Carcass (Carioca Club, São Paulo, 15/05/25)
Resenha - Carcass (Carioca Club, São Paulo, 15/05/2025)
Por Miguel Júnior
Postado em 03 de junho de 2025
Fui ao show do Carcass (UK) e de mim só restou a carcaça. Talvez um show deles pareça impróprio para o consumo de um humano comum, pois você tem que ter sangue frio para sobreviver a um evento como esse. A menos que você tenha caído um pouco de paraquedas no lugar, mas sem atrapalhar os outros que conhecem a banda, tento contar como foi o show e explicar isso.
O Carcass tocou a primeira vez no Brasil em 2008, e de lá para cá veio mais quatro vezes ao país. Nesta quinta vez, agora no Carioca Club em São Paulo, fizeram um repertório de vinte e uma músicas se contarmos trechos e introduções, começando às 20h35, nesta quinta-feira, 15/5/25, tocando por quase 1 hora e 20 minutos. Para quem não sabe, a banda é de Liverpool, na Inglaterra, formada em 1985 e são conhecidos por moldar o death metal melódico e pelas letras grotescas de Jeff Walker.
A introdução do show, com o apagar das luzes e a gritaria ouvida no meio da pista, levantou uma névoa de nostalgia: era a faixa "1985", que abre o álbum "Surgical Steel" (2013), origem da fase atual da banda. E a mensagem não poderia ser mais clara. Estávamos prestes a voltar no tempo. Ou quase. Eu estava no centro exato da pista, na visão mais central do meio de frente para o palco, para poder ver e ouvir tudo. Não queria perder nada. O que eu não sabia é que ter a melhor visão e audição teria suas consequências.
A primeira música de fato foi do mesmo álbum de 2013. A faixa "Unfit For Human Consumption", que em sua letra traz inflamações e infecções relacionando-as com salivação e apetite, pode parecer uma estranha trilha sonora para jovens pulando no escuro. Mas isso não foi nada. Como as rodas sempre surgem no meio da pista, tive que agir: não dava para aproveitar parado e então parti com muitos para a roda.
A sequência de sons que foi tocada em seguida não poderia ter sido mais intensa. A tacada foi composta pela clássica "Buried Dreams", seguida de "Kelly's Meat Emporium" do mais recente álbum "Torn Arteries" (2021), "Incarnated Solvent Abuse" e seu ruído-melodia que alguém já disse lembrar uma motoserra, e ainda "No Love Lost", momento em que muitos entoavam o refrão.
Eu já estava apanhando. Não retribuía as pancadas amistosas do mosh e não compreendia o desalento eufórico que sentia ao ver uma das maiores bandas de death metal do mundo. Alguém ao lado comenta que aquele show parecia uma despedida, uma passagem simbólica de bastão, pois o vocalista e baixista Jeff jogava a todo momento palhetas para o público, composto também de músicos, de novas bandas que estão aí batalhando ou dando seu recado. Será?
Em três momentos, o Carcass toca medleys, isto é, combinações de trechos de músicas, com a abertura de um som bem conhecido seguido do desenvolvimento de outra música também muito bem escolhida. Isso aconteceu com as duplas "Tomorrow Belongs to Nobody" / "Death Certificate", que assim unia os álbuns "Swansong" (1996) e "Heartwork" (1993) numa pedrada só; "Black Star"/ "Keep On Rotting in the Free World", ambas do álbum "Swansong", e por último, na minha humilde opinião o ponto alto do show, o combo "Ruptured in Purulence" / "Heartwork", dos álbuns "Symphonies of Sickness" (1989) e "Heartwork", que não à toa foi deixado para o final. Naquele momento, o baterista se levanta e começa a tocar de pé mesmo, fitando o público, tentando captar se reconhecíamos aquela que talvez fosse a música mais pesada da noite. "Ruptured in Purulence" teve seu início adiado por deleite, o baixo não foi tocado de cara, uma tensão dos infernos, íamos explodir: a música já tinha começado na minha cabeça e ele estava segurando o início na batera! A roda já estava a mil e... segundos depois, mudam de trecho de música para a "Heartwork". Tudo bem. Do jeito que era, a gente não estava preparado para aquela incrível desgraceira.
Antes do show começar, escutei uma conversa por perto sobre o caráter melódico do Carcass. Alguém dizia: "Por ser melódico, eles seriam até parecidos com Angra ou Helloween de alguma forma?" Em resposta, argumentaram: "Não, Carcass não teria muito a ver com eles apenas por ser "melódico". Heavy Metal melódico e Death Metal melódico são muito diferentes. No Heavy metal melódico, os vocais são limpos, as partes melódicas são épicas, as letras são fantasiosas e por aí vai. Já o Carcass traz o vocal gutural, riffs pesados, com melodias bem trabalhadas e letras que poderiam ser existenciais, filosóficas, sombrias, mas nesse caso são especialmente grotescas e dispensam apresentação" - responde uma voz em meio a pausa.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps