O clássico de Raul Seixas que Gilberto Gil foi convencido a participar mesmo sendo desafetos
Por Gustavo Maiato
Postado em 13 de agosto de 2025
Apesar de Raul Seixas ter sido um dos nomes mais cultuados da música brasileira, sua relação com outros grandes artistas da época (principalmente os conterrâneos baianos) nem sempre foi amistosa — ou sequer existente. É o que revela o produtor Marco Mazzola em entrevista ao livro "O Raul que Me Contaram".
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Segundo Mazzola, que trabalhou em diversos discos do músico, Raul não era bem aceito por muitos músicos do mainstream, especialmente pelos da Bahia: "Principalmente os baianos não curtiam muito ele", conta. "Ele sabia disso e comentava comigo: ‘Porra, eu sou baiano, faço a música, mas, porra, só porque minha música é assim, os caras me renegam?’".
A exceção a essa distância — e um marco na discografia de Raul — aconteceu em "O Dia em que a Terra Parou", de 1977, quando Gilberto Gil participa na faixa "Que Luz É Essa?". Mas Gil também não era próximo de Raul, e sua participação só aconteceu por insistência e articulação de Mazzola.

O produtor relembra que, na época, Gil estava em alta: "Tinha feito ‘Refazenda’ e estava fazendo ‘Realce’". Ao propor a colaboração, Mazzola apelou para o bom momento de Gil: "Falei: ‘Gil, agora eu tô com moral na parada, queria que você fosse lá no estúdio comigo e, quem sabe, botasse uma voz no disco... Que luz é essa?, do Raul’". Gil topou — e assim nasceu uma participação histórica.
Ainda segundo Mazzola, Raul ficava magoado com a indiferença da classe artística, o que também se refletia na falta de gravações de suas músicas por outros cantores: "Nenhum artista pegava música pra gravar, porque achavam bobas. Dez anos depois, todo mundo começou a gravar as músicas dele, porque viram que era um puta conteúdo que tinha ali".

Mesmo sem relações próximas com nomes como Rita Lee, Elis Regina, Jorge Ben Jor e o próprio Gilberto Gil, Raul Seixas seguiu criando à sua maneira — entre o isolamento artístico e o culto popular que crescia em torno de sua obra. A aparição de Gil em seu disco foi uma exceção rara, e só aconteceu, segundo Mazzola, pela confiança entre ele e o cantor baiano.

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