Mario The Alencar: shoegaze nubiloso no novo álbum do operário lo-fi
Por Mário Alencar
Fonte: Press Release
Postado em 28 de maio de 2019
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Release por Leonardo Oliveira
(Crooked Tree Records)
Fechem os olhos, escutem os ventos ruidosos que sopram do Norte; lufadas distorcidas ventilando poesia e melodias. Conseguem perceber? É noise que chega de Maceió companheiros. E de qualidade. Falo de Música Popular Brasileira, mais uma obra do nosso incansável operário do lo-fi, Mário Alencar. Com sonoridade bem embalada, o compêndio de oito músicas traz variações rítmicas e de referências, um divisor de águas na, já extensa, obra do músico alagoano.
A salada sonora desafia o ouvinte a ir além dos padrões estéticos do que se entende por "música popular brasileira". A liga e o clima do disco são harmonizados com arranjos, embora simples e econômicos em algumas passagens, bem pensados e encadeados na maior parte, havendo, de fato, pouca coisa fora do lugar. Mesmo na mais longa canção "Nuvioso/Dissimular", com inacreditáveis 11.01 minutos, uma verdadeira Metal Contra as Nuvens, flui suave e encaixa bem no contexto do álbum. A propósito, esta canção é, na minha humildíssima opinião, o grande destaque do disco e por si só poderia compor um EP inteiro.
Já ouvi outras coisas do Mário e aqui eu acho que seu trabalho ganhou outro contorno, porque, de certa forma, conseguiu inovar dentro de seu próprio universo de criação, em especial nas composições em português. A métrica falada das letras no nosso idioma pátrio obriga o compositor a ser mais poético e literário que o de costume. Há quem se incomode com esse tipo de letra "desencaixada", digamos assim, da melodia. Talvez por uma questão de lógica linguística, a prosa da língua portuguesa soe estranha para alguns dentro do rock, que sempre se destacou por ser objetivo na passagem da mensagem. Bom, não sei... quem sabe em inglês seja mais simples dizer mais coisas com menos caracteres. No entanto, há diversos artistas no Brasil que dispensaram a métrica e criaram verdadeiras obras-primas, como o Lô Borges, o Renato Russo e sua Legião Urbana e, mais recentemente, o Beto Cupertino no Violins.
Às vezes parece que reconhecemos no rock cantado em inglês um suposto padrão internacional para calibrar nossos ouvidos para o que é ou não agradável. O problema dessas análises é que na arte não existe padrão (ou pelo menos para este que vos escreve não deveria existir). O que existe são aquelas criações que são capazes de nos tocar e despertar nossas emoções de alguma maneira e aquelas que nem percebemos a existência (e muitas dessas produzidas com aporte de milhões de dólares).
E assim também é a música. É difícil dizer o que de fato é a música popular brasileira. O que é essa entidade? Seria o quê ou aquilo que foi moldado e desenhado na bossa nova e na Tropicália nos anos 60 do século passado e suas variantes até aqui? Há quem diga que a MPB é o que faz sucesso e domina o mainstream nacional em determinada época. Por essa lógica o rock foi muito popular no Brasil nos idos dos anos 80, mas naquela época nenhum daqueles artistas se identificavam como pertencentes à MPB. Voltamos à questão do padrão e da necessidade humana que temos em classificar e individualizar as coisas e como isso não funciona na arte. Por essas e outras razões refleti bastante sobre o título e toda a ideia por trás desse disco do Mário Alencar.
O disco traz misturas idiomáticas, estéticas e poéticas; é quase um ''zeitgeist'' lo-fi de toda uma era marcada por profundo intercâmbio cultural. E isso, hoje, é o que há de mais popular não só no Brasil, mas no mundo.
Tracklist:
1. Playground (04:13)
2. Nuvioso / Dissimular (11:01)
3. Your Light Sparks (04:36)
4. LItoral Norte (03:52)
5. Ter Amigos (05:04)
6. Olhos Fundos (06:10)
7. These Days (03:55)
8. Estrela (05:15)
Link do álbum:
https://crookedtreerecords.bandcamp.com/album/m-sica-popular-brasileira
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