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Rob Halford: "Ninguém escolhe ser Gay"

Por Marco Néo
Fonte: Brave Words
Postado em 18 de junho de 2007

Segue uma parte da entrevista que Mitch Lafon, da revista canadense BW&BK, fez com o Metal God Rob Halford, em junho de 2007, quando da visita deste ao Canadá para promover sua empresa, a Metal God Entertainment, e seu CD, "Metal God Essentials Volume 1".

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ML: Se você me permite, quando você 'saiu do armário', você temeu que seus fãs em lugares como, por exemplo, o Alabama...

RH: "É ótimo porque quando eu vou para lugares como Tennessee ou Alabama, os headbangers gays estão lá na frente fazendo o sinal do Demônio. É algo sobre o qual eu sempre me senti confortável pra falar desde que me revelei".

ML: Espero não ter te ofendido...

RH: "Nem um pouco. Foi em '98 ou sei lá quando, mas o negócio é o seguinte: eu sempre disse que se eu não tivesse me 'revelado' quando estava fora do Priest, se eu nunca tivesse saído do Priest, será que eu teria ou poderia ter feito essa 'proclamação'? E eu não sei te dar a resposta. É uma coisa que eu sempre fico matutando. Num nível puramente pessoal, eu acho que se uma pessoa, seja homem ou mulher, faz essa afirmação, e - de novo - num nível puramente pessoal, eu sempre tentei ser tão aberto e honesto quanto possível, e não poder mostrar esse lado meu sempre me fez sentir desonesto e eu acho que isso acaba refletindo na música. A música é uma força incrível na humanidade e as pessoas são atraídas pela música de uma forma bastante pessoal. Pra mim, então, era uma questão de equilíbrio e eu sempre pensei, mesmo antes de sair do Priest, 'será que eu digo?', e 'o que será que vai acontecer?' De qualquer forma, acabou que eu me revelei estando fora da banda e quando eu voltei esse assunto já era 'águas passadas'".

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ML: Não deveria fazer qualquer diferença...

RH: "Bem, não, não deveria e obviamente não fez".

ML: Mas você deve ter ficado com medo nos anos 70 e nos 80s...

RH: "Ah, sim sim sim, e eu acho que ainda é amedrontador, mesmo hoje em dia. Deve ter outros músicos de Metal por aí que sejam gays e que não se revelam".

ML: Eu acabei de ler hoje sobre o Chuck Panozzo, do STYX, e o livro que ele lançou...

RH: 'Especificamente sobre o Metal, que ainda é visto como um domínio estritamente masculino (o que não é). É por isso que eu adoro bandas como EVANESCENCE e a AVRIL LAVIGNE (ainda que ela não seja Metal - a música dela é pesada)".

ML: Também tem a DORO, JOAN JETT, LITA FORD...

RH: "Exatamente. Isso destruiu o mito, se é que havia esse mito, de que esta era uma experiência para 'machões'. Não é. Os headbangers são tão misericordiosos, tolerantes e cuidadosos quanto fãs de qualquer outro estilo de música".

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ML: Mas ao optar em não manifestar sua orientação sexual nos anos 80 e mesmo no início dos anos 90, havia um receio de que eles não eram assim. Havia um receio de que os fãs de Metal eram homofóbicos.

RH: "Sim, e esse receio ainda existe até um certo ponto, ainda que eu ache que já houve avanços e mudanças nessa área em diferentes culturas. Há mais abertura e honestidade hoje em dia, mas AINDA há o precondeito e o ódio que, na minha opinião, são falhas da raça humana. Ainda se vê isso o tempo todo - crianças sendo ridicularizadas em playgrounds, ou na internet, ou coisa que o valha, e isso é terrível. Eu acho que qualquer que seja a marca que eu tenha deixado quando anunciei minha sexualidade, tendo sido parte de uma banda de Heavy Metal famosa mundialmente, eu gosto de pensar que algo de bom tenha resultado disso. Quando se vive com uma coisa dessas por toda a sua vida, você não pensa nas ramificações da declaração, mas quando eu recebi e-mails de bangers de 16 anos dizendo 'porque você fez o que fez eu tive coragem de chegar para o meu pai e falar de mim, e ele me deu um abraço'. Eu não pensei nisso, sabe. E eu não faço exatamente parte da cultura gay porque a cultura gay é bem estereotipada no mundo da música. Passamos meio que despercebidos, mas estamos aí. É fato que há muitos bangers gays por todo o mundo e eu acho ótimo que todos possam estar em um lugar e aceitar uns aos outros".

