Slayer: os 25 anos da obra-prima "Reign in Blood"
Por Ricardo Seelig
Fonte: Collector's Room
Postado em 11 de outubro de 2011
Apontado frequentemente como o melhor álbum de thrash metal já gravado, "Reign in Blood", terceiro disco do quarteto norte-americano Slayer, completou 25 anos de vida no último dia 7 de outubro. Nessas duas décadas e meia sua influência apenas se solidificou, evoluindo do fulminante impacto inicial à onipresença ostentada nos dias atuais.
Mas o que faz de "Reign in Blood" um álbum tão especial? Porque ele é tão influente? O que ele mudou no heavy metal? Pra começo de conversa, "Reign in Blood" é, sem dúvida alguma, o melhor trabalho do Slayer e o seu ápice criativo. Um dos criadores do thrash metal, o grupo foi formado em 1981 na Califórnia. Seus dois primeiros discos – "Show No Mercy" (1983) e "Hell Awaits" (1985) – já mostravam uma banda diferenciada, com bala na agulha para causar uma revolução. E essa expectativa se confirmou em "Reign in Blood".
Nunca um álbum havia soado tão extremo antes. Musicalmente, a agressividade instrumental pegava o ouvinte totalmente desprevenido, mostrando que era possível ir muito além do que qualquer banda já havia ousado antes. Em termos líricos, as letras acompanhavam a violência instrumental, porém com uma mudança de foco em relação aos dois primeiros discos, que exploravam temas satânicos. Em "Reign in Blood" as letras passaram a relatar temas mais mundanos, retratando acontecimentos reais do cotidiano. Isso fez com que as histórias cantadas por Tom Araya se tornassem assustadoramente próximas ao ouvinte, perturbando por serem totalmente verossímeis e possíveis. No lugar da fantasia entrava a realidade, e ela era muito mais assustadora.
Essa acentuação para o lado mais extremo foi o principal trunfo de "Reign in Blood". Foi essa característica que fez não só o disco, mas o próprio Slayer, se transformar em uma banda única. Ao tornar o seu som mais agressivo tanto instrumental quanto liricamente, acelerando a velocidade e acrescentando doses cavalares de peso, o grupo formado por Tom Araya (vocal e baixo), Kerry King (guitarra), Jeff Hanneman (guitarra) e Dave Lombardo (bateria) foi responsável direto pelo surgimento e popularização do metal extremo, através de estilos como o death metal. As bandas iniciais do gênero, como Death, Possessed e Atheist, mesmo sendo contemporâneas do Slayer e já terem os seus primeiros registros em demo tapes em 1986, foram influenciadas profundamente por "Reign in Blood". Além disso, a maneira como o Slayer tornou a sua música mais agressiva, usando para isso uma grande dose de técnica, mostrou que aquele estilo que surgia não era apenas mero barulho, mas sim um esforço consciente em busca de novas fronteiras para o heavy metal.
A resposta da crítica especializada avalizou a ousadia da banda. "Reign in Blood" foi aclamado de imediato como uma obra-prima pelas mais diversas publicações em todo o mundo. O semanário inglês Kerrang! classificou o disco como o mais pesado de todos os tempos e um grande avanço, tanto para o thrash quanto para o speed metal. Clay Jarvis, da Stylus Magazine, escreveu que o álbum definia um estilo. A Metal Hammer, na época, apontou "Reign in Blood" como o melhor álbum de heavy metal dos últimos 20 anos. Publicações musicais não especializadas em metal também reconheceram a força do trabalho. A Q Magazine incluiu "Reign in Blood" em sua lista dos 50 álbuns mais pesados de todos os tempos, enquando a Spin colocou o disco na posição 67 de sua lista com os 100 melhores álbuns lançados entre 1985 e 2005. O crítico Chad Bowar, do renomado site About Heavy Metal, classificou "Reign in Blood" como, provavelmente, o melhor álbum de thrash metal já gravado.
Há uma história interessante sobre a capa de "Reign in Blood". O disco foi lançado pela Def Jam, um selo que, até então, era quase que exclusivamente focado em artistas de hip hop. A distribuição da Def Jam era feita pela Columbia, que, ao ver a arte criada pelo ilustrador Larry Carroll, se recusou a colocar o álbum nas lojas. O LP acabou sendo distribuído pela Geffen Records.
As dez faixas de "Reign in Blood" estão entre os momentos mais marcantes da história do heavy metal. Repleto de composições excelentes, o disco tem o seu ápice em suas faixas de abertura e encerramento. "Angel of Death", a primeira faixa, se transformou em um dos maiores clássicos do Slayer. A letra, escrita por Jeff Hanneman, conta, de forma aterrorizante, as experiências com cobaias humanas levadas a cabo pelo médico Joseph Mengele durante a Segunda Guerra Mundial. Isso fez com que a banda fosse acusada de simpatizante do nazismo, motivando declarações contrárias dos músicos. Uma das composições mais violentas já gravadas, "Angel of Death" transporta o ouvinte para um mundo de sombras e pesadelos. A interpretação sublime de Tom Araya, com sua voz aguda e gritos ensandecidos, é uma das grandes responsáveis por isso.
O fechamento, com "Raining Blood", uma das composições mais emblemáticas do thrash metal, é de arrepiar. Uma introdução que surge ao final da faixa anterior, "Postmortem", prepara o clima para a sucessão de riffs repletos de melodia da dupla King e Hanneman, em uma canção que desafia qualquer fã de metal a ficar parado, tamanha a sua força. No meio disso tudo, há faixas do quilate de "Piece by Piece", "Jesus Saves", "Criminally Insane" e "Altar of Sacrifice", resultando em um álbum da mais alta qualidade. Para quem quer entender a força que "Reign in Blood" exerce sobre os fãs, recomendo o DVD "Still Reigning", lançado em 2004, em que a banda toca o disco na íntegra. O ponto alto dessa apresentação é justamente a faixa "Raining Blood", onde o grupo é banhado por uma tinta vermelha que simula sangue, resultando em um efeito visual de grande impacto.
"Reign in Blood" entrou no top 200 da Billboard, alcançando a posição 94. Na Inglaterra, o disco chegou no número 47 nas paradas. Além disso, foram lançados cinco singles para o álbum, para as faixas "Raining Blood", "Angel of Death", "Necrophobic", "Postmortem" e "Criminally Insane". O disco ganhou uma reedição em 1998, com a inclusão de duas faixas bônus - "Aggressive Perfector" e uma nova mixagem para "Criminally Insane".
Pessoalmente, apesar de reconhecer a inegável qualidade de "Reign in Blood", coloco "Master of Puppets" (1986) e "Ride the Lightning" (1984), ambos do Metallica, a sua frente em uma lista com os melhores álbuns da história do thrash metal. Essa é uma opinião estritamente pessoal, e está baseada muito na relação emocional que tenho com esses dois discos do Metallica, já que foi através deles que conheci a banda e ambos sempre estiveram entre os meus favoritos. Só fui ter contato com "Reign in Blood" mais tarde. Porém, como já disse, trata-se de um álbum estupendo, que merece todo o status que possui.
Se por algum motivo você ainda não possui esse clássico em sua coleção, aproveite o aniversário de 25 anos de "Reign in Blood" e se dê de presente essa obra-prima da música pesada. E, como a maioria que está lendo esse texto já o possui em seu acervo, sugiro uma audição em alto e bom som em comemoração.
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