Vinil: quando os álbuns dominavam o mundo
Por Roberto Rillo Bíscaro
Postado em 18 de outubro de 2016
Era uma vez uma geração que passava horas em lojas de discos, garimpando, olhando capas, encontrando gente com gostos semelhantes, que se tornavam amigos. Para conhecer melhor o período da supremacia e as causas da decadência do formato álbum, assista a When Albuns Ruled the World (2013), da BBC. Centrado no contexto anglo-norte-americano, o documentário comenta sobre álbuns fundamentais dos anos 60 e 70, além de dar espaço às capas e à arte gráfica, componentes fundamentais do fetiche pelo bolachão de vinil.
O disco de 33 RPMs, que comporta mais de 40 minutos de gravação, foi criado no fim da década de 1940 e durante anos foi veículo para música erudita e trilhas sonoras de musicais. A juventude, que curtia rock/pop, consumia mais compactos com os grandes sucessos. A indústria fonográfica era voltada para produção de singles, canções projetadas pras paradas de sucesso; o resto dos álbuns era recheado de fillers, que, como indica o termo, era pra preencher o espaço.
O uso do formato LP como veículo de ideias mais consistentes pra música jovem nasceu nos EUA, com artistas como Bob Dylan, enchendo os 2 lados de mensagens de protesto e conscientização política. 1967 marcou o lançamento do fundamental Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles, que levou o rock definitivamente ao estatuto de arte. A importância da obra é tão imensa, que basta dizer que os meninos de Liverpool – assistidos pelo produtor George Martin – inventaram uma sonoridade, escancararam as portas da percepção para experimentações mil em estúdio, inventaram o conceito de metabanda e conceitualizaram a capa.
Auxiliados pelas novas estações FM – que executavam não apenas os singles e estavam abertas a faixas mais alternativas – o álbum de 33 RPMs adentrou os anos 1970 como o produto cultural mais lucrativo. A importância e divulgação dos LPs foram tão marcantes e um fenômeno tão rock, que esse gênero influenciou artisticamente soulmen como Marvin Gaye e jazzmen, como Miles Davis, que inventou o jazz-rock.
When Albuns Ruled the World pincela exemplos significativos dessa primazia, como os álbuns introspectivos da galera de Los Angeles, como Joni Mitchell; o caso de Tubular Bells (1973), álbum do então desconhecido Mike Oldfield, que sozinho catapultou a Virgin Records ao status de império; a minúcia progressiva de bandas como Pink Floyd e Yes, que acabaram se enroscando na própria grandiloquência e pavimentando o caminho pra escarrada punk de 1977.
E como é dialeticamente irônico acordar para o fato de que o manifesto em 3 acordes Never Mind the Bollocks (1977), dos Sex Pistols é tão conceitual quanto o exagero execrado do conceitual Tales from Topographic Oceans (1973), do Yes.
Sabia que existe estreita relação entre a crise setentista do petróleo e a proliferação de álbuns ao vivo e greatest hits/best ofs? Aprenda vendo o documentário.
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