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Resenha - Em tudo o que eu faço, procuro ser muito Rock and Roll - Irapuã Peixoto Lima

Por Ricardo Cunha
Postado em 14 de agosto de 2017

Nota: 9 starstarstarstarstarstarstarstarstar

O conteúdo deste livro é o resultado de um estudo realizado na cidade de Fortaleza/CE como requisito para a conclusão do doutorado do seu autor: Havia falado sobre esse livro há tempos. Hoje, depois de lido e relido, retorno com uma breve resenha que, do meu ponto de vista, poderia ajudar a reorientar muitas ações com vistas ao fortalecimento da cena do metal nacional.

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Irapuã Peixoto Lima Filho é Doutor em Sociologia e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), membro do Laboratório de Pesquisas em Políticas e Cultura (LEPEC/UFC). Também é pesquisador associado do Núcleo de Pesquisas Sociais da Universidade Estadual do Ceará (NUPES/UECE) e do Núcleo de Estudos em Gestão Política e Desenvolvimento Urbano (GPDU/UECE). Além da temática da Juventude, mantém pesquisas sobre gestão urbana, mobilidade urbana e educação.

Neste livro, o autor realiza, através de uma pesquisa muito consistente, uma análise panorâmica do movimento roqueiro da cidade de Fortaleza, o qual chama de "rede roqueira". Contexto no qual, atribui ao termo retro mencionado o sentido de conjunto das relações entre bandas de rock, público, produtores de shows, lojas de produtos ligados ao rock e afins.

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A leitura é de que tal rede passou a se constituir como um movimento capaz de sustentar economicamente, a partir de ações que fomentam eventos de rock e criam condições de consumo de produtos relacionados a este.

O estudo consiste de uma análise sócio-antropológica que busca compreender o modo de pertença dos roqueiros aos agrupamentos aos quais estão identificados. No qual "modo de pertença" significa a apropriação e incorporação dos símbolos e posturas do rock, ao comportamento e à vida prática dos fãs do gênero. Sendo que estes símbolos e posturas dizem respeito, na maioria das vezes, ao teor questionador e transgressor do rock, que estabelece uma espécie de diálogo profundo com a rebeldia típica da juventude.

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Nesse sentido, o rock expressa, através de uma linguagem muito própria, um conjunto de símbolos contidos nas roupas, nas letras e na atitude musical, que favorece o encontro do jovem, com sua identidade dentro de um grupo em dado momentos de sua formação. Na qual, conforme o autor, são assimilados e adequados, - numa perspectiva mais pessoal, - de acordo com a realidade de cada um e, - numa mais geral, - com a realidade do país, região, cidade, etc.

Na cidade de Fortaleza/CE, a rede roqueira começou a se firmar a partir de um conjunto de ações que permitiu ao jovem, ter acesso aos eventos (shows) e aos produtos do rock (CDs, camisetas e assessórios), pelo surgimento dos coletivos (entidades independentes e/ou ONGs), que, normalmente são capitaneados por gente que incorpora de uma forma mais abrangente o estilo de vida roqueiro (criando música, produzindo shows e/ou trabalhando em lojas de rock). A abertura econômica também contribui para a firmação da rede, visto que, implica em aumento de poder aquisitivo, permitindo também ao público menos abastado, adquirirs produtos relativos ao rock como os CDs gravados pelas bandas e os ingressos para os shows.

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O autor dividiu os agrupamentos mais atuantes na rede roqueira de Fortaleza em "Metaleiros", aqueles adeptos das vertentes mais pesadas do Metal, como o Heavy, o Thrash, o Death e o Black metal; em "Alternativos", aqueles adeptos das vertentes como grunge, indie, etc.; em "Punks", "Hardcores", "Skinheads" e "Emos". Sendo que, conforme diz o autor, "Cada um desses tem forte ligação com os movimentos surgidos no rock dos anos 1970 em diante, ou seja, do punk e seus desdobramentos."
Assim, a rede roqueira de Fortaleza/CE começou a se consolidar ou a existir de fato, quando passou a produzir e a escoar produtos de rock de todas as espécies. Isto é, quando desenvolveu uma cadeia produtiva capaz de prover um nicho de mercado, onde havia demanda e para a qual passou a existir produção de elementos de consumo.

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Nesse sentido, a formação de público consumidor, os músicos (que são aqueles em função da qual, a cadeia forma relações), os produtores de shows e as lojas de produtos relacionados ao rock se 'associam' para fomentar e prover a todo tipo de demanda ensejado pelo estilo de vida roqueiro. Fazendo com que, dessa forma, o movimento exista como algo concreto dentro de um cenário econômico volátil cujas perspectivas se orientam para a possibilidade de se criar um mercado sustentável independentemente de conjunturas.

Dessa forma, resgatando elementos da introdução, conclui-se que a obra em questão pode ajudar a reorientar ações por parte de todos os atores (público, artistas, produtores, proprietários de lojas, etc.), operantes na cena em que se constitui a rede roqueira de Fortaleza/CE. Sendo estes atores, o público para o qual o livro se destina. Em tempo, as referidas pesquisas e análises estão validadas cientificamente, constituindo-se em si mesmas, instrumentos de grande valor acadêmico. Da mesma forma, resgata e revela hábitos e costumes do roqueiro cearense em sua forma mais pura de interagir com o caráter universal do estilo de vida roqueiro, destrinchando aspectos culturais intrínsecos ao nosso povo. O presente livro não apresenta soluções, apenas aponta fatos sobre como funciona a rede roqueira na cidade de Fortaleza, pelo que atribuo nota 9.

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Sobre Ricardo Cunha

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