Ghost e Rob Zombie (Rock in Rio, Rio de Janeiro, 19/09/13)
Por Breno Airan
Postado em 14 de outubro de 2013
A 5ª edição do Rock in Rio foi a pior de toda a história do evento para os pais de plantão e roqueiros devotos da ideologia judaico-cristã. Houve um show, um rosário por assim dizer, de críticas a bandas que tocaram no evento – simplesmente por elas terem um cunho ligado ao satanismo.
Bem, a temática não é de hoje, frise-se. Sendo um culto direto ao cão-miúdo ou não – como não sou muito ligado a religiões e seus amavios, nem me importei –, encarei mais a música como porta de entrada para o meu paraíso cognitivo.
Porra (com o perdão do leitor), eu estava me desvirginando do evento! Nunca havia estado em algo tão colossal quanto a Cidade do Rock. A experiência e a aura sentidas no dia 19 de setembro – especificamente com as bandas ROB ZOMBIE e GHOST – foram únicas.
A expressão é manjada, mas foi único isso tudo. Deixo claro que é muito mais importante o teor das canções, o que elas querem passar não apenas por suas letras, mas por sua vontade própria de chegar a nossos tímpanos já acostumados com sons diversos.
Fui para o espetáculo daquela quinta-feira acompanhado com minha lady Mariana Souza e mais dois amigos jornalistas.
A primeira vez que viajei de avião, primeira vez que fui ao Rio de Janeiro, primeira vez que vi o Cristo Redentor ostentar seu poder lá de cima, imune às críticas feitas lá da Barra da Tijuca, onde aconteceu o evento.
Tanto o também cineasta de horror Rob quanto a sueca Ghost falam, nas entrelinhas, do homem como um ser unânime. Que tem seus medos e suas crenças. Uns egoístas. É isso que nós somos.
Para tanto, não a minha opinião a que conta, mas as mãos à minha frente, como se bradassem, como se cantassem junto, em uníssono.
Zombie fez um dos shows mais impecáveis e pulsantes que já vi em vida. Creio que tenho agora um débito de 15 anos por ter assistido aquilo e pulado ao mote das seis cordas do JOHN 5.
Executando com maestria hits a exemplo de "Meet the Creeper" – que abriu calorosamente sua apresentação no Palco Sunset –, "Superbeast", "Living Dead Girl", "More Human Than Human", "Thunderkiss '65" (ambos de seus tempos também áureos de White Zombie) e seu mais novo single "Dead City Radio And The New Gods of Supertown", o morto-vivo industrial não ficou devendo em absoluto em relação ao restante do cast.
Sem tanto sal, Dr. Sin, Almah, Hibria e Sebastian Bach já haviam dado suas deixas para o mestre do terror mostrar o que um verdadeiro performer faz: levantar a galera como se fosse uma rave headbanger.
Então é chegada a grande hora: Ghost. Logo depois de um batucante show do Sepultura e Les Tambours Du Bronx, lá estava eu ao lado de minha namorada recém-fã da banda – havia emprestado o debut deles há pouco tempo e com o agravo: "Não deixe sua mãe ouvir, porque as letras tem alusão ao diabo!". E ela tomou esse cuidado ao escutar a pérola.
E que álbum aquele primeiro destes suecos encapuzados! Referências máximas a Mercyful Fate, Pentagram, Coven, Blue Öyster Cult e tantos grupos bacanas, com essa pegada mais dark, ocultista. Mas o Ghost não convenceu a quem foi para assistir ao Metallica.
A mentalidade de quem nunca ouviu a banda e não estava nem aí para ela – de fato, uma "qualidade" de 80% dos metalheads ou, simplesmente, "metaleiros" – é a de que o sexteto macabro não correspondeu às expectativas do Palco Mundo.
"Se era o objetivo deles impactar, não convenceram!", alguns disseram. Como não? Quantos roqueiros cristãos – ou não, tanto faz – não foram até a Rock Street ou lanchar no momento do espetáculo/culto a Satanás numa Cidade Maravilhosa que há pouco tinha recebido o representante de Cristo Salvador na Terra, o brando e acessível papa Francisco?
Teria sido enfado, tédio? Pode ser. Mas há algo no âmago. Amigo meu gostou do som, mas "não lhe entrava" por sua religiosidade. É bem verdade que o ataque é feroz às divindades e o ritual, feito com leveza no stage. Nenhuma parafernália, nenhum escândalo.
Muito longe de figuras do Shock Rock, como ARTHUR BROWN e seu mundo maluco, SREAMIN' JAY WAWKINS, ALICE COOPER, KISS ou LORDI, o Ghost faz de sua música o verdadeiro caminho, para além do bem e do mal.
Logo de cara, eles executaram uma trindade não-sagrada: "Infestisumam", "Per Aspera Ad Inferi" e "Con Clavi Con Dio". Munido de canções a exemplo de "Ritual", "Prime Mover", "Gulleh/ Zombie Queen" e "Monstrance Clock", o PAPA EMERITUS II e sua trupe de NAMELESS GHOULS mostraram sua força num dos países mais católicos (e, ao que parece estar se tornando, evangélicos) do mundo.
Em entrevista, um dos tais Nameless Ghouls – em tradução livre, bestas sem nome – esclareceu que a intenção da banda não é chocar; muitas outras já o fizeram nas décadas passadas.
Os integrantes, os quais ninguém sabe a verdadeira identidade e que se especula que sejam advindos do Death Metal underground da Suécia, não mostram seus rostos por um detalhe meramente estético.
Leia-se "meramente", mas não com conotação simplória. Segundo o músico, eles se vestem daquele jeito e se escondem para criar uma nova (e já perdida) sensação: a celebração à música em si e para si.
"Não precisamos mostrar quem somos para que gostem do nosso trabalho. Isto aqui tem um quê mais teatral, performático, do que qualquer outra coisa. Não queremos que músico tal seja ‘venerado’ como acontece em outras bandas. Somos o Ghost e só", pontua uma das desconhecidas bestas falantes. Ainda assim, a imprensa brasileira desceu a lenha no grupo...
Fazer o quê? Jesus não agradou a todos, imagine o Ghost...
Este texto faz parte das páginas da revista digital Rock Meeting. Para acessar gratuitamente o conteúdo da edição deste mês de outubro, clique no link abaixo.
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Rock In Rio 2013
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