Comentários: quando eles não acrescentam ao diálogo
Por Roque Zanol
Postado em 27 de setembro de 2012
Há uma posição recorrente nos comentários deste site. Após a postagem de um texto de opinião pessoal sobre algum assunto polêmico, normalmente uma crítica negativa a uma banda/cantor ou atitude tomada por alguém, sempre são sentenciadas máximas que podem ser expressas da seguinte forma: ‘cada um gosta do que quiser, tu escutas a tua música e faz o que achas certo e eu escuto a minha...’, ou ‘se não gostas, não és obrigado a escutar...’. Por exemplo, recentemente dado autor publicou aqui no whiplash! um texto crítico, mas inteligente e bem humorado, no qual delatou o que ele chamou de os suprassumos dos superestimados, alguns nomes eu concordei estarem na sua lista outros eu teria poupado, porém jamais me ofendendo por causa de alguns honestos pareceres seus, que inclusive podia-se notar na leitura, eram feitos por um admirador da própria obra de alguns dos artistas citados. E então, como esperado, choveram comentários daqueles expostos anteriormente.
Certo, mas ora, o direito a opinião pessoal e liberdade de expressão, de se escutar e ver o que quiser é pressuposto do discurso democrático, ter que apelar a convenções elementares de liberdade em resposta, sempre que alguém emite uma opinião minimamente destoante do convencional, por falta de um termo melhor, é a prova de quando o entendimento das pessoas sobre o livre debate está carente, ou quem sabe seja mesmo falta de boa vontade em levar a diante um diálogo produtivo. Quero lembrar o seguinte, eu não estou inventando a democracia e nem os sujeitos das afirmações lá de cima, nem o cidadão do texto dos suprassumos, porém com todo respeito, é uma obviedade, não acrescenta nada, rebater um texto bem fundamentado com frases fáceis a respeito de livre escolha, pelo contrário limita o discurso. O fato de ter argumentos para criticar ídolos, não torna intolerante quem o faz, antes demonstra senso crítico, ingrediente fundamental da democracia.
Para alguns parece que só se pode manifestar a favor, ou quem sabe com um seco ‘não gostei’ assim mesmo, qualquer complemento seria radicalismo, um pouco infantil não acham? É justamente isso que me incomoda, há uma mentalidade de aceitação irrefletida, ou no mínimo passividade, perigosa em relação a tudo o que nos é oferecido pela grande imprensa. De tal modo, me parece que o mandamento moderno é ‘aceite toda novidade com o entusiasmo de um palhaço’, e aí daqueles que ousarem criticar, são falsos moralistas, mal relacionados, etc. É oferecido muito produto de indústria cultural barato (o que nem era o caso dos artistas citados nas listas dos suprassumos) a população, seja em forma de programas de televisão dominicais, filmes cheios de efeitos especiais ou bandas pré-adolescentes, e este fato é criticável, não preciso aplaudir a mediocridade de alguns destes apresentados como ‘artistas’ em programas de auditório só por que querem me convencer que isto é respeito à diversidade de opiniões, respeito é ser educado, dar valor ao ponto de vista adversário, existe aí grande diferença.
Há uma ampla gama de elementos teóricos, culturais e sociais a serem levados em conta na avaliação de uma obra de arte. Na música, por exemplo, há o ritmo, a harmonia, as variações, letras, referências. Tudo isso escapa do mero subjetivismo, e dá conteúdo ao debate, a discussão saudável do valor de uma obra, além é claro do aspecto individual-subjetivo, da sua própria impressão, se assim não o fosse, compositores de séculos passados não seriam lembrados e não seriam influentes ainda hoje.
Pois bem, fique claro eu jamais julgaria mal alguém pelo seu gosto musical, por pior que seja. Mas, se uma cantora de axé, representante de tudo aquilo que mais desgosto na música POP quiser cantar uma música de uma banda de rock antigo, ela que o faça, porém posso estranhar, tenho esse direito, contanto que respeitosamente. O mesmo vale para uma banda ou artista admirado, que lance um disco ou algum produto de imagem vinculada com uma dramática mudança de direcionamento, para não dizer de gosto duvidoso, sem um conceito artístico adequado por trás, me dou o direito de desconfiar.
Não é meu intuito me opor radicalmente ou calar os que opinam sempre o mesmo óbvio e certeiro ‘gostos, cores e amores não se discute’. Apenas sugiro nos exigirmos um pouco mais, a plena democracia permite e em certa medida necessita isso para gerar bons frutos. É possível aceitar a escolha do outro e fazer críticas, utilizando-se o bom senso sempre, evidentemente. Espero que este texto sirva de resposta, também por outros, ainda que uma minoria, tenho consciência, e por favor, leiam duas vezes e pensem três antes de comentar.
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