Anos noventa: a década não foi tão ruim assim
Por Igor Z. Martins
Postado em 07 de outubro de 2013
Os saudosistas dizem que os anos 1990 foram uma tragédia para o rock. Mentira. Os anos 1990 foram extremamente frutíferos para os amantes da música pesada. Se nos anos de 1970 e 1980 existia uma uniformidade estilística entre as bandas (ou era heavy tradicional, ou era thrash ou era hard farofa – salvo as exceções), os anos de 1990 tiveram um repertório variadíssimo. Grandes bandas, das mais variadas vertentes, nasceram ou se firmaram na década de 90: Alice In Chains, Pearl Jam, Type O Negative, Nirvana, Pantera, Dream Theater, etc. Grupos que já tinham um nome também lançaram bons álbuns na referida década, como o Iron Maiden, Metallica e Megadeth.
Os destaques são:
10. Type O Negative – Bloody Kisses – 1993: Há quem diga que a obra prima do quarteto de Nova Iorque é o "October Rust", de 1996. Mas foi em "Bloody Kisses" que a banda começou a formatar seu estilo e identidade. O álbum varia de arrastadas pegadas doom, passando por um erotismo tarado, e varia da sensualidade à pancadaria insana. Os destaques do disco vão para o maior hit da banda, "Black Number One", e mais "Christian Woman", "Summer Breeze", "Blood & Fire", "We Hate Everyone" e a faixa título.
9. Dream Theater – Images & Words – 1992: Data de consolidação do metal progressivo. É de "Images & Words" que vem "Pull Me Under", o maior clássico do Dream Theater. O álbum é ainda recheado com pérolas como "Take The Time", "Surrounded", "Under a Glass Moon", "Learning To Live", "Metropolis" e a jazzista "Another Day". Para quem gosta de música técnica é essencial. Aos que desprezam maestria em música; passem longe. O disco marca a entrada do vocalista James LaBrie na banda. Em estúdio, a performance do cantor é ótima. Já ao vivo, ao menos naquela época, era uma coisa medonha, como o vídeo "Live In Tokyo" (1993) mostra.
8. Pantera – Far Beyond Driven – 1994: Se "Cowboys From Hell" (1990) mostrou o Pantera ao mundo e "Vulgar Display Of Power" (1992) consolidou a banda no cenário da música pesada, foi com "Far Beyond Driven" que o grupo bateu o pau na mesa e declarou "ninguém mais pode conosco!". O álbum traz elementos de todos os álbuns da banda, de "Cowboys..." a "Reinventing The Steel" (2000). Todo peso, melodia, insanidade, raiva, amor, frustração e esperança estão no álbum. Destaques para "I’m Broken", "5 Minutes Alone", "Throes Of Rejection", "Becoming" e a lunática "25 Years", talvez a música mais "demoníaca" do Pantera.
7. Pearl Jam – Ten – 1991: Diferente do quase doom do Alice In Chains, do quase heavy metal do Soundgarden e do quase punk do Nirvana, o Pearl Jam veio ao mundo, como parte do movimento Grunge, com um álbum extremamente bem tocado e produzido que trazia uma sonoridade mais branda e melódica. É de "Ten" que vêm clássicos como "Alive", "Once", "Black", "Even Flow", "Jeremy", etc. Infelizmente, o Pearl Jam, hoje, não passa de uma banda de trilha sonora de comédia romântica, absolutamente diferente daquela do início da década de 1990.
6. Megadeth – Countdown To Extinction – 1992: Foi quando o Megadeth tirou sua cabeça do speed thrash dos anos 1980. "Countdown..." é coeso, moderado, cheio de flertes com o hard rock e o heavy tradicional. O clássico absoluto da banda "Rust In Peace", lançado em 1990, tinha a sonoridade calcada nos anos 1980, o que faz de "Countdown...", em termos de sonoridade, o destaque da banda nos anos 1990. Lá estão "Symphony Of Destruction", "Architecture Of Aggression", "Sweeting Bullets", "Captive Honor" e "Ashes In Your Mouth". Sonoridade cativante, produção impecável e um desfile de Mustaine, Menza, Ellefson e Friedman: a formação clássica da banda; praticamente um supergrupo.
