Sebastian Bach: paulada metálica tradicional
Resenha - Angel Down - Sebastian Bach
Por Thiago El Cid Cardim
Postado em 21 de fevereiro de 2008
Em 99% dos casos, a imprensa cultural dita "tradicional" ignora completamente os lançamentos voltados ao hard rock e ao heavy metal, fingindo que eles simplesmente não existem e preferindo focar num tipo de rock mais comercial que toca nas rádios e, é claro, no tal rock alternativo ou "indie" que se repete à exaustão em grande parte dos cadernos dos maiores veículos – basta escolher a chamada "banda do momento", eleita pela New Musical Express, e mandar pau na máquina!
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Recentemente, no entanto, a participação especial de Axl Rose abriu os olhos destes mesmos jornalistas para o lançamento nacional do novo álbum solo de Sebastian Bach, "Angel Down". E, veja só, as opiniões foram rigorosamente as mesmas, acusando Bach de "gritador", "repetitivo" e afins. Para quem só consegue traçar paralelos com os Radiohead, Libertines, Strokes ou White Stripes da vida, não tinha como ser diferente. Como aqui a gente fala a mesma língua que você, tudo que você precisa saber é que "Angel Down" é uma paulada metálica tradicional, na veia mesmo, que mostra que o ex-frontman do Skid Row ainda tem muito para mostrar aos headbangers de todo o planeta.
Quando a faixa-título começa a tocar, abrindo a bolacha, percebe-se nitidamente que o combo hard rock+heavy metal que Bach comandava à frente do Skid Row (escute "Slave To The Grind" para entender o que quero dizer) acaba de pender muito mais para o lado heavy metal. Parte do peso destas canções inéditas de Bach, as primeiras desde o mediano "Bring ‘Em Bach Alive" (2000), deve-se à escolha de uma brilhante banda de apoio egressa de grupos de renome. Bobby Jarzombek já colocou suas baquetas a serviço do Riot, do Demons and Wizards (de Hansi "Blind Guardian" Kürsch e Jon "Iced Earth" Schaffer) e das bandas-solo de Rob Halford (Judas Priest) e Rob Rock. O baixo de Steve DiGiorgio passou por grupos de sonoridade extrema como Death, Sadus, Testament e Vintersorg. E o conhecido "Metal Mike" Chlasciak deu suas palhetadas no Painmuseum e também na banda de Halford, onde ficou realmente famoso entre os fãs. A mistura faz um bem danado às novas composições, que se mostram poderosas e encorpadas.
Aliás, as guitarras de Metal Mike e Johnny Chromatic são o grande trunfo de "Angel Down", sujas e distorcidas num nível que beira o thrash em alguns momentos ("Negative Light", "American Metalhead") e levando os vocais de Bach de agudos fortíssimos a extremos meio rasgados que comprovam, afinal, que o sujeito está com o gogó em funcionamento total e em ótima forma – e que me desculpem os "guns-maníacos", mas a dobradinha entre Bach e Axl Rose em três músicas de "Angel Down" mostra que, para alguns, o tempo passou de maneira mais inclemente do que para outros... :-)
Por sinal, dizer que Bach tinha "desaparecido" do mundo da música e estaria "pegado carona na fama de Axl Rose" para tentar "voltar", como sugeriram alguns coleguinhas, é sinônimo de profundo desconhecimento do mercado musical além de seus próprios umbigos. Desde a saída do Skid Row, Bach participou de uma série de tributos (Rush, Led Zeppelin, AC/DC, Iron Maiden, Twisted Sister), fez carreira como ator (na série "Gilmore Girls"), astro de reality shows ("Supergroup", da VH1) e cantor de musicais da Broadway ("Jesus Christ Superstar") e ainda foi a voz do segundo disco do Frameshift. É pouco pra você?
Fazendo referência clara ao Skid Row, Bach revisita aquele hardão suíngado e sacana da Sunset Strip oitentista em "Our Love Is A Lie". E para quem sentiu falta da voz do frontman em uma baladinha açucarada como o hit "Remember You", em "Angel Down" vai poder escutar duas delas: enquanto "By Your Side" é a típica faixa que as bandas de hard rock tocam com as luzes da casa de shows diminuídas para poder aproveitar o visual dos isqueiros acessos, os tecladinhos e corais de "Falling Into You", a música que encerra o disco, dão até um tom inicial meio brega – o que, neste caso, não é exatamente um demérito – antes do aparecimento do pegajoso riff de guitarra.
Mas é claro que não dá para deixar de comentar a aparição do ermitão líder dos Guns ‘n’ Roses, que deixou a escuridão da caverna onde grava o eternamente adiado "Chinese Democracy" para dividir os microfones com Bach, talvez como prova de uma amizade surgida na última turnê da banda de Rose, que contou com a abertura de Bach. Os dois já tinham feito duetos ao vivo em "My Michelle", e a parceria funciona novamente – em especial na quase-Guns "(Love) is a Bitchslap", canção pesada e ao mesmo tempo grudenta, uma das melhores do ano passado e melhor até do que grande parte do material recente da banda de Axl que andou caindo na internet. "Stuck Inside" é um tanto mais melódica e sutil, mas também funciona bem. E o cover para "Back In The Saddle", do Aerosmith, cujo título é sintomático sobre a própria carreira de Bach, tem peso, personalidade e, ao mesmo tempo, um profundo respeito pela interpretação original de Steven Tyler, nítida inspiração para ambos os vocalistas.
Sebastian Bach sempre esteve entre os meus vocalistas de hard rock/heavy metal favoritos. Mas estava há muito devendo um disco solo mais coeso do que "Bring ‘Em Bach Alive", objetivo atingido com precisão neste "Angel Down". É uma bolacha que mostra um caminho nítido e cristalino a ser seguido pelo cantor no horizonte musical. Basta apenas continuar caminhando.
Line-up:
Sebastian Bach - Vocal
"Metal Mike" Chlasciak - Guitarra
Johnny Chromatic - Guitarra
Steve DiGiorgio - Baixo
Bobby Jarzombek - Bateria
Tracklist:
1. Angel Down
2. You Don't Understand
3. Back In The Saddle (feat. Axl Rose)
4. (Love Is) A Bitchslap (feat.Axl Rose)
5. Stuck Inside (feat.Axl Rose)
6. American Metalhead
7. Negative Light
8. Live & Die
9. By Your Side
10. Our Love Is A Lie
11. Take You Down With Me
12. Stabbin' Daggers
13. You Bring Me Down
14. Falling Into You
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