Cobertura: a noite pesada do Abril Pro Rock no Recife
Resenha - Abril Pro Rock (Chevrolet Hall, Recife, 21/04/2012)
Por Thiago Pimentel
Fonte: Hangover Music
Postado em 25 de abril de 2012
Em seus 20 anos de história, completados neste ano, o festival Abril Pro Rock consolidou-se, pouco a pouco, como um dos principais eventos destinados a fãs de rock n' roll no nordeste. Não é pra menos, desde a programação, estrutura e até oficinas / palestras, o 'Abril Pro Rock' evoluira consideravelmente.
Na sua vigésima edição, a 'noite pesada' - conhecida por agregar bandas de heavy metal, grindcore e punk - do festival seguiu a sua tradicional fórmula com atrações internacionais (Brujeria, Cripple Bastards, Exodus), atrações nacionais (Ratos de Porão, Leptospirose, Test, Hellbenders) e regionais (Pandemmy, Firetomb) intercaladas. Todas reunidas em prol de suprir o anseio de música alta, violenta e pesada. Bem pesada.
Paul McCartney? Metal Open Air? Não, nem o ex-beatle - que tocou em Recife no mesmo dia - e, muito menos, o pretensioso festival maranhense serviram como empecilho aos presentes. Aliás, sorte de quem optou por não ir neste último: durante a apresentação do Ratos de Porão, o icônico apresentador e vocalista João Gordo, fez questão de pôr essa certeza nos presentes. Apesar das estimativas negativas, o público mostrou-se, como sempre, bem fiel e compareceu em bom número no Chevrolet Hall tendo, em média, 7 mil pagantes.
Seguem, em ordem decrescente as apresentações, comentários sobre todos os shows do evento.
Exodus e a 'Valsa Tóxica'
Completando oitos anos da primeira - e problemática - apresentação em terras pernambucanas, finalmente os recifenses tiveram oportunidade de conferir o trabalho de um dos pioneiros do thrash metal norte-americano, o Exodus.
O grupo capitaneado pelo guitarrista - e membro fundador - Gary Holt, entrou no palco disparando duas composições de seus mais recentes trabalhos ("The Exhibit B - The Human Condition"). Apesar da qualidade das músicas, "The Ballad Of Leonard And Charles" e "Beyond the Pale" não provocaram o impacto previsto no público. Após a segunda citada, Rob Dukes (vocalista) daria uma baita bronca em algum segurança na casa permitindo, assim, que alguns presentes fizessem a prática do stage diving. O show seguiria com músicas novas - a exemplo de "Children of Worthless God"; porém, só a partir da execução de "Piranha" e demais clássicos, vide "A Lesson In Violence" - responsável por abrir as rodas - e, mais a frente, "And there Were None" que a coisa mudaria...
Entre a execução de "Piranha" e as outras duas músicas citadas - é bom citar que essas pertencem ao antológico 'Bonded by Blood (1985) -, os americanos ainda executaram a excelente "Blacklist" - com direito ao já tradicional momento em que Dukes 'executa' a parte rítmica de Holt durante o solo do guitarrista Lee Altus - e a brutíssima "Deathamphetamine". Entretanto, afirmo novamente, sem a mesma resposta do público. Uma pena, pois são ótimas composições.
O clássico "Fabulous Disaster" contou ainda com a participação de um baterista convidado (Nick Barker?) dando prosseguimento as rodas iniciada em "A Lesson In Violence". A partir desse ponto, destaco uma significativa melhora na qualidade de som da banda. Realmente, no início, estava muito complicado ouvir o vocal de Dukes.
"- Vocês querem algo lento?" - mente o vocalista e, em seguida, a banda emendaria a pesadíssima "War is My Sheperd" - do ótimo Tempo of the Damned (2000). A conclusão da performance, contou ainda com clássicos como "Metal Command", "The Toxic Waltz", "Bonded by Blood" e "Strike of the Beast"
Enfim, uma excelente, digna e, principalmente, violenta apresentação de um dos maiores expoentes deste estilo. Gary Holt segue com as palhetadas em forma e, em conjunto com Lee Altus - que também toca na excelente "Heathen" -, mostraram o motivo de serem considerados, atualmente, uma das melhores duplas de guitarra do thrash metal. Rob Dukes também mostrou-se um vocalista digno de seus antecessores, agitando e bradando o mais agressivamente possível.