5. Metallica – Black Album – 1991: Para muitos, um álbum que denota a venda do Metallica ao mundo comercial da música. Para outros – inclusive eu –, é a obra prima do Metallica, que reúne toda a raiva dos anos 1980 com o amadurecimento consequente, e torna "Black Album" a "Monalisa" do Metallica. A banda foi criticada pelos fãs xiitas e bebedores de gasolina thrashers por exibir baladas como "Nothing Else Matters" e "The Unforgiven", mas o disco é uma passarela de porradas na cara como "Sad But True", "Wherever I May Roam", "The God That Failed", "Through The Never", "Struggle Within" e, claro, o superhit "Enter Sandman".
4. Iron Maiden – Fear Of The Dark – 1992: Fanáticos e tarados pelos anos 1980 odeiam esse álbum, bem como seu antecessor "No Prayer For The Dying", de 1990. O problema para essas pessoas é que o Iron Maiden havia deixado de lado toda aquela pompa dos anos 1980 e voltou a investir no bom e velho jeans com jaqueta de couro e músicas que vão direto ao ponto, sem enrolação. "Fear Of The Dark" é caracterizado, basicamente, pelas músicas energéticas com aquela pitada de hard rock. É um repertório que faz defunto levantar: "Be Quick Or Be Dead", "From Here To Eternity", "The Fugitive", "Judas Be My Guide", sem esquecer da faixa título, que grudou no repertório da banda até hoje, a sombria "Afraid To Shoot Strangers" – a melhor canção da Donzela da década de 1990 – e a balada "Wasting Love", trilha sonora de muitos casaizinhos.
3. Soundgarden – Badmotorfinger – 1991: Outra expressão de destaque do movimento Grunge. Com esse disco, o Soundgarden começou a aprimorar a sua sonoridade, saindo do som mal produzido e obscuro (mas ótimo!) dos lançamentos anteriores. É, talvez, o melhor trabalho da vida do vocalista Chris Cornell. O disco é uma porrada na cara, com destaques para "Rusty Cage", "Slaves & Bulldozers" (aqui, Cornell ensina como cantar!), "Room A Thousand Years Wide", "Somewhere", "Holy Water" e a clássica "Outshined". Obrigatório para todo amante do movimento Grunge.
2. Alice In Chains – Dirt – 1992: "Them Bones", "Dam That River", "Rooster" ou "Down In A Hole" falam por si. "Dirt" é a obra prima do Alice In Chains. Um desfile de peso, melodia, depressão, ira, alegria. O melhor trabalho da carreira do finado Layne Staley. O disco é uma evolução natural de "Facelift" (1990), trazendo mais brilhantismo musical, com canções mais trabalhadas e uma produção impecável.
1. Nirvana – Nevermind – 1991: É o disco que mudou o rock a partir dos anos 1990. Qualquer pessoa que goste de rock é obrigada a ouvir esse álbum. É o disco do Nirvana que melhor foi produzido e composto e, até hoje, é uma referência para músicos e produtores dos mais variados estilos – diz a lenda que Axl Rose fez os engenheiros de som de "Chinese Democracy" (2008) captarem o exato timbre de bateria que Dave Grohl usou em "Nevermind". O hit dos anos 1990, "Smells Like Teen Spirit" abre o disco, seguido por petardos como "In Bloom", "Come As You Are", "Breed", Lithium", "Stay Away", etc., sem excluir as acústicas "Polly" e "Something In The Way".
Menção honrosa aos "Use Your Illusion 1&2" do Guns N’Roses, lançados em 1991!
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