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Resenha - Focus 9 | New Skin - Focus

Por Rodrigo Werneck
Postado em 19 de novembro de 2006

Nota: 9 starstarstarstarstarstarstarstarstar

Depois do seu retorno no início de 2002, a lendária banda holandesa de rock progressivo Focus vem mantendo uma agenda bem cheia de atividades, que inclui turnês por várias partes do globo e o lançamento de CDs e DVDs. Acaba de sair o novo disco de estúdio do grupo, "Focus 9 / New Skin", mantendo vários ingredientes do clássico som da banda.

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Quando de seu retorno em 2002, uma renovada formação foi criada em torno do líder, vocalista, flautista e tecladista Thijs van Leer, e que incluía o guitarrista Jan Dumée, o baixista Bobby Jacobs (enteado de Thijs) e o baterista Bert Smaak. Com essa formação, lançaram o excelente disco "Focus 8" (2002), com explícitas referências aos seus mais clássicos discos dos anos 70. Inclusive, estiveram no Brasil em duas oportunidades com essa lineup, ainda em 2002 (no Rio ArtRock Festival e em shows isolados em algumas outras cidades), e novamente em 2003. Nessa primeira passagem, o show de Belo Horizonte foi gravado e tal registro posteriormente lançado (em 2004) em CD no México (!), denominado descompromissadamente de "Live In South America". Um detalhe interessante foi que no meio de vários clássicos, como "Hocus Pocus", "Sylvia", "Focus II", "Harem Scarem", "Focus III", "House Of The King" e "Eruption", estava a inédita "Focus VII", que nunca havia sido registrada em disco.

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O Focus retornou ao Brasil em 2005 para se apresentar no Rock In Concert Brazil Festival (e alguns shows extras), já apresentando uma importante mudança na formação: o baterista Bert Smaak saiu e foi substituído por ninguém menos que Pierre van der Linden, que tocou nos discos mais representativos da banda, ainda nos anos 70. Essa mudança se fez notável nos arranjos das músicas ao vivo, com muito mais improviso e "swing", pela dinâmica diferenciada que Pierre é capaz de impor.

Algum tempo após, já em 2006, o guitarrista Jan Dumée, considerado por muitos (eu incluído) um perfeito substituto para o guitarrista original, Jan Akkerman, foi tirado da banda por Thijs, por motivos não anunciados (conta-se que Jan começou a aparecer demais nos shows, tirando a atenção dos holofotes de Thijs). Em seu lugar, entrou em julho desse ano o jovem e talentoso Niels van der Steenhoven, dono de uma já prolífica carreira musical. Já Jan rapidamente se mexeu e formou a nova banda On The Rocks juntamente ao vocalista inglês John Lawton (ex-Uriah Heep e Lucifer’s Friend) e a músicos brasileiros.

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Agora, com essa mesma formação, lançam seu novo disco, denominado sugestivamente de "New Skin" ("nova pele"), mas mantendo a referência de "Focus 9" no título. Na comparação com o CD anterior, "Focus 8", alguns detalhes saltam aos olhos logo numa primeira audição. Se antes as composições eram divididas entre Van Leer e Dumée, elas estão agora praticamente todas a cargo de Thijs. Isso fez com que algumas músicas excelentes estivessem ao lado de outras menos inspiradas, o que não havia ocorrido no disco anterior, pois com 2 compositores de mão cheia, fica obviamente mais fácil de se selecionar um repertório de altíssimo nível. Numa comparação direta, na minha opinião o novo guitarrista perde para Dumée, pois carece de maior personalidade musical, e imprime uma menor dinâmica às músicas, com uma "pegada" menos firme. Mesmo assim, não resta dúvida de que foi uma boa escolha e que se adaptou bem ao estilo do grupo. Como pontos positivos, Thijs está mais solto nesse novo disco, e isso se mostra de forma clara quando toca o órgão Hammond B3, uma de suas marcas registradas, e aqui presente de forma magistral e menos contida que no CD anterior. Outra grande melhoria foi a entrada de Van der Linden, conforme mencionado anteriormente, pois seu estilo com altas doses de jazz de fato enriquece várias passagens.

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Dentre os destaques no disco, estão as faixas de abertura "Black Beauty", um remake de uma música do primeiro disco do Focus, lá cantada e aqui instrumental (com a melodia vocal sendo substituída pela guitarra de Niels), e "Focus 7", finalmente em versão de estúdio (embora não tão boa quanto a versão ao vivo lançada em 2004). Seguindo a linha de "Hocus Pocus", "Harem Scarem" e "Hurkey Turkey" está "Hurkey Turkey 2", mais pesada e incluindo um fragmento de Mozart no meio, no qual Thijs van Leer toca piano e acompanha com uma espécie de "vocalize alucinado", seguido por um solo visceral de guitarra de Niels. A faixa "Sylvia’s Stepson – Ubatuba" é a única contribuição isolada de Bobby Jacobs, e por sinal excelente. O título vem de uma referência ao próprio Bobby ("stepson" significa enteado, e ele fez uma breve viagem a Ubatuba numa das passagens do Focus pelo país, o que pelo jeito o marcou). Outra contribuição sua é numa co-autoria com Thijs, a música "Aya-Yuppie-Hippie-Yee", onde quem mais se destaca é Pierre, com rápidas e criativas viradas de bateria, assim como a flauta solfejada de Thijs. Niels contribuiu com uma composição sua, batizada de "Niels’ Skin" num trocadilho juntando seu nome ao do CD, e que mostra um pouco de seu estilo próprio, um fusion no qual tanto ele quanto Thijs podem brilhar bastante na hora de seus respectivos solos.