Brujeria (MEX)
A apresentação do Brujeria fora uma da mais aguardadas dentre a programação do evento. O grupo dos 'disfarçados', que realiza um grindcore em espanhol bem característico - com uma certa dose de metal industrial nos riffs, uma herança do antigo guitarrista Asesino (Dino Cazares) -, passa por um bom hiato de lançamentos. Porém, as composições dos três discos da banda, em especial o clássico "Matando Güeros" (1993), foram suficientes para empolgar a platéia.
Claro que a controversa - e divertida - "Marijuana" (do EP de mesmo nome) não poderia faltar na apresentação dos caras e, em meio a tantas pancadas, soa ainda mais escrachada. Esperemos que a banda lance um novo disco e fique perto de fixar uma formação. Destaco a performance e comunicação de Juan Brujo - que sempre tentava falar com todos do público para formar o seu 'exército'-, a performance de El Cynico (Jeff Walker, do Carcass) e, obviamente, a participação surpresa (?) de João Gordo.
Ratos de Porão (SP)
Os paulistas do RxDxP podem considerar-se veteranos no evento. Foram mais de três participações no festival pernambucano e, mesmo assim, a banda sempre é recebida com entusiasmo. Paralelamente aos 20 anos do Abril Pro Rock, a grupo de hardcore/crossrover comemora 30 de lançamento do clássico "Anarkophobia" e focou o repertório nesse disco. Todavia, houve espaço para clássicos como "Amazônia Nunca Mais", "Agressão/Repressão", "Crianças Sem Futuro" e composições mais recentes - a exemplo de "Testemunhas do Apocalipse" - do último álbum dos caras, "Homem Inimigo do Homem" (2006).
Como sempre, uma ótima apresentação, sempre reforçada pela empatia de João Gordo com a platéia - seja cobrando rodas ou 'alfinentando' desde a produção do Metal Open Air à própria acústica da casa -, e, claro, pela energia do grupo em si.
Cripple Bastards (ITA)
Os italianos do Cripple Bastards executam um grindcore linear e com poucas variações. Deixo claro que isso não é uma crítica direta, pois é a proposta da banda. O repertório foi baseado no último disco do grupo ("Variante alla morte) urrado em italiano. A proposta dos caras, que são veteranos no estilo, é a agressividade latente. O som é direto, na cara. Porém, pelo fato da banda não ser muito conhecida a reação da platéia foi mista.
A transmissão dos shows das bandas acima pode ser conferida neste link.
Leptospirose (SP)
A música dos paulistas do Leptospirose é brutal e, principalmente, rápida. Porém, paradoxalmente a essa proposta, o som dos caras é bem divertido. Assim como a postura de Quique Brown (vocalista e guitarrista) que, por conta do seu visual - que exibe um combo de bigode mais boné vermelho - ainda fora apelido de Mario Bross por alguns presentes.
Brincadeiras a parte, o som da banda, que divulga "Aqua Mad Max", foi bem convincente e acredito que deixou uma boa impressão nos presentes. Tal como nas versões de estúdio, a rapidez das músicas - que ao vivo parecem ainda mais rápidas - aliadas à sujeira - no bom sentido - imperaram na apresentação dessa banda que transita entre o hardcore, thrash metal e grindcore.
Hellbenders (GO)
Oriundo de Goiânia, o Hellbenders realizou uma das apresentações que mais me surpreenderam no festival. Bem, talvez pensei isso porque eu não conhecesse bem o som dos caras. De fato, não pensei em ver uma banda brasileira aqui executando um stoner rock bem pesado - lembrando, como todo bom stoner, o "Master of Reality" (1973), do Black Sabbath.
