Primordium: contando as histórias do antigo Egito com Death Metal
Resenha - Old Gods - Primordium
Por Bruno Rocha
Postado em 25 de novembro de 2017
Nota: 8 ![]()
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A fascinação pela história e mitologia egípcias sempre existiu no Heavy Metal. Basta notar que músicas clássicas de algumas bandas abordam o assunto em suas letras, como Metallica (Creeping Death), Dio (Egypt (The Chains Are On)), Mercyful Fate (Egypt) e Iron Maiden (Powerslave), dentre outros. Contudo, sempre que nos lembrarmos de Heavy Metal com letras abordando as tradições egípcias, inevitavelmente o primeiro nome que nos vem à cabeça é o do Nile. Mas este texto foi criado para tratar do novo lançamento da banda potiguar de Death Metal Primordium, "Old Gods" que também aborda com profundidade os conhecimentos sobre a história egípicia e o panteão por lá adorado milênios atrás.
Para quem ainda não conhece a banda e deve estar pensando que o Primordium é uma cópia do Nile, está enganado. O Death Metal do Primordium tem muito da escola sueca do estilo, mormente no que se refere as timbragens dos instrumentos. As guitarras trazem aquela sonoridade de "serra elétrica" que consagrou nomes como Entombed, Dismember e Grave e Unleashed. Em "Old Gods", lançado recentemente via Rising Records em parceria a Metal Under Store, o Primordium decifra os segredos do surgimento da vida e das primeiras divindades adoradas no Delta do Nilo, sob o ponto de vista dos egípcios.
O sucessor do álbum "Todtenbuch" (2014) foi produzido pelo próprio baixista João Felipe Santiago e traz 50 minutos de Death Metal sujo com algumas orquestrações feitas em teclados e também inserções de instrumentos típicos que emolduram as histórias contadas nas letras. Após a intro "Pesedjet", a banda mostra a que veio com a música "Num (Pralaya)", que já mostra percussões acompanhando o ritmo ora veloz, ora cadenciado da música, tônica que se repete em "The Awakening (Mavantara)". A próxima composição, "God Of Light", busca inspiração nos terrenos do Black Metal, criando uma imagem de tempestade de poeira em meio a esfinges, sob o crepúsculo. O final acústico é belo e surpreende, colaboração de Irlan Maciel. Batidas em percussão e fundo sonoro de ventos uivantes abrem a faixa "Nuit", que começa bem cadenciada e logo se deixa conduzir por blast-beats.
A dupla "Geb’s Throne" e "Anhu Shu" forma uma jogada mortal com o que há de mais maldoso no Death Metal, sendo que esta última conta com a participação do guitarrista Thormianak (Miasthenia, Omfalos). A faixa seguinte, "Iunet Mehet (The Pillar Of North)" é completamente instrumental e étnica, levada por percussões, sítaras, flautas e "throat singing", uma técnica de canto étnica que performa timbres roucos e ultra-graves, aqui feita por Garibaldi Soares. Em certos momentos nos lembraremos da banda goiana Heretic, que tem uma proposta sonora similar. "Lady Water" quebra toda a calma da faixa anterior com um Death Metal hecatômbico, mas ainda com percussões escondidas atrás da bateria precisa de Lucas Somenzari. Falando em percussões, elas dão o tom novamente em "The Scribe", outro grande destaque do álbum com suas alterações repentinas de ritmo, solos e um trecho onde as guitarras se alternam nos lados do som (melhor percebido com fones de ouvido), criando um desespero reforçado pelos timbres de teclados. O álbum se encerra com o cover da música "Chernobyl", da banda potiguar Hammeron, uma das pioneiras do Heavy Metal norte-riograndense.
O contraste entre os timbres sujos de guitarra e as camas limpas de teclados tocadas em "string" é uma ideia interessante tendo em vista a importância das letras, mas é algo que pode ser melhor trabalhado em projetos futuros. Tanto que, em alguns momentos, as guitarras aparecem bem abafadas, tirando muito do peso que elas teriam potencial de mostrar. A sonoridade não está ruim, mas vale a pena e não será um pecado contra Anúbis ou Osíris se a banda e a produção se assearem um pouco mais com relação à força e imponência das guitarras. Tecnicamente falando, a dupla Lux Tenebrae e Alex Duarte trabalham com precisão suas linhas e solos. Contrabaixo e bateria trabalham perfeitamente e em harmonia, fazendo as bases onde o vocalista Gerson Lima vocifera seus guturais altamente cavernosos e negros, que só os brasileiros sabem fazer. A capa é uma bela obra de arte de Sandro Freitas, combinando bem com a temática lírica, mas não tanto com a musical, pois ela cairia melhor num trabalho de Stoner/Doom. Detalhe ínfimo perto da excelente proposta sonora do grupo.
O Primordium aqui mostra honestidade, criatividade, garra e conhecimento para trabalhar com propriedade seu Death Metal e sua temática. E o melhor: sem precisar imitar o Nile! Muitas vezes, técnica demais no Death Metal tira o principal atrativo do estilo, que é o terror. Coisa que o Primordium teve consciência e soube trabalhar perfeitamente. Este tributo aos deuses do Nilo é de aroma agradável, queimado em chamas criadas pelos homens do frio Norte, donos da serra-elétrica que influenciou o Death Metal nos anos 90, para ser usado como combustão nas catacumbas quentes do Egito. Mas a oferenda foi queimada e incensada no Rio Grande do Norte, longe do Nilo. Se os deuses egípcios possuem o dom da onipresença, eles estarão saciados e satisfeitos com o Primordium.
Old Gods – Primordium
(Rising Records/Metal Under Store, 2017)
Tracklist:
01. Pesedjet
02. Num (Pralaya)
03. The Awakening (Manvantara)
04. God Of Light
05. Nuit
06. Geb’s Throne
07. Anhu-Shu
08. Iunet Mehet (Pillar Of North)
09. Lady Of Water
10. The Scribe
11. Chernobyl (Hammeron cover)
Line-up:
Gerson Lima – vocais
Thiago "Lux Tenebrae" Varella – guitarras
Alex Duarte – guitarras
João Felipe Santiago – contrabaixo
Lucas Somenzari – bateria
Convidados:
Garibaldi Soares – throat singing
Flávio França – guitarras em "Chernobyl"
Thormianak – guitarras em "Anhu-Shu"
Irlan Maciel – violão em "God Of Light"
Ariane Salgado – violino em "The Awakening" e vocais em "Nuit"
Necrovomit – Sítara em "Pesedjet" e flauta em "Iunet Mehet"
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