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Lemmy: Há dois anos, falecia o cara que me fez acordar (e me perder)

Por Rodrigo Contrera
Postado em 28 de dezembro de 2017

Quem diria. Faz apenas dois anos que o Lemmy falecia. Lembro-me bem da data. Soube, creio, pelo Whiplash. Soube, creio, ainda com o meu baixo Fender Jazz Bass preto em mãos. Soube, creio, com apenas arroz em casa - não tinha mais nada para comer.

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Naquela véspera de Natal de 2015, eu estava desesperado atrás de dinheiro. Já havia anunciado o baixo, mas ele ainda estava comigo. O Lemmy fazia parte de um projeto meu - de uma peça de teatro, para a qual tenho autorização do filho dele.

Vim ter acesso à vida e obra do Lemmy por meio de um exemplar de revista que comprei numa banca no Morumbi. Isso lá pelo ano de 2005, creio. Passei a ouvi-lo de forma absurdamente dedicada, e passei a incorporar algo de seu desencanto em relação ao mundo. Tornei-me um fã.

Ocorre que eu não estava preparado para isso. Já sofria de esquizofrenia, e traduzia em agressividade - por meio dele - uma relação conturbada com o mundo. Ele ajudou a que eu me perdesse. Por outro lado, ele me fez acordar. Mostrou-me o mundo sem ilusões.

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Na biografia que ele tem (White Line Fever), ele explica algo de sua vida. Explica como se afastou pela segunda vez do pai (que o havia abandonado com meses de vida), num encontro se não me engano numa pizzaria. Ele lhe pediu uma guitarra, e o velho queria que ele fosse vendedor. Mandou ele pastar.

Ele também conta como abandonou os estudos, quando foi dedurado por cabular as aulas. Ele foi chamado pelo diretor, que bateu nos braços machucados dele, tirando sangue por toda a sala da direção. O Lemmy pegou o bastão para se proteger e foi expulso. Hoje a escola entroniza ele como uma espécie de herói. Seres humanos são assim mesmo.

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Ele também conta como tentou ensinar o Sid Vicious a tocar baixo, sem sucesso. Mas como o Sid anunciou que estava nos Sex Pistols (não precisava saber tocar, na verdade). Conta como ficou três dias parado no banheiro do seu apartamento depois que sua amada, negra, morrera de overdose de heroína. Conta como foi se envolver com ela, que era menor de idade. Numa época em que até os hippies os discriminavam.

Conta muito mais. Pois quando eu comprei a biografia, ainda em inglês, por encomenda na Cultura, eu não me surpreendi com nada. Eu sabia que havia sido algo desse tipo.

O Lemmy me mostrou o que era ter caráter. O que era pouco se lixar para os outros, o que era desconfiar daquilo que nos dizem, o que era, por outro lado, ser também gentil e grosseiro. O que era falar com voz de trovão deixando os católicos com os cabelos em pé.

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Pois com ele também eu me perdi. Minha esposa não via com bons olhos minha transformação. Porque eu lidava com minhas convicções em meio a rompantes de raiva retirados da esquizofrenia. Eu lidava com isso da forma errada. E ela me via mudando, sem nada o que poder fazer a respeito.

Com o tempo, fui me aprofundando no espírito pessimista que escolhera para mim (e que o Lemmy ajudara a introjetar) e a ficar uma pessoa intratável. Não adiantava tomar remédios. Foi como foi. Ela se separou e vi que a vida era mais complicada. Mas o Lemmy é encarado por mim, hoje, com um olhar dúbio. Ele me ajudou, por um lado, mas também atrapalhou.

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Sem o Lemmy, porém, eu não teria tido farol na vida por muitos anos. Não teria tido uma forma forte com que tratar decepções (que foram várias). Não teria tido uma espécie de ídolo, que não vi pessoalmente (embora tenha assistido um show na Via Funchal, em São Paulo).

Curioso que tenham se passado apenas dois anos. Curioso, porque minha vida mudou radicalmente. Tornei-me mais comedido, mantenho uma distância de pessoal com postura mais agressiva, ouço menos rock, converti-me ao catolicismo (e olha que o pai dele havia sido capelão militar), e sinto alguma dor quando ouço o Motörhead.

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Porém, não deixo de reconhecer o quanto devo a ele em termos de simplicidade e lucidez. Quando alguém se aproxima com papo de bom amigo, eu duvido. Quando alguém entroniza um ideal para além de si mesmo, olho com certo nojo. Quando alguém se mete a falar de amor, assim, meio à toa, só me resta dar as costas.

O Lemmy foi um sujeito sofrido, muito experimentado de vida, de bom humor, bon vivant, e como mostram os relatórios daquilo que deixou (em bens materiais), bastante pouco ambicioso. Sua vida era sua música, suas mulheres, seu Jack Daniel's, seu bom humor e seu Rickenbacker. O resto ele deixou para trás.

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Grande sujeito.


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Sobre Rodrigo Contrera

Rodrigo Contrera, 48 anos, separado, é jornalista, estudioso de política, Filosofia, rock e religião, sendo formado em Jornalismo, Filosofia e com pós (sem defesa de tese) em Ciência Política. Nasceu no Chile, viu o golpe de 1973, começou a gostar realmente de rock e de heavy metal com o Iron Maiden, e hoje tem um gosto bastante eclético e mutante. Gosta mais de ouvir do que de falar, mas escreve muito - para se comunicar. A maioria dos seus textos no Whiplash são convites disfarçados para ler as histórias de outros fãs, assim como para ter acesso a viagens internas nesse universo chamado rock. Gosta muito ainda do Iron Maiden, mas suas preferências são o rock instrumental, o Motörhead, e coisas velhas-novas. Tem autorização do filho do Lemmy para "tocar" uma peça com base em sua autobiografia, e está aos poucos levando o projeto adiante.
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