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Titãs: Por que Nheengatu pode ser considerado a volta às raízes?

Resenha - Nheengatu - Titãs

Por Bruno Gonçalves
Postado em 24 de junho de 2014

Muito aconteceu com os Titãs, saída do Arnaldo (talvez o mais completo dos compositores da banda), saída do Nando ainda faz falta nas linhas de baixo, a morte do Marcelo que tinha aquele quê nas instrumentais da música e por fim a saída do Charles que se esgotou mental e fisicamente de tantas turnês (retratada na música Turnê do álbum Domingo e lembrada pelo próprio no anúncio de sua saída). Com tanto tempo e tantos acontecimentos é muito natural que uma banda tenha necessidade de se reinventar e após alguns fracassos e/ou deslizes eles trazem o que pode ser o primeiro grande registro depois do Acústico.

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Então, eu digo nessa resenha por que Nheengatu pode ser considerado a volta dos Titãs às suas raízes. Já pode ser possível começar a responder essa pergunta ao ver a capa do álbum. Conceitual e forte, algo que remete aos grandes clássicos dos Titãs (Cabeça Dinossauro, Jesus não tem dentes do país dos banguelas, Go back e Domingo).

"Fardado" abre o cd com um tapa na cara com seu peso e voz forte de Sérgio Britto em uma composição totalmente ligada a "Polícia" com um riff que lembra um pouco "You shook me all night long - AC/DC". "Fardado" é uma música de letra áspera que convida nossa força policial a se colocar em ambos os lugares, de quem defende o país e de quem quer que o país seja melhor indagando de repente uma tomada de decisão.

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Com "Mensageiro da Desgraça" os Titãs pisam no freio quanto ao peso da música, mas não na cutucada social. A música basicamente declamada por Paulo Miklos, algo que me fez lembrar "Violência" (do álbum Jesus não tem dentes no país dos banguelas). "Mensageiro da Desgraça" vai bem na ferida dos vícios cotidianos da sociedade sem pena ligada a uma declamação poética de um saral. Música remeteu muito "O camelo e o Dromedário" (do álbum Õ Blesq Blom) na declamação poética.

"República dos Bananas" cantada por Branco Mello me remete diretamente ao mesmo tipo de composição feita em "Dona Nenê" (do álbum Televisão), um tipo de letra mais infantil, porém com conteúdo. Mello mescla personagens reais (de forma descarada) e fictícios para relacionar as atuais situações políticas vividas pela elite do país e por sua população crédula.

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"Fala, Renata" ao meu ver foi a mais curiosa e talvez a mais divertida. Traz o peso que vimos em álbuns como "Titanomaquia" e "Domingo" com uma letra que dá nome a mídia que tenta distrair a atenção do público para os problemas do país, uma vez que a mídia "falar sem parar" a ponto de deixar todos confusos com informações desencontradas. Excelente vocal de Britto nessa música.

"Cadáver sobre cadáver" sem sombra de dúvidas tem o pé em "Uns iguais aos outros" (do álbum Domingo, talvez o mais injustiçado da banda) onde diz que todos morrem sem discriminação de raça, credo e preferências. Uma letra forte com tema pesado e uma instrumental que lembra um aspecto mais pesado e sombrio.

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"Canalha", a única cover do disco (de Walter Franco), cai como um complemento muito bom ao disco. Uma música mais lenta que remete a alguma personalidade do povo brasileiro, que prefere o caminho mais fácil e até incorreto algumas vezes tendo uma real atitude canalha a ir pelo lado certo.

"Pedofilia" que talvez poderia vir antes de "Canalha" pois tem a instrumental com o mesmo aspecto de "Cadáver sobre cadáver". Uma letra pesada com a visão da vítima de um pedófilo narrando como foi a aproximação de seu agressor e a sedução feita. Mescla muito bem com um refrão que traz a visão do agressor para com sua vítima. Uma letra de aspecto simples, incisiva e que pode perturbar os mais sensíveis. Excelente composição.

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Na sequência duas músicas voltadas para o ska que são mais alegres, por assim dizer. "Chegada ao Brasil (Terra à vista)" mostra uma visão sobre a chegada de Cabral ao Brasil em que mostra que desde cedo em nossa história somos conhecidos pelas nossas belas mulheres e pela sociedade torta que insiste em ficar dessa forma. Tema abordado com muita força em "Desordem" e "Mentiras" (ambas do álbum Jesus não tem dentes no país dos banguelas).

"Eu me sinto bem" é um Ska de ritmo contagiante e eleva o que pode ser chamado de "alegria" do disco em uma letra que remete a composições como "Porrada" e "Tô Cansado" (ambos do Cabeça Dinossauro) onde se atira para todos os lados, uma vez que se sente bem independente de tudo e todos. Um pouco invertido se comparado com as letras de "Porrada" e "Tô Cansado".

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"Flores pra ela" cantada por Miklos traz a violência contra a mulher, a que sofre na mão de um companheiro violento e que leva flores ao seu funeral. Mostrando uma triste realidade que cresce cada vez mais no Brasil, onde loucos fazem juras de amor por mulheres que agridem.

Em "Não Pode" temos outra elevada nas guitarras com um riff simples e marcante. Chamo atenção para a excelente presença de Mario Fabre nas baquetas em uma música que remete às instrumentais de "O quê?" e "Dívidas" (ambas do Cabeça Dinossauro) onde há uma sequência de coisas que não se pode fazer. São consideradas erradas em uma sociedade que vive uma espécie de "Didatura do Discurso único e dos direitos iguais".
"Senhor" traz um solinho de guitarra que é uma das marcas do disco com certeza, um belo trabalho das guitarras de Belloto e Miklos nessa instrumental que deixou a música com um peso característico do Cabeça Dinossauro. Uma letra que interliga com "Igreja" (do Cabeça Dinossauro) em que seu personagem não tem medo do problema, mas sim de sua possível solução. Um grito de liberdade que está sufocado dentro de cada pessoa.
"Baião de Dois" já começa com uma introdução forte que lembra "A verdadeira Mary Poppins" (do álbum Titanomaquia) e uma letra que claramente remete a grandes compositores da música brasileira como Cartola. Uma letra que parece exigir ações rápidas das pessoas que independente de seus resultados serão esquecidas junto de suas ações, uma crítica à natureza imediatista do brasileiro que quer resultados a curto prazo ou não serve mais.

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"Quem são os animais?" Relembra "Comida" e "Jesus não tem dentes no país dos banguelas" de forma mesclada (ambas do álbum Jesus não tem dentes no país dos banguelas) uma vez que fala da igualdade (ou falta) da mesma em uma letra que fala para quem sofre e quem pratica o preconceito com as minorias. Instrumental remete "Igreja" (do Cabeça Dinossauro). Uma música digna da carreira dos Titãs que fecha do disco de forma brilhante que coloca dos Titãs de volta nos trilhos do Rock nacional.

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Que venham os mimimis que falam que os caras estão forçando a barra, mas que é fato, é um bom disco de uma grande banda do rock nacional. Que venham mais nessa pegada.

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