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A balada "Just Like Eddy" é um dos únicos momento não instrumentais do disco, e para cantá-la foi chamado o vocalista convidado Jo De Roeck. Na minha opinião, uma faixa totalmente dispensável e deslocada no meio do disco, certamente uma tentativa de se criar um hit comercial, talvez imposição da gravadora Red Bullet Records, com quem assinaram recentemente, e que é também dona do catálogo clássico do conjunto. De volta ao melhor do Focus, as instrumentais, está "Focus 9", mais uma composição de Thijs fazendo referência ao nome do grupo. Mais acústica que a maioria das precursoras de sua linha sucessória, trata-se de uma bela faixa levada no violão e piano, baixo e bateria.

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"Curtain Call" mantém o pique e chega a incluir harmonias que nos remetem à música instrumental brasileira, talvez fruto de tantas passagens recentes pela Terra Brasilis. "Ode To Venus" é tipicamente uma faixa que teria ficado de fora caso Jan Dumée ainda estivesse no grupo (e tivesse contribuído com uma série de composições suas). Não que seja ruim, muito pelo contrário, mas não mostra nada de novo e é basicamente o Focus se reciclando. "European Rap(sody)" é uma longa faixa de mais de 10 minutos de duração, que passa por diversos estilos. Seu início nos remete aos saudosos tempos do disco "Hamburger Concerto" (de 1974), com referências "classicosas", sendo seguido por uma seção mais renascentista, levada de forma majestosa na flauta por Thijs, e retornando ao estilo clássico. A surpresa maior aparece, porém, lá pelos 5 minutos e meio de duração, quando uma reviravolta sonora ocorre e emerge um Focus totalmente renovado, modernoso, com marcação marcial e Thijs cantarolando passagens com sua grave voz num estilo quase gutural, onde um ouvinte mais atento irá reparar que são mencionados títulos de várias músicas do Focus, de todas as fases. Irá certamente fazer a festa dos fãs nos shows. "Pim" é outro "filler", ou seja, uma faixa razoável, mas nada além disso. Será uma referência ao controverso político holandês Pim Fortuijn, assassinado em 2002, ou ao ex-manager da banda Willem Hubers? Pim é um apelido comumente usado para indivíduos com o nome Willem, na Holanda. Fechando o disco está "It Takes 2 2 Tango", uma típica balada instrumental do Focus, de belas melodias como somente Thijs van Leer é capaz de compor, pungentes ao extremo. Uma última surpresa ocorre aos 5 minutos de música, quando ela muda abruptamente seu andamento para se transformar numa espécie de tango. Coisas que só o Focus sabe fazer com maestria...

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Resumindo, trata-se de um excelente disco, 4 anos após o lançamento anterior, e que mostra que o Focus ainda tem muito a nos oferecer. Por sinal, a banda planeja retornar ao Brasil para mais uma turnê em 2007, logo fiquem de dedos cruzados e, caso eles venham, não percam os shows, pois são experiências inesquecíveis (a banda é realmente única no palco!).

Tracklist:

1. Black Beauty
2. Focus 7
3. Hurkey Turkey 2
4. Sylvia’s Stepson - Ubatuba
5. Niels’ Skin
6. Just Like Eddy
7. Aya-Yuppie-Hippie-Yee
8. Focus 9
9. Curtain Call
10. Ode To Venus
11. European Rap(sody)
12. Pim
13. It Takes 2 2 Tango

Site: http://www.focustheband.com

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Sobre Rodrigo Werneck

Carioca nascido em 1969, engenheiro por formação e empresário do ramo musical por opção, sendo sócio da D'Alegria Custom Made (www.dalegria.com). Foi co-editor da extinta revista Musical Box e atualmente é co-editor do site Just About Music (JAM), além de colaborar eventualmente com as revistas Rock Brigade e Poeira Zine (Brasil), Times! (Alemanha) e InRock (Rússia), além dos sites Whiplash! e Rock Progressivo Brasil (RPB). Webmaster dos sites oficiais do Uriah Heep e Ken Hensley, o que lhe garante um bocado de trabalho sem remuneração, mais a possibilidade de receber alguns CDs por mês e a certeza de receber toneladas de e-mails por dia.
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