Iniciando a apresentação emendando cançõe, lá pela terceira faixa o vocalista/guitarrista Diogo Fleury saudou o público, desculpou-se por uns erros - que erros? - e continuaram a apresentação. Provavelmente os caras estavam bem nervosos, mas isso não foi um grande impecilho. Boa parte do público estranhou a apresentação do grupo que, apesar de investir em um som pesado, enfantiza o peso e climas soturnos ao invés da velocidade desgovernada. Enfim, espero que voltem pro Recife.
Firetomb (PE)
A segunda atração regional da noite foi uma banda já bem conhecida do público local, o Firetomb. O som da banda é um thrash metal bem old school focado na vertente mais violenta do gênero. Lembram, em muito, bandas como Slayer - principalmente o instrumental. Em sua primeira participação no festival, o Firetomb, no geral, fez uma boa performance que apresentou canções do seu debut - o "Hellvolution" (2010) - como "Devil Intervention" e o hino ao seu próprio estilo, o thrash metal. Ao meu ver, destacou-se a performance do vocalista Lucas Moura.
Test (SP)
Após o anúncio do show do Test no telão, alguns estranharam a banda não aparecer no palco e boa parte do público rumando para uma direção contrária. Bem, os paulistas são conhecidos por apresentaram-se em uma kombi! Em terras pernambucanas, os caras arriscaram realizar a apresentação fora do palco, no chão mesmo e assim foi. No geral, a apresentação empolga mais pelo fator experimental e inusitado do que os aspectos comuns a uma performance ao vivo. Quem conseguiu ficar perto, aproveitou mais; quem não conseguiu, dificilmente entendeu.
Pandemmy (PE)
Realizando a abertura do festival, o quinteto pernambucano de death/thrash metal - que aproveitava a oportunidade para o lançamento do EP "Dialectic" -, montou um setlist eficiente; além de faixas antigas - como as destruidoras "Idiocracy" e "Point Of No Return" -, inseriram duas composições recentes - "Common is Different than Normal" e "Heralds of The Reckoning". Sendo esta última faixa citada responsável por abrir as primeiras rodas do festival.
Assim como o Firetomb, a banda também é bem conhecida pelo público local e, atualmente, vem colhendo frutos de seu trabalho árduo, o April Pro Rock é um destes. Apesar do comum nervosismo inicial, a concentração acabou superando essa adversidade rendendo uma boa e explosiva performance. Para surpresa dos presentes, o grupo ainda encaixaria uma versão para "Troops of Doom", do Sepultura, que selou de forma eficiente a primeira passagem dos caras no evento. Uma pena que boa parte do público ainda não tivesse entrado.
Considerações Finais:
No geral, o evento foi muito bem organizado; houve pouquíssima espera entre a troca de bandas e, no geral, os prazos foram muito bem cumpridos. A cada ano o Abril Pro Rock se consolida mais e, em meio aos atuais escândalos envolvendo um certo festival nordestino, mais uma vez a produção realiza boas escolhas, mostra-se competetente na organização e, mesmo sem ser um festival focado na música pesada, serve de exemplo. Exemplo em um âmbito nacional. Há o que melhorar? Obviamente. Principalmente caso esse dia necessitasse crescer ainda mais. Porém, prefiro ficar com o que está em nossas possibilidades e com uma boa produção/organização...
Além disso, o Chevrolet Hall, mais uma vez mostrou-se - dentro da RMR - a melhor escolha para shows do festival, pois além de possuir uma boa infraestrutura para os pagantes, a casa ainda dispôs um ótimo espaço para merchandising das bandas. Ótimo recurso paras as bandas nacionais.
Entretanto, sigo questionando a posição e ordem das bandas regionais - e até nacionais - no festival. Porquê, quase sempre, ser uma banda nacional é um pré-requisito pra abrir os shows independente da qualidade? Isso é uma indagação genérica, não retringe-se a este evento. Sinceramente, continuo sem entender. No mais, agradeço a produção do evento - e ao Whiplash.Net - tanto pelo credenciamento quanto pelos bons anos de shows oferecidos ao público pernambucano.
Para informações adicionais, acesse o site do festival:
http://abrilprorock.info/site/
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