Opinião: A discussão que ninguém está fazendo sobre o "Dia do Metal" do Rock in Rio
Por Gustavo Maiato
Postado em 14 de setembro de 2024
Em 1985, dos dez dias do Rock in Rio, sete foram dominados por atrações de rock e metal. E que atrações! De AC/DC, Iron Maiden e Queen a Rod Stewart, Yes e Scorpions. Era o auge de uma década em que o rock estava em alta no Brasil, e a demanda por shows internacionais era imensa. Mas o que mudou em 40 anos?
Avançando para 2024, temos apenas um dia dedicado ao metal – um gênero literalmente criado "a ferro e fogo" por Tony Iommi. E, mesmo assim, a decepção é palpável. O Avenged Sevenfold como headliner? Uma banda que é amada por muitos, mas igualmente desprezada por tantos outros.
Quando se discute o headliner do Dia do Metal, a pergunta que frequentemente surge é: "Qual outra banda poderia ocupar o posto principal além de Iron Maiden e Metallica?" Vale lembrar que, em edições recentes, System of a Down e Slipknot foram as bandas principais. Mas a pergunta que ninguém parece querer fazer é: "Por que precisamos de um novo headliner de peso?"
Se olharmos para os outros dias desta edição do Rock in Rio, vemos nomes como Travis Scott, Imagine Dragons, Ed Sheeran e Shawn Mendes como atrações principais. Eles são unanimidades? Certamente não.
O ponto crucial é que, nos últimos anos, o mundo não se polarizou apenas em termos políticos; o mesmo ocorreu nas artes. Cada um está em sua própria bolha. No passado, no recreio da escola, o assunto poderia ser Dragon Ball para os meninos e Backstreet Boys para as meninas. Hoje, o tema pode ser um youtuber que você nunca ouviu falar.
O espaço para criar memórias afetivas com outras pessoas que gostam das mesmas coisas que você está cada vez mais escasso. Não há mais um Iron Maiden ou Metallica para unir todos. Cada um tem sua playlist favorita. E há um lado positivo nisso: mais bandas podem conquistar uma fatia do mercado musical. Houve democratização e mais liberdade. Mas, como diria o poeta: "O que eu vou fazer com essa tal liberdade?"
Não adianta reclamar da renovação do headliner do Dia do Metal. É como remar contra a maré. A realidade que vivemos é a das playlists individualizadas, segmentadas. Os subgêneros estão à flor da pele.
O que nos resta é nos contentarmos com bandas que, ainda que timidamente, conseguem romper a bolha, como o Avenged Sevenfold fez. Outras opções para as próximas edições? Difícil prever. O que importa é que os mecanismos sociais que ajudaram a criar os gigantes do passado simplesmente não existem mais.
A pergunta que fica é: o que precisamos mudar na sociedade, se é que devemos, para termos um novo headliner de peso em qualquer estilo marginalizado que seja?
Rock in Rio 2024
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