A atitude política de Lobão que fez Roberto Marinho vetá-lo na Globo por 11 anos
Por Gustavo Maiato
Postado em 14 de outubro de 2025
Durante uma entrevista recente ao Podcast50mais, Lobão voltou a narrar o episódio que, segundo ele, o teria deixado 11 anos proibido de pisar na TV Globo - tudo por causa de uma manifestação política feita ao vivo no "Domingão do Faustão", no dia das eleições presidenciais de 1989, entre Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva.
Na época, o cantor conta que decidiu usar o programa dominical como palco para expressar seu apoio ao PT - algo proibido por lei naquele dia. "Eu sabia que estava cometendo um crime eleitoral", admitiu. "Fui ao Faustão com um casaco fechado, e por baixo tinha um bóton cheio de coisas do PT. Sabia que podia dar ruim, e deu."


O episódio, segundo Lobão, teria chegado diretamente ao fundador da Globo, Roberto Marinho, através de seu pai, que trabalhava na emissora. "O Roberto Marinho ligou pra ele e disse: 'João, o seu filho é alguma coisa sua?' Meu pai tentou disfarçar, e o doutor respondeu: 'Pois saiba que daqui por diante, seu filho não entra na Globo nem do lado do Paul McCartney.'"

O músico diz que, a partir dali, ficou "indexado", ou seja, vetado da emissora por mais de uma década. "Fiquei 11 anos sem entrar na Globo", contou. "Mas fiz aquilo porque achei que, depois de uma ditadura, um partido que nunca tinha experimentado o poder merecia uma chance."
Anos depois, porém, Lobão se distanciou completamente da esquerda e passou a criticar duramente o mesmo grupo político que um dia defendeu. "Eu tenho moral pra isso", afirmou. "Percebi que aquilo estava desandando, e mudei. Nunca fui apaixonado por política."
Mas a história do veto de Roberto Marinho sempre gerou controvérsia - e foi contestada publicamente. Em 2014, durante uma participação no programa Roda Viva, Lobão voltou a se desculpar "com o doutor Roberto" por ter apoiado o PT em 1989. O episódio chamou atenção da imprensa pela forma como ele romantizou o suposto telefonema do magnata das comunicações.

O Diário do Centro do Mundo, em um texto assinado por Kiko Nogueira, classificou o relato como "mitomania" - uma fantasia construída pelo próprio cantor. "Quem faz uma lista negra não avisa a vítima", ironizou o colunista. O texto lembrou ainda que, apesar da versão de Lobão, ele voltou ao Faustão nos anos 1990, o que enfraqueceria a ideia de um veto real.
Mesmo assim, a história virou parte do folclore em torno de Lobão - um artista que, entre bravatas, polêmicas e arrependimentos, continua fiel à sua imagem de rebelde sem freios, ainda que, como observou o DCM, por vezes "em busca de amor e aceitação de quem um dia o rejeitou".

Confira a entrevista completa abaixo.

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