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ML: Não deveria haver 'bangers gays' ou 'bangers não gays', o que importa, ou ao menos o que deveria importar, é a música...

RH: "Totalmente e eu gosto de imaginar que está pra chegar o dia em que todos vão assimilar isso. Eu tenho um apartamento em Amsterdam e lá a cultura gay é tão assimilada pela população que nem é discutida. Está lá. Sua sexualidade é irrelevante. A cor de sua pele é irrelevante. Sua religião é irrelevante. Você é uma pessoa. Eu adoraria que esse dia chegasse para todos, mas até lá temos que trabalhar com essa falha humana que, até um determinado ponto, é imposta a todos pela formação familiar, apesar de que não dá pra ignorar que não é uma questão de escolha. Eu não escolhi isso. O pessoal da extrema direita conservadora, seja na política ou na religião, constantemente diz 'bem, foi você que fez a escolha'. Ninguém faz esse tipo de escolha. Ninguém. Eu não escolhi ser quem sou, eu sou desse jeito e há cada vez mais provas da comunidade científica de que isso é um fato. É como, ninguém escolhe ser negro, ser judeu. Acontece".

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ML: O nosso tempo está acabando, eu gostaria de fazer só mais uma pergunta sobre isso. Depois que você abriu o jogo, você teve uma sensação de alívio, de relaxar e, 'aaaaaaah'?

RH: "Sim, eu tive".

ML: Isso mudou a experiência de sair em turnê, porque você não tinha mais que esconder nada ou tinha que pedir para que os roadies te ajudassem a passar despercebido?

RH: "Não. Francamente, nada mudou nesse aspecto, além do fato que eu posso ser aberto e honesto sobre quem eu sou. Na verdade isso me colocou numa posição mais próxima aos meus fãs do que nunca. Gostaria de recomendar a todos os gays que ainda estão dentro do armário que encontrem sua paz de espírito, seu contentamento e sua força porque é algo muito revigorante de se fazer. Te dá muita força porque assim que você 'sai do armário', todas aquelas afirmações do tipo 'ele é uma bicha' ou 'ele é um chupador de pinto' passam a significar absolutamente nada. O efeito é o de balas de revólver vazias, não fazem a mínima diferença. As pessoas tiram aquelas paredes e barreiras que colocam para se proteger e, de uma hora pra outra, as atitudes, interpretações e opiniões dos outros deixam de ter qualquer valor porque cada um de nós somos únicos neste planeta e temos o direito de sermos quem quisermos ser e de dizer o que quisermos dizer. Creio totalmente no sistema democrático e no aspecto humano da sobrevivência".

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ML: Então, ao que parece, houve uma grande sensação de alívio, chega de fingimentos, chega de se esconder...

RH: "Essas perguntas foram feitas pra mim nos anos 80 (por jornalistas) e eu não consegui responder. Eu nunca neguei minha sexualidade mas a minha tendência natural era sempre desconversar quando alguém vinha com esse assunto. Agora eu não preciso fazer mais isso, o que é ótimo. Eu uso isso para quaisquer benefícios que possam advir desse fato".

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Sobre Marco Néo

Nascido na primeira metade dos anos 70, teve seu primeiro contato com sons pesados quando o Kiss veio para o Brasil, em 83, mas não compreendeu bem o que era aquilo. A contaminação efetiva ocorreu um ano depois, quando conheceu Motörhead, Judas Priest, AC/DC, Iron Maiden. Desde então, tornou-se um apaixonado colecionador de tudo o que se refere a Metal e Rock'n'Roll, independentemente de subestilos.
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