Symphony-X: São Paulo ficou com o velho gostinho de "quero mais"
Resenha - Symphony-X (Cia. do Brasil, São Paulo, 17/11/2000)
Por Haggen Kennedy
Postado em 17 de novembro de 2000
Fotos por Pedro Fraga Bomfim
Já há muito tempo o Symphony X promete. É verdade que, quando lançou seu disco debute, a banda não obteve um retorno de níveis dantescos. É também verdade que, apesar de um dos maiores ícones do estilo progmetal da atualidade, o quinteto ainda não dispõe da popularidade que deveria possuir, já que, dentre os grupos da cena atual, este é um dos que mais mostram qualidade. Talvez, por isso mesmo, o público presente na Cia. Do Brasil no dia 17 de Novembro de 2000, plena sexta-feira, não tenha ultrapassado a marca de 500 pagantes.
A casa de shows, por si só, não era muito grande – provavelmente, fator intencional. Atrações como Stratovarius, Hammerfall e Paul Di’Anno já haviam passado por ali, o que, para quem ainda não conhecia o local, favoreceu a aceitação. O som apresentou pormenores que prejudicaram um pouco a apresentação das bandas (incluindo o próprio Symphony X), mas, com um pouco de jogo de cintura, deu para contornar o problema.
A Myatan, banda de abertura do primeiro dia, subiu ao palco e executou um som que, a princípio, parecia realmente um metal progressivo, como algumas pessoas haviam ouvido falar. Porém, com o desenrolar das músicas, o grupo se alicerçou mais firmemente em bases heavy do que em outra coisa. Poder-se-ia perceber toques de progressivo, com algumas passagens de tempo quebrados e certas complexidades inerentes ao estilo adotado por Symphony X, Dream Theater e congêneres. Porém, as composições, em sua totalidade, eram mais voltadas, realmente, ao metal tradicional, passando pelo estilo melódico em várias partes.
A equipe instrumental da Myatan é bem coesa. Os guitarristas são bons e o baixista também portava bastante espaço nas linhas melódicas das músicas, além de manter uma comunicação legal com a platéia. O vocalista foi bem ao vivo, contudo o pessoal da mesa de som – para variar – parecia não estar atento à variação de freqüência vocálica, pois não davam a mínima se o volume da voz certas horas estava alto demais. É por essas e outras que um vocalista deve obter atenção – e também consideração – especial por parte do público, pois realmente é uma tarefa ingrata em certos momentos. Além de se preocupar com letra, respiração, tempo, interatividade com os ouvintes, linearidade vocal, além de outros pormenores, ainda tem que dar atenção a desleixos dos próprios mesários.
Continuando, entretanto, o grupo mostrou músicas próprias e finalizou com o cover de ‘Neon Knights’ – muito bem tocado (e cantado), por sinal. Versão CD.
A Myatan desceu do palco por volta de 9:40 da noite, quando o pessoal da produção já acenava, detrás do palco, dizendo que o tempo de apresentação já se havia esgotado. Pela pressa aparente, a impressão era de que o Symphony X entraria em cena dentro em pouco. A usual correria da produção no palco para tirar de lá a bateria da banda de abertura e dar os retoques finais na estrutura apresentada apenas reforçou a idéia.
Já era 10:00 da noite, quando Pain of Salvation ainda rolava como som mecânico na Cia. Do Brasil. O público já estava um tanto impaciente e começava a organizar coros com o nome da banda. Volta e meia, o gelo seco dava o ar da graça apenas para deixar o povo ainda mais sedento, pois nada de Symphony X. Pouco mais tarde, as luzes se apagavam e, do mesmo modo, nada acontecia. O pessoal presente já começava a se exasperar, quando lá pelas 10:30, finalmente, o Pain of Salvation caiu fora e pôde-se ouvir "Prelude", a introdução que marca o início do novo disco da banda, "V". Desnecessário comentar os gritos de satisfação da platéia, ansiosos por ver pela primeira vez a tão esperada Sinfonia X.
