Iron Maiden concede entrevista coletiva no Rio de Janeiro
Fonte: Disconnected
Postado em 17 de janeiro de 2004
Em sua sexta passagem pelo Brasil, o Iron Maiden concedeu uma entrevista coletiva à imprensa na manhã do dia 15 de janeiro, quinta-feira, no Hotel Intercontinental, em São Conrado, no Rio de Janeiro. Muito bem organizado pela gravadora EMI e pela Media Mania, o evento contou até mesmo com um Eddie Jr. (cuja foto está neste especial) recepcionando os profissionais que chegavam ao hotel. A coletiva teve a presença de toda a banda - Bruce Dickinson (vocal), Steve Harris (baixo), Nicko McBrain (bateria) e os guitarristas Adrian Smith, Dave Murray e Janick Gers - e poucos fatos curiosos.
Dickinson e Gers tomavam naturalmente a iniciativa de responder as perguntas dos jornalistas presentes [N. do E.: a do escriba aqui foi a quinta]. Enquanto Harris e McBrain falaram muito pouco, Murray e Smith por pouco não entraram mudos e saíram calados por causa de breves momentos. No entanto, os 30 minutos disponíveis foram recheados de bom humor.
O Disconnected esteve presente ao Intercontinental e traz a você a íntegra da coletiva, com fotos exclusivas, enriquecendo a melhor cobertura da turnê sul-americana na Internet brasileira. Além da cobertura dos shows que a Donzela fez em Praga (República Tcheca), Milão e Florença (Itália), você também pode acessar nossa página da banda e ler a resenha de toda a discografia. Os reviews dos shows em Buenos Aires (Argentina), Santiago (Chile), Rio de Janeiro e São Paulo, no ar a partir da próxima segunda-feira, fecham com chave de ouro o trabalho de toda a equipe.
Qual o conceito da capa de Dance of Death e a possibilidade de o Iron Maiden voltar a trabalhar com Derek Riggs? Além disso, a banda continuará trabalhando com [o produtor] Kevin Shirley, já que algumas pessoas acharam o som do novo disco um pouco abafado e grave, diferente dos outros álbuns?
Harris - Bom, a produção está realmente diferente. Está melhor (risos).
Dickinson - Não temos planos de trabalhar novamente com Derek Riggs novamente, já fizemos muitas coisas com ele por muitos anos. Em relação à capa, usamos um conceito diferente porque tínhamos um disco diferente, e realmente funcionou.
Gers - Certamente, o disco é um pouco diferente e tem uma outra atmosfera. Além disso, acho que é válido tentar algumas mudanças, que as imagens combinem com o conceito das músicas.
Gostaria de saber se é realmente a última turnê brasileira do grupo, já que vocês sempre falaram que o público aqui é diferenciado, que os shows no Rock in Rio foram os melhores?
Dickinson - Em primeiro lugar, gostaria de dizer que esta não é a última turnê no Brasil. O que dissemos no ano passado foi que pretendemos diminuir o tempo das excursões, não ficar tanto tempo na estrada. Toda a América do Sul é muito importante e tem ótimos lugares, mas o Brasil e sua audiência são fantásticos. Adoramos o país e eu gostaria de ficar uma semana inteira sem fazer nada (risos). Para mostrar como é importante tocar aqui, trouxemos para a América do Sul toda a produção que usamos na Europa, todos os acessórios de palco, todos os Eddies, todos os efeitos especiais. Será uma noita muita especial. Sabemos que muitas bandas vêm ao Brasil e trazem apenas o básico, porque fica muito caro, mas nós viemos com tudo para que os fãs fiquem orgulhosos de nossos shows. Tocaremos material novo e também algumas músicas antigas que todos querem ouvir.
Você pode adiantar algumas das músicas?
Dickinson - Não! É surpresa! (risos) Vocês podem ver na Internet.
Gers - De qualquer maneira, mão é mais segredo.
Quais são as lembranças do primeiro Rock in Rio, que faz 19 anos na próxima segunda-feira [20 de janeiro]?
