O motivo pelo qual Erasmo Carlos recusou gravar música de Serguei nos anos 60
Por André Garcia
Postado em 26 de novembro de 2022
O Brasil está de luto pela recente perda de Erasmo Carlos — um dos maiores cantores e compositores da música popular. Surgido nos anos 60 com a Jovem Guarda, se diferenciou de seu amigo Roberto Carlos por seu jeito mais roqueiro e sua reputação de bad boy.
No documentário Serguei, O Último Psicodélico, o Tremendão relembrou um episódio curioso: a "anárquica" música que Serguei escreveu na década de 60 e queria que ele gravasse. Logo na primeira meia hora do longa, Erasmo relembra como eles se conheceram.
"Sérgio Augusto Bustamante, né? Conheci ele, pelo que me lembro, em um avião. Logo à primeira vista eu já disse 'O que que é isso?' Desde o início ele já foi motivo de susto. Eu levei um susto, realmente, quando conheci Serguei. Ele era oficial de bordo, mas ele tinha uma lente de contato azul-piscina, que chamava atenção, iluminava o ambiente todo."
"Um dia ele mandou uma música para mim, 'Burro Cor de Rosa'. Era uma música muito engraçada. Ele tinha gravado, e eu ouvi... ele queria que eu gravasse! Ele me mandou uma fita que não dava para ouvir, entender direito. Tinha uns berros, umas coisas assim, umas rimas muito estranhas... Mas confesso que não gravei na época porque achei uma música um pouco anárquica. O que é justamente a cara do Serguei — Serguei é um anárquico!"
Ouça "Burro Cor de Rosa" abaixo:
Com a desfeita de Erasmo, restou a Serguei gravar aquela música ele mesmo. E para isso, ele contou com a produção de ninguém menos que Nelson Motta, que relembrou:
"A versão original da música era um cara de gravata, caretão, [que pega] uma caneca, bebe uma coisa numa caneca — tomou um ácido ali, né? [E era época da] censura, 1967... [A letra] falava 'Subo num caixote e grito um palavrão', e o Sá gritava 'C*RAAALHOOO!!!' Era a libertação!"
"Eu trabalhava na Phillips, que era a maior gravadora, na época; tinha todos os artistas mais importantes: Elis Regina, Caetano Veloso, Chico Buarque, Raul Seixas... Daí propus lá na reunião de criação fazer um compacto, um single, com o Serguei. Só que todo mundo uns não conheciam, outros não levavam a sério... Aí o cara de vendas falou: 'Pode até dar certo! O cara é tão louco."
"E aí deram autorização para produzir, então chamei a [banda] Azymuth: Roberto Betranio; Mamão (que era um baterista que tinha experiência de rock n roll); o grande Laudir Soares (que tocava com Sérgio Mendes)... Monstros!"
"O Burro Cor De Rosa" foi lançado em 1970 como lado b de "Ouriço", quarto single de Serguei. "Ouriço", aliás, em 2010 foi incluída da coletânea coletiva "Brazilian Guitar Fuzz Bananas: Tropicalia Psychedelic Masterpieces 1967-1976".
Assista abaixo o documentário na íntegra.
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