"Evolution (The Grand Design)" é, fundamentalmente, a música perfeita para se abrir um show. Pesada, rápida, fulminante, mostrou rapidamente a força do grupo ao vivo – força que, aliás, é bem poderosa. A performance dos caras é realmente muito boa. Tudo bem que várias de suas músicas são agressivas, mas o Symphony X ainda é uma banda de metal progressivo, razão pela qual esperava-se que fossem muito mais parados no palco – o próprio tamanho dele [do palco] passava essa idéia. O dito cujo já não era lá tão abrangente e, com a aparelhagem da banda, ainda por cima, a coisa piorava. Exatamente por isso é que os caras impressionaram ao exibir uma performance bastante empolgante.
Russel Allen é, sem dúvida alguma, um dos melhores vocalistas da atualidade. Além de suas melodias vocais, por si só, serem bastante cativantes, seu feeling de palco é sensacional. Mais do que jogar a letra das músicas na cara da platéia, um vocalista deve passar o que a música representa. E nisso, Mr. Allen está de parabéns. O sujeito realmente interpreta demais. E outro ponto a se destacar acerca dele é que simplesmente o figura não sai do palco. Mesmo nas músicas instrumentais, ele continua presente, agitando o público. Foi bastante imaginoso, por exemplo, vê-lo acompanhando as quebradas de tempo em "The Death of Balance / Lacrymosa", dando jabs em sincronia com as palhetadas de guitarra e as batidas de bateria. LePond, por sua vez, também mostrou grande potencial e provou que tem perfeitas condições de integrar o Symphony X – ótima performance, grande instrumentista e boa comunicabilidade com a platéia. O engraçado foi a simplicidade do cara em seu solo de baixo. Deu a impressão de que não quis mostrar muito para não comprometer a entrada triunfal de "Sea of Lies". Pinella, ali do lado, comandando os teclados, mandou ver e confirmou o que todo mundo já sabia: o homem toca pra cacete.
Mas não tem jeito: o principal foco das atenções foi mesmo Romeo. Algumas horas era inconcebível crer que o guitarrista em questão tocava tão limpo quanto em estúdio. E quem olhou para sua guitarra não viu nenhum prendedor de cabelo ou coisa do tipo para limpar o som: tudo super normal, como se estivesse tocando em casa, no quarto. Por isso mesmo é que às vezes chegava a dar raiva: o sujeito não erra. Como isso é possível, ninguém sabe. E vá ser rápido assim no inferno! Realmente, o cara merece todo o respeito – e deveria ter muito mais nome da cena musical. Talvez por isso tenha sido tão injusto o cara ter sofrido dos tão famosos problemas técnicos – tudo bem, há problemas em todo show. Mas na exata hora do solo?! Terminou que, sem um único som saindo do instrumento, o próprio Romeo correu até a aparelhagem e resolveu o problema com as próprias mãos – infelizmente, metade do solo já tinha se passado. Ele até que tentou entrar no meio de uma escala (!!), mas não deu muito certo. Achou por bem esperar um tempo a mais e entrar com uma outra escala e cair direto no riff principal. Fazer o quê? Acontece.
Por outro lado, mesmo que escondido atrás da bateria, Rullo desceu as baquetas na batera e obteve destaque especial. É outro que toca demais. Sujeito mandou muito em todas as músicas do disco, mas foi mesmo em "The Death of Balance / Lacrymosa" que – com o perdão da expressão –, como diz o pessoal do pagode, "a cobra fumou". Cacete, o sujeito toca muito! Ao final do show, os comentários eram "toca mais que Portnoy" e similares.
Enfim, a banda tocou o novo disco quase todo (as nove primeiras músicas) e quase nada dos discos prévios. No bis voltaram e, infelizmente, tocaram apenas uma única musiquinha: "Of Sins and Shadows", do disco "The Divine Wings of Tragedy" – o que foi até uma surpresa para os próprios integrantes da banda, pois os fãs haviam gritado por "The Accolade" o show inteiro, e no final gritaram exatamente pela música do bis.
Show terminado, o relógio marcava meia-noite, o que resultou num "quero mais" estampado no rosto de cada indivíduo presente no local, já que o grupo tinha feito aproximadamente apenas uma hora e meia de apresentação. Mas era isso: restava apenas ir para casa e voltar no dia seguinte – como várias pessoas fizeram – para conferir o segundo show e esperar que o set list crescesse um pouco mais.
