Johnny Cash passou dois dias gravando com um rockstar um disco que nunca saiu
Por Bruce William
Postado em 20 de maio de 2025
No início de 1969, Bob Dylan e Johnny Cash se reuniram em Nashville para dois dias de gravações descontraídas e pouco planejadas. Não havia um disco formal sendo gestado, tampouco ambição de criar um clássico — apenas dois ícones da música norte-americana se divertindo juntos no estúdio. A química entre eles ficou evidente em "Girl from the North Country", que abriria o álbum "Nashville Skyline" lançado por Dylan poucos meses depois. Mas esse foi apenas um pequeno recorte do que aconteceu ali, relembra a Far Out.


As sessões aconteceram nos dias 17 e 18 de fevereiro no Columbia Studio A. Na mesma semana, Cash apresentaria "Wanted Man" no lendário show da prisão de San Quentin, e parte da melodia surgiu exatamente nesses encontros com Dylan. Na época, apenas algumas faixas foram aproveitadas, mas outras gravações ficaram esquecidas — ou simplesmente sumiram.
Durante décadas, acreditava-se que boa parte das fitas tinha sido perdida para sempre. Mas um lote foi redescoberto por acaso: um engenheiro de som havia levado as fitas para casa e armazenado em um guarda-volumes. Anos depois, o conteúdo foi comprado por alguém por alguns milhares de dólares, e a Sony precisou reaver o material. Ainda assim, segundo uma fonte ouvida pela Rolling Stone, metade do que foi gravado nunca foi recuperado.

Entre as faixas resgatadas estão versões alternativas de Wanted Man, com Dylan e Cash criando a letra ali mesmo, no improviso. Em certo momento, é possível ouvir June Carter Cash, presente no estúdio, dizer: "Johnny, você precisa pegar essa letra com o Bob pra aprender a melodia." A presença de June adiciona um toque ainda mais íntimo às gravações, que também incluem versões espontâneas de "One Too Many Mornings", "Matchbox", "Ring of Fire" e até medleys de Jimmie Rodgers cantados "de cabeça", como se fosse uma roda de amigos.
Nada ali tinha cara de projeto ambicioso. Não havia ensaio, não havia pressão. Os dois pareciam mais interessados em curtir o momento do que em lapidar alguma obra-prima. É esse aspecto despreocupado que dá charme às gravações. Ouvi-las hoje, com décadas de distância, é como espiar dois monstros sagrados da música relaxando e sendo apenas... músicos.

O que restou dessas sessões não é um disco formal, nem uma coleção coesa. É um punhado de registros crus, cheios de calor, erros ocasionais e risadas. Mas justamente aí está a graça: não se trata da construção de um legado, e sim de um retrato do legado já em andamento. Dylan e Cash não estavam tentando impressionar ninguém — só estavam tocando, e isso basta.

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