Geddy Lee desvenda o motivo que levou o Rush a gravar o pior álbum da carreira
Por Bruce William
Postado em 07 de dezembro de 2023
Não é nenhuma novidade que o "Caress of Steel", terceiro álbum de estúdio do Rush, lançado em 1975, seja o "menos querido" dentre a obra da banda por parte dos seus integrantes, que consideram o disco um trabalho "equivocado": "Tudo deu uma guinada terrível para baixo", relembrou Neil Peart no documentário Rush: Beyond de Lighted Stage. "Nós caímos da crista da onda porque nós estávamos tão apaixonados pelo que tínhamos feito. Estávamos tão envolvidos, tão orgulhosos... Como praticamente ninguém ouviu 'Caress of Steel', na turnê de promoção tivemos que fazer abertura em turnês menores e tocar em clubes insignificantes. Na época chamamos ela de 'Turnê Ladeira Abaixo'".
"Imediatamente o 'Caress of Steel' me vêm à mente", respondeu Geddy Lee ao ser perguntado sobre qual seria o pior trabalho do Rush, que, em seguida, ele tentar tirar da escolha: "Mas encontrei tantos fãs que amam este álbum". Mas não há motivos para Geddy meio que tentar se desculpar, pois nem é a primeira vez que a banda cita o álbum como um de seus piores trabalhos.
Como eles são os autores e donos da obra, eles têm todo o direito de ter a opinião que quiserem, e ela tem uma relevância colossal. Mas para nós, como fãs/público, é válida esta afirmação? Certamente não, conforme explicou Ronaldo Costa no excelente texto "Rush: Caress Of Steel é um álbum injustiçado?", onde ele diz: "Em 'Caress Of Steel' a banda resolve entrar de cabeça dentro do mundo do progressivo, com arranjos mais complexos, músicas muito mais longas e cheias de contratempos, além de seguir uma unidade em seu todo. As letras também seguiam uma temática típica das músicas características dessa vertente do rock. Pela primeira vez víamos uma peça épica num álbum da banda. No entanto, aquilo que foi concebido como uma obra inspiradíssima não recebeu de boa parte do público e, sobretudo, da crítica uma melhor acolhida. Uma verdadeira enxurrada de avaliações negativas foi despejada sobre as cabeças de Lee, Lifeson e Peart. Falou-se que os canadenses quiseram dar um passo maior que a própria perna, que o disco era pretensioso demais, que a banda claramente ainda não tinha domínio dos artifícios necessários para dar vida às suas idéias, que ainda estavam passando por um duro processo de aprendizado até desenvolverem a habilidade e criatividade que viriam demonstrar em discos posteriores, enfim, críticas não faltaram".
Então seriam estes os motivos que levaram o grupo a ter esta opinião negativa sobre o álbum? Possivelmente são várias causas, e conforme explica Geddy Lee em um trecho de sua recém-lançada autobiografia, "My Effin' Life", ele credita a um outro fator o desempenho abaixo do que eles exigiam de si mesmo neste álbum: a ausência de reverb no resultado final da gravação, que foi ocasionada por um fenômeno psicoacústico causado pelas substâncias ilícitas que eles estavam consumindo em larga escala naqueles tempos.
"Estávamos muito loucos fazendo aquele disco, honestamente. Acho que foi quase seis meses depois de fazer o disco que o ouvi. E o que eu pensava que estava com bastante reverberação e eco, estava sem processamento de efeito algum! Pensei: 'Que diabos?' Mas foi uma lição importante a aprender, e acho que algumas dessas experiências idiotas com drogas foram preventivas. Elas nos ensinaram que não dá para ser um músico sério se estiver se distraindo com essas substâncias quando se está trabalhando. Às vezes, você só aprende isso quando comete esse erro. Tocar [num show] sob efeito de ácido quando eu era muito jovem, depois de ser expulso do Rush? Eu nunca faria isso de novo sob nenhuma circunstância. Foi uma das piores experiências da minha vida".
A impressão que fica é que as circunstâncias pessoais dos integrantes da banda trazem más lembranças deste disco, e por isso é rejeitado por eles, diferente do que acontece para a maioria das pessoas que são fãs do Rush, que muitas vezes adoram este disco a ponto de ter ele como um de seus favoritos. Vamos voltar ao texto do Ronaldo: "'Caress Of Steel' está situado entre dois álbuns de extrema importância para o Rush, que são 'Fly By Night' e '2112'. O primeiro por ter sido o disco que permitiu ao Rush se estabelecer como banda e também por trazer as primeiras ideias do grupo voltadas para uma tendência mais prog. Já '2112' guarda sua importância simplesmente no fato de ser um dos maiores clássicos da carreira da banda, um disco que alcançou um enorme sucesso e que transformou o Rush num nome grande dentro do cenário. No entanto, essa terceira obra do power trio não é importante simplesmente por ter sido o molde do que eles vieram a fazer nos anos seguintes. É importante também porque é um álbum excepcional, que figuraria dentre as grandes obras de qualquer músico do universo do hard/prog".
Conclui Ronaldo: "A sonoridade da banda nesse disco vai desde riffs praticamente sabbathianos até algo próximo ao som do Genesis, passando pelo hard do Zeppelin. Menosprezar sua importância e qualidade é algo absurdo. Embora tudo seja sempre uma questão de gosto pessoal, esse é um disco excelente e que jamais mereceu as críticas e o pouco caso com o qual teve que conviver durante tanto tempo. É possível que boa parte da má acolhida a esse trabalho advenha do fato de que ele representou uma mudança de rumo que talvez boa parte das pessoas à época ainda não estivesse preparada para assimilar. Mesmo que o tempo lhe tenha feito alguma justiça, ele ainda pode ser visto como um dos mais subestimados discos que se tem notícia".
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