[an error occurred while processing this directive]Data: 18/11/00 - Sábado
O Steel Warrior já fazia um bom trabalho quando lançou "Visions From The Mistland", mas terminou por provar que melhoraram bastante nessa apresentação do segundo dia de Symphony X. Desfilando o velho heavy à lá Running Wild (de quem fizeram cover) e similares, a banda mostrou bastante material de seu disco vindouro – que, pelo que deu para perceber, está ainda melhor que o primeiro. Porém, o melhor de tudo foi mesmo ver que a platéia, incontestavelmente, foi com a cara dos catarinenses – o que é muito bom, considerando que a cena nacional encontra sérias dificuldades em achar apoio.
Havendo tocado por um período de tempo um pouco maior do que a Myatan no dia anterior, o Steel Warrior mostrou algumas músicas a mais. O repertório teve uma escolha bem legal de músicas, como "Son of an Eagle" e "Steel Warrior", que foram bem aceitas pelo público em geral. A atuação da banda também foi bem legal. O guitarrista/vocalista André Fabian fez questão de apresentar boa parte das músicas e ainda comentou sobre o que falavam. A interação com o público rolou de forma bem espontânea e o som estava melhor do que no dia anterior.
Falando em dia anterior, a entrada do Symphony X se deu nos mesmos passos: cerca de 30, 40 minutos até a banda subir ao palco. Quando subiu, contudo, foi um arregaço. Cerca do dobro de pagantes se encontrava no local, o que impressionou bastante a própria produção, afinal haveria vestibular no dia seguinte e o esperado era que todos ficassem em casa para cumprir o velho ritual de dormir cedo–acordar cedo.
[an error occurred while processing this directive]Em meio a quantidade provável de 1.000 pagantes no local, cerca de 90% cantou junto as músicas do disco novo, "V", mesmo que este tenha sido há tão pouco tempo lançado aqui no Brasil – o que, nas palavras do próprio Pinella, que me confidenciou após o show, "impressionou bastante a todos na banda". Provavelmente esta foi uma das principais razões por o segundo dia de show ter sido ainda melhor que o primeiro. A qualidade de som estar (bem) melhor ajudou bastante também.
Em suma, o que aconteceu é meio difícil de acreditar, mas quem estava lá nos dois dias pôde comprovar: a banda, tendo se saído ótima na primeira data, conseguiu ser ainda melhor na segunda. Rullo, impressionantemente, tocou ainda mais. Russel Allen simplesmente não poupou esforços e projetou a voz com toda a força, além de agitar bem mais e se comunicar muitíssimo bem com o público. Romeo nem se comenta. Sujeito com as mãozinhas gordinhas e dedinhos curtos... não se sabe que mágica é que ele usa para tocar tanto (é nessa hora que se pode ver o quão árduo alguém batalha para ser bom naquilo que faz – certamente as horas de estudo não foram poucas). Pinella e LePond também não ficaram para trás e mostraram excelente trabalho – realmente é difícil sair destacando alguém numa banda onde todos são extremamente competentes em seus instrumentos.
Já no final do show, a surpresa foi ver que "Of Sins and Shadows" foi tocada antes do bis, o que significava que certamente tocariam alguma coisa a mais. Depois que voltaram para o bis, tocaram "Through the Looking Glass" e "The Divine Wings of Tragedy", ambas não tocadas na noite anterior.
Tudo bem, realmente esperar que o Symphony X toque todas as músicas que o público deseja é um pouco complicado (o show duraria lá para 8 horas), mas mesmo com duas músicas a mais, ainda deu pra ficar com o velho gostinho de "quero mais", mais fortemente sentido na noite anterior. Mesmo assim, é totalmente excusável. A Sinfonia X mostrou, sem meio termo, do que é feita – muita qualidade, competência, capacidade, inteligência, complexidade e muito... mas muito, muito talento mesmo.
Set List:
1. Prelude
2. Evolution (The Grand Design)
3. Fallen
4. Transcendence
5. Communion and the Oracle
6. The Bird-Serpent War / Cataclysm
7. On the Breath of Peseidon
8. Egypt
9. The Death of Balance / Lacrymosa
10. Candlelight Fantasia (intro)
11. The Eyes of Medusa
12. Dressed to Kill
13. Smoke and Mirrors
14. Church of the Machine
15. Sea of Lies
16. Encore: Of sins and Shadows
No segundo dia:
17. Through the Looking Glass
18. The Divine Wings of Tragedy.
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