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Raul Seixas: 10.000 Anos A Frente

Por Claudinei José de Oliveira
Postado em 16 de março de 2015

Em suas Crônicas, Bob Dylan, recordando da primeira vez que ouviu os Beatles no rádio, disse que era como uma lufada de ar fresco em meio ao que tocava. Ouvindo os primeiros álbuns da banda, até hoje, a observação de Dylan se faz pertinente. Mesmo nos covers que, por exemplo, somam a metade do 1° álbum, a entrega, a gana, a garra e toda uma série de adjetivos equivalentes, não deixam as gravações envelhecerem: são atemporais em sua relevância. Você consegue ouvir nas gravações o que o moleque Lennon entendeu de seus ídolos norte-americanos: uma música suficiente para direcionar toda uma vida; uma música suficiente para defendê-la com a vida. Em suma, o que faz o Rock ser Rock.

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O conjunto de álbuns que Raul Seixas gravou pela antiga gravadora Philips, de 1973 até 1977 ( Os 24 Maiores Sucessos Da Era Do Rock, 1973; Krig-ha, Bandolo!, 1973; Gita, 1974; Novo Aeon, 1975; Há 10 Mil Anos Atrás, 1976; e Raul Rock Seixas, 1977), e que agora é relançado numa caixa intitulada 10.000 Anos À Frente, faz jus à noção de relevância apontada no parágrafo anterior.

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O que Raul Seixas fez nesse álbuns era, na época, original? Não. No entanto, o jeito com que ele fez, sim, é original. A Tropicália já havia misturado ritmos brasileiros ao Rock, porém, o resultado é o de uma colagem com ranço intelectualóide. Por exemplo, o sotaque caipira de Rita Lee na música 2001 é caricato. Se intencional ou não, é outra história e, diga-se de passagem, os melhores momentos dOs Mutantes foram longe do alcance da Tropicália.O sotaque nordestino em Raul não soa caricato: ele é nordestino. Todavia, todos os álbuns são um desfile caricatural, mas caricaturas feitas com gana e garra tamanhas que não tem como não ser autêntico.

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O espírito desleixado das gravações é herdeiro direto dos álbuns chapados de Dylan entre 1964 e 1966, com direito a sons escatológicos na introdução de As Minas Do Rei Salomão, presente no álbum Há 10 Mil Anos Atrás e erro de concordância de gênero em Água Viva, do álbum Gita.

O misticismo só pode ser levado a sério se visto como metáfora para o descontentamento e a transgressão. Isto faz lembrar Zé Ramalho introduzindo, num show, sua versão de Trem Das 7: "Esta é de um companheiro de profecia". Se Raul pudesse ouvir, racharia o bico de tanto rir, afinal o que é a capa de Há 10 Mil anos atrás senão uma auto-gozação à sua imagem de profeta. O que sobra, na verdade, em todos os álbuns, é o espírito iconoclasta e descrente de um crítico feroz que repudiou, com todas as forças, a índole das "formigas que trafegam sem porquê". Em diversas ocasiões, Paulo Coelho contou a história de que Raul queria sua ajuda para traduzir abstratos conceitos filosófico-existenciais para o povão.

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Musicalmente falando, há roubos descarados. Ave Maria Das Ruas, de Há 10 Mil Anos Atrás, é uma versão não creditada de Bridge Over Troubled Water, de Paul Simon. A Verdade Sobre A Nostalgia, de Novo Aeon e o cover de My Baby Left Me de Raul Rock Seixas são a mesma música com letras diferentes e deste último álbum é sempre lembrada a junção de Blue Moon Of Kentucky com Asa Branca, uma das tentativas de Raul em mostrar que o música nordestina não estava longe do Rock'n'roll mas, menos óbvio, é delicioso ouvir a levada de baião presente na versão de By, By Love.

Excelente produtor com apurado faro musical, Raul Seixas soube se cercar de músicos capazes de produzir Rock em pé de igualdade ao que se fazia de melhor no estilo, em qualquer lugar do Planeta. Ouçam as músicas e confiram: é técnica e feeling sem par. Para tanto, lançou mão dos anos trabalhando com a produção de discos populares e usou, a seu favor, todo um amálgama de estilos musicais, além das levadas nordestinas já apontadas. O conjunto é esquizofrênico porém, nunca é demais reiterar, o que dá liga é o espírito roqueiro faca entre os dentes, como se a vida dependesse de cada canção, mesmo as mais vulgares. É logico que há momentos datados, citações de época, mas prevalece questionamentos, inquietações e propostas presentes na alma humana desde onde o mundo é mundo até onde o mundo for mundo.

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Um axioma filosófico recheado de cafonice, como o refrão de um bolerão popular; a pieguice de um relacionamento desfeito elevada à condição de tragédia grega; fábulas ambientais e insurrecionais envolvendo peixes e moscas; levanta a cabeça rapaz, senão você não vê o disco-voador; o valor de estar vivo para ver o Sol nascer e poder fazer aquilo que se quer repeitando o querer de outrem: "o amor só dura em liberdade".

Sem sombra de dúvida, a obra de Raul não se resume a esses seis álbums, mas eles são o seu legado maior. Em conjunto uma obra autêntica e atemporal mas, acima de tudo, desafiadora. São raros os que defendem uma canção como se dela dependesse a vida.

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Sobre Claudinei José de Oliveira

Claudinei José de Oliveira é graduado em História e aproveita o tempo vago para ouvir, ler e escrever rock'n'roll e conversar com seus cachorros. Criou e mantém o blog rollandorocha.blogspot.
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