Titãs: De volta às raízes com "Nheengatu"
Resenha - Nheengatu - Titãs
Por Wilker Medeiros
Fonte: Ideias Instáveis
Postado em 07 de junho de 2014
É fato que o Titãs é uma das bandas mais importantes da história do rock brasileiro, não só pela sua incrível formação original reunir os figurões Arnaldo Antunes, Nando Reis e Paulo Miklos, ou colecionar hits como Marvin, Sonífera Ilha e Enquanto Houver Sol, mas por fazer um som totalmente pulsante, com letras fortes, sempre carregadas de críticas sociais. Na primeira fase, o grupo concebeu um dos álbuns mais cultuados do gênero, Cabeça Dinossauro (1986), que trazia petardos como Bichos Escrotos, Polícia e a própria faixa título. Com muito peso e personalidade, os Titãs conquistaram a todos.
De lá pra cá muita coisa mudou, tanto em relação a integrantes importantes que saíram – Antunes, Reis e, recentemente, o baterista Charles Gavin -, quanto no que se refere a estilo e foco temático. Não que discos como o premiado, Sacos Plásticos (2009), ou o jovem clássico, A Melhor Banda de Todos os Tempos da Última Semana (2001), sejam ruins, mas desde Titanomaquia (1993) os paulistas roqueiros não faziam algo que tocasse realmente na ferida da problemática cotidiana.
Em 2012, comemorando trinta anos de carreira, os Titãs decidiram fazer uma turnê especial, tocando, na integra, o line-up de Cabeça Dinossauro. Isso, provavelmente, deve ter resgatado o ímpeto de outrora e levado os membros restantes a fazer algo mais cáustico. Assim é Nheengatu (2014): pesado, instigante e recheado de composições criticamente interessantes.
Agora em quarteto – pois o baterista Mario Fabre aparece como membro convidado – formado por Branco Mello, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto, a banda surpreende ao abrir Nheengatu (o título se refere à língua criada pelos jesuítas para a comunicação dos índios brasileiros e os colonizadores de Portugal) com a pesadíssima, Fardado. Sendo composta e interpretada por Britto – que aqui ganha destaque por escrever e cantar seis das quatorze faixas -, o single é uma espécie de continuação de Polícia, e ao mesmo tempo se atualiza por fazer um paralelo com o comportamento dos militares nos protestos do ano passado, pedindo que se coloquem no lugar dos manifestantes. Acompanhada pela poética, Mensageiro da Desgraça, que narra e denuncia as mazelas infernais dos moradores de rua.
Republica dos Bananas expõe as muitas futilidades humanas, de forma universal, bem como Fala, Renata – dona de um dos riffs mais marcantes e pegajosos de Bellotto – ressalta os discursos vazios destes tantos nomes expostos. Cadáver Sobre Cadáver tem uma pegada seca e constante na bateira, e cita que, no fim das contas, todos acabam morrendo, literalmente ou não. O cover de Walter Franco, Canalha, é uma passagem cadenciada e dolorida. Chegada ao Brasil (Terra à Vista) é basicamente a música-tema, sendo cínica por contar a descoberta do país, com elementos que foram e estão sendo aproveitados, no mau sentido da palavra.
O ska Eu Me Sinto Bem é simplório, mas fala sobre a inércia popular, que mesmo sem nada ter estão confortáveis com a situação. Outra dobradinha que chama atenção é Pedofilia (uma vítima de abuso infantil que faz uma confissão) e Flores Para Ela (a irônica e doentia visão da violência contra a mulher). Ainda sobra espaço para Baião de Dois (mesmo não saindo do clima, é musicalmente nordestina) e Quem São os Animais? (que discorre sobre o preconceito e a importância do direito de escolha).
Que este Nheengatu seja então um recomeço, e não recordação de momento, pois, mesmo não tendo o grande apelo radiofônico dos álbuns anteriores, é extremamente eficiente, do ponto de vista de artístico musical. Além de somar, fortemente, na cena do rock brasileiro contemporâneo, serve de inspiração, não só para os mais jovens, como pode despertar esse mesmo sentimento em bandas antigas, que também se encontram estagnadas no recente passado do Titãs.
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