O erro que os Beatles cometeram e que os Stones contornaram, e por isso estão tocando até hoje
Por Bruce William
Postado em 01 de junho de 2025
Quando os Beatles se separaram, em 1970, o mundo ainda não tinha se dado conta do quanto aquilo era definitivo. Aos poucos, as entrevistas começaram a desenhar o cenário por trás do fim: brigas, ressentimentos, divergências de rumo. Para Mick Jagger, não havia mistério. Em uma entrevista à Rolling Stone em 1995, ele resumiu: "John e Paul queriam ser os chefes. Se houvesse dez decisões a tomar, os dois queriam estar no comando de nove. Como isso poderia funcionar?"
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A fala de Jagger carrega o olhar de quem viveu por dentro o mesmo ambiente competitivo — mas com um desfecho completamente diferente. Ao contrário dos Beatles, os Rolling Stones conseguiram sobreviver às próprias brigas e continuam ativos até hoje. A diferença pode estar na forma como Mick e Keith Richards entenderam, ainda que tardiamente, o que realmente importava.
Em sua autobiografia "Life" ("Vida", no Brasil - Amazon), Keith não nega as mágoas: "Talvez Mick e eu não sejamos amigos — nosso relacionamento está muito desgastado para isso —, mas somos os irmãos mais chegados, e esse é um vínculo que não pode ser cortado." Ele admite ter se sentido traído por Mick em algumas ocasiões, mas também deixa claro: "Se eu ouvir qualquer outra pessoa falando mal do Mick, rasgo a garganta do infeliz."

A relação entre os dois funcionou como um eixo desequilibrado, mas funcional. Jagger acabou passando a cuidar da parte organizacional: turnês, imagem, decisões estratégicas. Richards ficou com o núcleo musical — o som cru, os riffs, o sentimento roqueiro que manteve os Stones com os pés no chão mesmo nos momentos de crise. Com os papéis definidos, cada um teve espaço para bancar suas convicções, mesmo quando isso causava atrito.
Nos Beatles, a liderança compartilhada entre Lennon e McCartney era o motor criativo, mas também o centro da tensão. Sem um ponto de equilíbrio externo, como o papel que Jagger assumiu nos Stones, a disputa entre os dois acabou contaminando todo o ambiente. Harrison e Starr se sentiram cada vez mais ignorados, e o grupo foi se dissolvendo enquanto ainda estava no auge.

Keith e Mick também brigaram muito, a ponto de até chegarem a se separar uma vez ou outra. Mas sempre se reconciliaram. "Independentemente do que tenha acontecido, o relacionamento entre mim e Mick ainda funciona. Existe uma centelha magnética entre nós. Ela sempre existiu", escreveu Richards.
No fim das contas, talvez a diferença tenha sido essa: enquanto os Beatles pararam para discutir quem estava no comando, os Stones simplesmente seguiram tocando. Meio aos trancos, mas em frente.

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