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Para Bruce Dickinson, vocal do Iron Maiden, Estados Unidos não valem a pena

Por Thiago Coutinho
Fonte: Metal Edge
Postado em 04 de agosto de 2005

Em uma entrevista de agosto de 2005 à revista Metal Edge, BRUCE DICKINSON não se mostrou à vontade em sair em turnê pelos Estados Unidos. Confira o bate papo com o cantor logo abaixo.

Metal Edge - Em discussões passadas, você não se mostrou muito à vontade em sair em uma turnê do tipo "greatest hits". Mas agora você está fazendo outra no Ozzfest. O que você tem contra este tipo de turnê?

Bruce Dickinson - Essas turnês do tipo 'greatest hits' são bem sedutoras, mas o que me irrita é que quando fazemos isso pela Europa, temos uma percepção diferente. Quando você faz isso por aqui [N. do T.: nos Estados Unidos], a audiência é completamente 'satisfeita', há um senso de satisfação própria, como 'nós já temos o que queremos...'. Já na Europa há um senso de celebração, como se fosse um êxtase. Se eu estivesse procurando por uma audiência satisfeita, feliz e gorda, que já tem o que quer, que merda eu sou? Um cabaré? Fico apenas dançando em círculos e eles aplaudindo? Eu não posso existir por mais de cinco minutos desse jeito. Se isso rola agora e depois, tudo bem, não tenho qualquer objeção quanto a isso. Mas se acaba se tornando algo regular, eu não me envolvo. Quero me envolver em algo que me torne um artista criativo. Eu conheço a natureza humana, e aceito o fato de as pessoas quererem ouvir apenas músicas que conheçam, ainda que não entenda tudo isso, vendo pessoas que estão espiritualmente mortas aplaundindo não porque você fez uma grande versão de uma música, mas apenas porque elas se sentem familiarizada com tal canção, é uma alma sendo destruída. Para todos nós no Maiden, nós colocamos tanto em uma performance... na verdade, hoje somos muito melhores, e mais efetivos, fisicamente do que quando estávamos com 25 anos de idade. Quando estávamos com 25 anos, e éramos jovens, éramos estúpidos e idiotas, bêbados a todo tempo e se divertindo. Nós apreciamos o que podemos e não podemos fazer agora, e sentimos isso em nós mesmos quando damos 100% do nosso coração e alma. Quando a audiência parece estar lá apenas por obrigação, por um momento é frustrante, mas depois vai virando raiva mesmo. Por que estamos fazendo isso por nós mesmos se as pessoas aparentemente não dão a mínima?

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Metal Edge - Bem, isso é a América. Esse país não quer um desafio, eles querem estar acomodados.

Bruce Dickinson - Entendo que isso é a América, mas não temos que tolerar isso. Não é uma questão de ser birrento e tentar puní-los, mas se as pessoas realmente não entendem o que fazemos, por que então nós viemos até aqui para fazer tudo isso, apenas para nos torturarmos? Por que precisamos de dinheiro? Nós constantemente ficamos pasmos na banda pelas diferentes reações das platéias no mundo todo, e para nós não faz qualquer sentido a influência perseverante das corporações dos Estados Unidos. Quando você fala com os garotos, olho no olho, é completamente diferente quando você fala com seis mil deles juntos. Não sei como vamos nos aproximar da América no futuro...

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Metal Edge - Incomoda a você o fato de as pessoas serem tão controladas pelos hits que não cheguem a se importar mais com o material novo?

Bruce Dickinson - Somos bem filosóficos acerca disso, porque estamos atentos... voltando aos primeiros dias do Iron Maiden, nossa primeira gravadora disse que não aconteceríamos nos Estados Unidos porque éramos muito agressivos, e muito fora de moda. Isso foi bem antes de eu entrar na banda. Então, quando lançamos o 'Number of the Beast' as pessoas pensaram que seríamos o novo Twisted Sister, que seríamos o prato do mês. Na realidade, tínhamos mais a ver com o Grateful Dead, éramos mais como eles. Um Grateful Dead hoje em dia seria impossível nos Estados Unidos. O máximo que você chegaria seria um Pearl Jam, ou talvez um Neil Young. Nós fazemos o que fazemos. Europa, América do Sul, eles aceitaram o Iron Maiden e, em um certo contexto, é inacreditável que os garotos de dezesseis, quinze anos continuem a nos adorar por lá. Quando estamos na América, tocamos para platéias de seis mil pessoas, mas na Europa tocamos para 50 mil em um estádio. Por Exemplo, a França é um mercado maravilhoso para nós, vamos para lá deliberadamente. Mas se as pessoas [dos Estados Unidos] pensam que eles querem apenas ver uma versão rock do David Letterman, por que devemos ir pra lá? O dinheiro é irrelevante. Nós podemos fazer muito mais dinheiro fazendo uma turnê de dois meses apenas com hits pela América do que pela Europa ou Japão. Sim, é um modo de ganhar a vida, mas ganhar a vida com dignidade. Você realmente precisa ir para um lugar onde as pessoas não gostam da banda? Eu odeio o Walmart [N. do T.: rede de supermercados norte-americana] e odeio todas as corporações de tudo na América. Eu os desprezo. As pessoas precisam estar com a cabeça feita para eles. Isso me deixa louco... e a América não é só isso.

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Steve Harris mais tarde comentou os depoimentos de Bruce. Leia abaixo.

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Sobre Thiago Coutinho

Formado em Jornalismo, 23 anos, fanático por Bruce Dickinson e seus comparsas no Maiden. O heavy metal surgiu na minha vida quando ouvi o vocalista da Donzela de Ferro em "Tears of the Dragon", em meados de 1994. Mas também aprecio a voz de pato bêbado do controverso Dave Mustaine, a simplicidade do Ramones, as melodias intrincadas do Helloween, a belíssima voz de Dio ou os gritos escabrosos de Rob Halford. A Whiplash apareceu em minha vida sem querer, acho que seus criadores são uns loucos amantes de rock e acredito que este seja o melhor site de rock do país, sem qualquer demagogia!
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