de MUSSIDA, fazendo o público chacoalhar o corpo. Eis que chega então a parte do progressivo... os teclados do jovem e virtuoso Alessandro Scaglione entram em cena e dão aquele clima onírico, que tão bem marca algumas das melhores canções da banda. Seguem algumas pirações clássicas do prog, solos jazzísticos intempestivos de piano e de guitarra e os músicos lá, tocando felizes, como se aquilo fosse a coisa mais fácil de se fazer!
La Luna Nuova do álbum L’Isola di Niente é a próxima da sequência. Esta deixa um pouco de lado as influências jazzísticas que a banda tão bem assimila para dar espaço a um ritmo alegre, quase dançante e semelhante aos antigos minuetos franceses, muito populares nas cortes de Luís XV e XVI. Mais uma vez, o violino de Alessandro Bonetti começando dando a tônica para pouco depois a música virar uma quebradeira só que fez o público pular!
Na sequencia uma música do álbum Chocolate Kings: Out of the Roundabout, cantada pelo baterista Di Ciccio que, ao deixar seu posto para o segundo baterista da banda, Roberto Gualdi, traz para o palco não só sua bela voz, mas uma performance emotiva e entusiasmada. E aqui, outro esclarecimento: a PFM teve um vocalista de ofício apenas por alguns anos no meio dos anos 70, e por conta disso Di Ciccio sempre cumpriu, de alguma forma, esse papel de front man mesmo que para isso tivesse que se dividir entre a bateria (o seu local de origem) e o palco. E este fato, que pode parecer uma ausência de identidade, só ampliou o leque vocal da banda (já que alguns outros músicos que também integraram a PFM cantavam em uma ou outra música).
Com Di Ciccio nos vocais, começam a surgir os grandes clássicos tão esperados pelo público: Dove...Quando emociona a todos. Virtuosismo do baterista Roberto Gualdi (que substitui Di Ciccio à altura do mestre) e do tecladista Alessandro Scaglione trazem a tona a inspiração clássica e erudita da banda. Ah, e Di Ciccio não só canta, mas também rege o público! È bravissimo!
Na verdade é impossível falar de todas as músicas, como dito, os caras resolveram fazer um show setentista, que foi a fase mais profícua e áurea do grupo. Sobraram para a segunda parte músicas como La Carroza di Hans (que saiu no primeiro single da banda e depois no álbum Storia di un Minuto), Harlequin (do álbum Chocolate Kings) e Impressioni di Settembre e È Festa, intercaladas com uma versão de Dance of the Knights da peça Romeu e Julieta de Prokofiev, Maestro della Voce (do álbum Suonare, suonare), Promenade the Puzzle e Mr 9’till 5 (ambas do Photos of Ghost).
Destas, La Carroza di Hans, Impressioni di Settembre e È Festa são as que mais empolgaram o público. Pudera, são os maiores clássicos da banda e as músicas que possibilitaram o sucesso internacional da PFM, sendo a única banda italiana a figurar no top 100 da Bilboard. As três foram compostas por Mussida e colaboradores, como o violinista ex-integrante fundador da banda Mauro Pagani.
Ainda antes do bis, houve tempo para a brilhante execução da abertura da famosa ópera Guilherme Tell do compositor erudito italiano Gioachino Rossini. Mais uma vez, Alessandro Bonetti faz as vezes de violinista virtuoso assumindo o papel de front man.
Chegamos ao bis com as catárticas Impressioni di Settembre e È Festa (para os fãs de metal, algo como o Raining Blood/South of Heaven do PFM) que literalmente fez o público pular embalado pelo maravilhoso solo do moog de Alessandro Scaglione! Nada mais emblemático para representar a verdadeira festa do progressivo que se encerrava naquela noite e que teve no CCBB seu grande possibilitador. Fica aqui, portanto, o agradecimento deste resenhista e fã incondicional da PFM (e do prog) à equipe do CCBB RJ pela oportunidade de ser testemunha dessa exibição maravilhosa brilhantemente levada a cargo por um dos gigantes do prog mundial!
Como se não bastasse tudo, Mussida, Di Ciccio e o Djivas ainda atenderam por longo tempo o público ávido por uma foto, um autógrafo ou simplesmente para dizer pessoalmente grazie ragazzi!
Se o Rock é uma religião, o progressivo é a mística, o mistério da transcendência e o caminho dos iniciados! E foi muito bom perceber que estes iniciados e iniciandos ainda existem e são de todas as idades.
Line-up:
Franz di Ciccio – bateria, voz, percussão
Franco Mussida – guitarras, voz
Patrick Djivas – baixo
Alessandro Bonetti – violino, teclado
Alessandro Scaglione – teclados
Roberto Gualdi – baterista
Set list:
Rain birth/River of Life
Photos of Ghost
Il Banchetto
La Luna Nuova
Out of Roundabout
Dove...Quando
Harlequim
Promenade The Puzzle
Romeu e Julieta (Dance of the Knights)
Maestro dela Voce
La Carozza di Hans
Mr 9’till 5
Alta Loma
Willian Tell
Impressioni di Settembre
È Festa/"Se le Brescion"
Fotos: Fernando Yokota
http://www.flickr.com/photos/fernandoyokota/sets/72157640414195116
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