Dickinson - [Fingindo esforço para se lembrar e provocando risos] Sim, faz muito tempo. Foi a primeira vez que viemos ao Brasil e realmente isso diz tudo. Particularmente, nunca havia visto algo como aquilo. Fãs no hotel, toda aquela loucura... Foi a primeira vez que me senti um rock star (risos) [N. do E.: em seguida, a tradutora trocou "rock star" por "pop star" e provocou mais um dos descontraídos momentos da entrevista, com Bruce fazendo cara de repúdio, obviamente brincando].
O Iron Maiden tem uma relação especial com Brasil. É a sexta turnê da banda no país, Bruce esteve aqui três vezes em carreiro solo e ambos gravaram discos aqui [Rock in Rio e Scream for Me Brazil, respectivamente]. Como vocês vêem o crescimento do público brasileiro nestes quase 20 anos, já que nos shows certamente haverá garotos que não eram nascidos no primeiro Rock in Rio?
Dickinson - Você quer dizer que estamos velhos? (risos)
McBrain - Nosso público é que não envelhece. Isso é fantástico no Brasil, como Bruce disse. As pessoas aqui são apaixonadas por heavy rock e pelo Maiden, há sempre um monte de garotos e a audiência vai se renovando. Quando estou no palco, tenho sempre a boa sensação de que nossos fãs não envelhecem.
Vocês pretendem fazer novos álbuns no mesmo esquema de Dance of Death, com todos gravando ao mesmo tempo?
Murray - Absolutamente. Iremos fazer isso mais vezes, porque assim conseguimos compartilhar criatividade e compor mais material, tanto que sobrou em Dance of Death e temos músicas inéditas. A química é muito boa quando estamos juntos.
Como vocês três [N. do E.: referindo-se a Smith, Murray e Gers] acertam o que cada um irá tocar na hora de compor e gravar?
Gers - Eu dou cinco libras a cada um para gravarem meus solos (risos).
Em músicas como Paschendale e Montségur, do novo álbum, há todo um conceito real, falando de guerras e eventos históricos. Vocês já pensaram em fazer um disco conceitual tratando do assunto ou até mesmo uma ópera rock, mas com o toque do Iron Maiden?
Harris - Na verdade, não. Eu e o Bruce somos muito interessados em História [N. do E.: o vocalista é formado em História e o conceiro de Powerslave foi idéia dele] e essa influência acaba aparacendo normalmente nas letras. Não especificamente apenas sobre guerras, mas também sobre qualquer assunto que achemos relevante.
Vocês foram convidados no Rock in Rio Lisboa, que acontecerá em Portugal em maio deste ano?
Dickinson - Nós não temos planos para tocar em nenhum Rock in Rio que não seja no Rio de Janeiro (risos e aplausos gerais) [N. do E.: neste momento, Gers aponta para o pequeno Eddie e diz que ele é seu filho. "Parece mesmo ter saído de mim", diz o guitarrista, provocando mais risos].
Que atmosfera é essa que vocês encontram no Brasil para gravarem discos ao vivo aqui? Além disso, a turnê de Dance of Death irá virar um novo álbum ao vivo ou vocês pretendem apenas lançar discos de estúdio depois do Rock in Rio?
Dickinson - Estamos filmando todos os shows da "Dance of Death Tour". De alguns conseguimos muitas imagens e de outro nem tanto assim, mas estamos gravando para um DVD que irá cobrir toda a turnê. Será diferente dessa vez, pois não haverá uma apresentação de apenas um país. E gravamos o álbum ao vivo no Brasil porque o público é extraordinário, havia muitas pessoas [N. do E.: 150 mil pessoas, limite imposto pela produção do terceiro Rock in Rio com medo dos "metaleiros" causarem confusão. Problemas, baderna e falta de educação e bom senso, no entanto, ocorreram na última noite, com o público "normal" que foi assistir ao Red Hot Chili Peppers] e o evento era enorme.
