A resposta definitiva de por que os Beatles se separaram e por que Yoko Ono é inocente
Por Gustavo Maiato
Postado em 29 de junho de 2025
Durante décadas, a narrativa dominante no imaginário popular foi direta: Yoko Ono, artista plástica japonesa e companheira de John Lennon, teria sido a responsável pela dissolução dos Beatles. Mas será que essa versão resiste a uma análise mais profunda? Em vídeo publicado em seu canal no YouTube, o jornalista musical Júlio Ettore desmonta esse mito com base em relatos históricos, entrevistas inéditas e trechos do livro "All You Need Is Love – A história oral do fim dos Beatles", lançado no Brasil pela editora Belas Letras. A conclusão é clara: culpar Yoko é injusto, impreciso e superficial.


Ettore conduz o espectador por uma cronologia que revela como a banda já enfrentava desentendimentos internos antes mesmo da entrada de Yoko no cenário. A morte de Brian Epstein, empresário que cuidava da carreira do grupo com mão firme, em 1967, marcou o início de uma desorganização administrativa que fragilizou a unidade dos Beatles. Sem Epstein, os integrantes mergulharam numa disputa silenciosa sobre quem assumiria o comando dos negócios e para onde iriam as decisões estratégicas da banda.

Enquanto isso, John Lennon, já em conflito com o cotidiano da fama e da rotina criativa dos Beatles, buscava outras formas de expressão. A chegada de Yoko em sua vida funcionou como catalisador — mas não como causa. Como destaca o vídeo, Lennon via nela uma parceira intelectual, alguém com quem poderia compartilhar sua inquietação artística. "Ele precisava mais dela do que ela dele", chega a dizer Paul McCartney em uma das entrevistas recuperadas na obra. É nesse ponto que Ettore propõe uma reinterpretação: o relacionamento com Yoko foi uma reação a um sistema do qual Lennon já estava farto.
As tensões se agravaram quando Yoko passou a frequentar os estúdios de gravação. Ringo Starr, inicialmente incomodado, chegou a pedir que ela não estivesse mais presente, mas ouviu de John que aquilo era uma forma de compartilhar a vida em tempo integral. Ringo, então, aceitou. George Harrison evitava o assunto. Paul McCartney, por sua vez, não escondia o incômodo — embora mais tarde tenha admitido que o grupo deveria ter tido mais empatia com ela. "Ela metia o bedelho, mas hoje sinto um pouco de pena dela", disse o baixista. "Era uma jovem que não recebeu atenção suficiente, e era óbvio que o John estava apaixonado."

Outro ponto levantado pelo vídeo de Júlio Ettore é o papel de Allan Klein, empresário americano que dividiu os Beatles. Defendido por John e rejeitado por Paul, Klein teria entrado na vida da banda com apoio — direto ou indireto — de Yoko. Mesmo assim, nunca houve provas de que ela tenha recebido dinheiro ou se beneficiado de acordos paralelos. Ao contrário, em entrevista incluída no livro, ela afirma: "Fui mal interpretada. Disseram que eu trouxe o Klein por interesses, mas ele era um sujeito machista. Não havia nada disso."
A leitura do livro, reforçada pelo vídeo, também ajuda a esclarecer que Yoko não foi a única figura feminina a sofrer resistência. Linda McCartney, esposa de Paul, também era alvo de críticas e enfrentava o mesmo ceticismo por parte dos outros integrantes. Além disso, o envolvimento de John com heroína, os conflitos de egos, os projetos solo e o desgaste emocional acumulado ao longo de uma década de trabalho intenso contribuíram fortemente para a ruptura.

Peter Brown, coautor de "All You Need Is Love" e amigo próximo do grupo, resume bem o panorama: "Desde a morte de Epstein, os Beatles perderam o lastro. A presença constante de Yoko foi só a forma que John encontrou para jogar sal numa ferida que já existia." O vídeo de Ettore ecoa essa ideia, chamando atenção para a complexidade da história e a necessidade de abandonar explicações simplistas. "Yoko não acabou com os Beatles. O que acabou com os Beatles foi o próprio peso de serem os Beatles", sugere o jornalista.

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