Foi um risco, porque teríamos de fazer um dos melhores shows de nossas vidas, e foi mesmo. Era algo que acreditávamos que pudesse funcionar e não poderíamos perder a oportunidade. Em relação ao meu disco solo, também foi porque é incrível tocar para os fãs brasileiros. Uma das coisas que mais gosto neles é o entusiasmo e a loucura quando tocamos materia mais pesado, além de sentir que todos prestam atenção e entendem o que está acontecendo na hora em que tocamos. Do ponto de vista do músico, isso é brilhante. Não se trata apenas de jovens gritando alucinadamente.
Em relação ao público que vem se renovando, gostaria de saber se eles não acham que vem se tornando cada mais violento. Além disso, se eles assisitiram a "Tiros em Columbine" [N. do E.: excelente filme-documentário do cineasta Michael Moore] e o que acham de toda essa onda de violência nos últimos anos, se a música pode ajudar de alguma forma.
Dickinson - Ah, bem... Sim... (risos).
Gers - Essa é pesada... (risos).
Dickinson - Não é tão simples assim. Um dos grandes problemas do mundo hoje em dia é que as pessoas têm de crescer rapidamente. Há muita pressão sobre elas, como deixar a escola e arrumar um emprego. As pessoas não têm mais tempo de viver antes de tomar uma decisão. Eu não acho que estejam se tornando mais violentas, não necessariamente há mais violência. Ainda temos os mesmo desejos, mas existe uma cultura em que fica impossível resolver problemas pessoais e isso gera reações violentas, ainda mais com armas automáticas à disposição de pessoas muito jovens. Não tenho tanta certeza que a música possa fazer algo a respeito, que o Iron Maiden possa consertar alguma coisa.
Gers - Eu não acho que a música possa mudar alguma coisa. Somos músicos e temos de fazer música, deixar as pessoas felizes por umas duas horas. Podemos apontar as coisas que achamos erradas na sociedade, mas não acredito que a música ou qualquer um envolvido com ela tenha o poder de mudar algo, politicamente falando. Isso não é possível, mas podemos alertar as pessoas para o que está acontecendo. Os políticos é que devem consertar o que está errado. Nós podemos escrever sobre as coisas, mas não olhar ao redor e dizer que vamos mudar o mundo, fazer isso ou aquilo. Isso é para os políticos, não podemos fazer isso, mas sim vir aqui e tentar fazer as pessoas mais felizes por duas horas. Isso é tudo que fazemos. O músico não pode responder as perguntas, mas sim fazê-las. Se você pode respondê-las, então vá ser um político.
Depois de 25 anos de carreira, vocês se sentem como os fãs, ou seja, rejuvenescidos?
McBrain - Eu gostaria, mas tento trabalhar como um jovem (risos).
Dickinson - Eu sou uma criança de 45 anos (gargalhadas).
Gostaria de saber qual integrante da banda é o mais envolvido com a parte tecnológica e se houve alguma inovação nesse sentido no último disco? Vocês têm estúdios caseiros?
Dickinson - [com todos os integrantes rindo e apontando para Harris] Steve. Próxima pergunta (risos) [N. do E.: O baixista é dono do Barnyard Studios, em Essex, na Inglaterra. Nele, a banda gravou os álbuns No Prayer for the Dying, Fear of the Dark, The X Factor e Virtual XI. Harris produziu Fear of the Dark junto a Martin Birch, que trabalhara sozinho em todos os discos anteriores, mas assumiu a produção e a mixagem de Live at Donington, A Real Live One e A Real Dead One. Contou com a ajuda de Nigel Green em The X-Factor e Virtual XI, mas liberou o posto para Kevin Shirley em Rock in Rio, Brave New World e Dance of Death, trabalhos que Harris co-produziu].
Harris - Adrian também tem um estúdio...
Smith - ... Mas é bem pequeno.
Dickinson - Usamos tecnologia de última geração, mas isso é segredo. Não falamos de nossos acessórios tecnológicos.
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